Atualmente, nosso país vive um dos momentos mais marcantes da História da música eletrônica. Temos em casa um dos maiores festivais do mundo, o Tomorrowland – graças ao esforço de DJs brasileiros que conquistaram seu espaço na cena eletrônica mundial, com destaque para o boom do Deep House e o então novo estilo G-House, que se uniram ao Techno e ao Minimal. Não fomos simplesmente “colonizados” por alguém que chegou aqui e impôs o estilo que cada um seguiria. Criamos o nosso.
Temos monstros que arrastam multidões como Victor Ruiz, Alok, Renato Ratier, Vintage Culture, Groove Delight, entre outros, que representam o atual underground brasileiro. O que muito me entristece é o fato de que nem todos os artistas mundiais nos enxergam com o louvor que merecemos e conquistamos através do árduo trabalho. Ontem, infelizmente, esse fato foi explicitado por meio de um tweet grosso e medíocre de um dos idealizadores do estilo G-House, integrante de uma dupla francesa, que faz muito sucesso no Brasil. Aliás, fazia muito sucesso, pois provavelmente perderam uma parte considerável de seus fãs brasileiros por conta dessa atitude. No tweet, o artista diz: “Remix do Alok da minha track Lost= merda. Eu odiei com todo o meu coração. Soou barato e amador”.
Explicando a situação pra vocês que não estão entendendo por*a nenhuma: No final de 2013, a tal dupla francesa fez um remix da versão original da música Lost, do rapper americano Frank Ocean, o que foi o estopim para a ascensão de suas carreiras. A fama veio, incontestavelmente, logo após o lançamento dessa track, que acabou contribuindo também para a popularidade da original. Quando toca nas festinhas é tipo comoção nacional, principalmente entre as meninas (tipo eu, assumo). Além disso, a dupla criou uma label, que também é extremamente renomada no meio. Em entrevista, disseram que “99% das músicas são lixo, o outro 1% está na label” (meio arrogante, não? Mas beleza).
Os DJs Alok e Gabe, referências na cena Low BPM brasileira, fizeram um bootleg da versão original da Lost no final de 2014. E essa versão leva a galera ao delírio sempre que toca nas festinhas, tendo sido muito mais bem recebida por aqui do que a track original da dupla francesa.
https://soundcloud.com/junioor-meister/amine-edge-dance-lost-alok-gabe-bootleg
Bom, começando com as contestações: em primeiro lugar, a track não é da dupla (eles apenas remixaram-na), e sim do rapper americano Frank Ocean. Em segundo lugar, Alok e Gabe fizeram um bootleg (que é algo como um “remix ilegal”. Tem esse nome apenas porque não possui direitos autorais, impedindo que os autores tenham qualquer retorno financeiro com a faixa), e não um remix (que é uma versão “melhorada” da música original, onde o artista envia os arquivos de áudio e MIDI para que os outros refaçam a sua música com toques pessoais), descrito por Gabe em seu Facebook como uma “brincadeira feita especialmente para a Tribaltech”. Concluindo, nada muito sério, feito na pura zoeira mesmo pelos caras, aparentemente diferente do remix feito pela dupla francesa (só que não e vocês entenderão o porquê).
A situação toda veio à tona após o upload de um vídeo na página do Facebook do Alok, onde o próprio conta que está muito chateado com o ocorrido. Em pouco menos de 4 minutos, Alok “produz” o remix feito pela dupla no Reactor, mostrando “a dificuldade” que tiveram em fazê-lo (risos). Usando kicks e delays prontos, já existentes no programa, vê-se claramente que o remix foi facilmente montado, sem precisar de técnica ou domínio do assunto, como explica o próprio Alok. Ficou feio pros caras, hein?
Como se não bastasse, algumas horas depois, o produtor e DJ brasileiro FlexB, conhecido pela música Baby I’m a Boss, lançada em meados de 2014, soltou mais uma bomba pra cima de um dos caras da dupla (o mesmo do ocorrido com Alok). Sua track é um sucesso e foi remixada por vários gigantes da cena brasileira, por isso queria fazer um EP Remixes dela. Porém, como a original foi lançada na label da dupla francesa, os remixes precisavam passar pela aprovação do tal cara. E o que ele fez? Proibiu o lançamento do EP e ainda disse que todos os remixes eram um lixo. FlexB, que ficou irado com a situação, decidiu então criar uma label e lançar seu EP com remixes da Baby I’m a Boss por meio dela. Através de um post no Facebook, jogou tudo no ventilador, com um print da conversa do cara da dupla falando com ele pelo Whatsapp dizendo o seguinte: “então você quer me fod*r? Eu te faço famoso através da minha label com a sua música dahora e agora você faz merda com ela. Se você soltar esse EP, eu vou arruinar a sua vida, vai por mim. Eu sou uma ótima pessoa, mas se você fod*r comigo, eu vou fod*r contigo de volta”. Que bravo, não? Brincadeiras à parte, uma pu*a falta de educação e de respeito desse cara aí.
Uma opinião pessoal: eu sou fã dos caras. Fãzona, eles largaram o palco da XXX do ano passado pra me abraçar e trocar ideia comigo porque eu estava chorando. Em êxtase. Tenho a letra da Lost tatuada no braço. Então, me dói muito ver a atitude que eles tomaram diante dos profissionais do meu país, além da forma como se referiram a eles.
Mas nem tudo está perdido! Tinha esperanças de que a dupla ia se pronunciar, e isso aconteceu agora há pouco pelo Facebook. Pediram desculpas pela ofensa feita aos brasileiros, e disseram que de maneira alguma menosprezariam os artistas brasileiros, ainda mais do G-House, tendo em vista que o Brasil é o maior amante dessa vertente no mundo. Achei um textinho meio blábláblá, mas que justificou a atitude tomada. Bom, pelo menos se desculparam. Disseram que são humanos, que amam e que erram, e que estão arrependidos. Além do mais, disseram que suas respostas à entrevista que mencionei foram distorcidas e dão a correta interpretação das mesmas no post. Mas, sobre o caso com o FlexB, não se pronunciaram, o que ainda soa muito estranho.
Já Alok parece não ter achado a declaração de um dos integrantes da dupla muito sincera, e postou mais um vídeo em seu Facebook dando a sua opinião sobre o desenrolar dessa novela. Clique aqui para assistir!
O mais interessante de tudo é que sábado agora, Alok, Gabe e a dupla francesa se apresentam no UP Club em Itatiba, festa realizada em um dos palcos do Universo Paralello, que rola no final desse ano na Bahia. E o melhor, um toca seguido do outro. IT’S SHOW TIMEEEEE! No aguardo de cenas dos próximos capítulos.