Como o Tomorrowland emergiu de um evento local para uma referência do futuro dos festivais
- Por Caio Pamponét -
O Tomorrowland, muitas vezes apelidado de “Disney da música eletrônica”, ascendeu e ganhou notoriedade global na indústria musical em meados de 2010; hoje, o festival já é consagrado um dos maiores eventos do mundo. Quando a palavra “Tomorrowland” surge, você logo pensa em line-ups de brilhar os olhos e apresentações em palcos impressionantes com temáticas super detalhadas e imersivas. Esses detalhes, que já seguem um padrão consistente de qualidade, transformam a festa em uma experiência única e inesquecível a cada nova edição. É até difícil de imaginar esse festival belga sem seus milhares de visitantes e estruturas gigantescas, porém, até mesmo o Tomorrowland partiu de um começo humilde.
Conheça um pouco mais sobre a trajetória desse incrível festival e como ele atingiu um patamar de revolucionar e guiar o futuro dos eventos musicais através da sua edição digital “Around The World”.
O ponto de partida
Tudo se deu início no ano de 2005. É de certeza que ninguém da pequena região interiorana da Bélgica – um município chamado “Boom”, poderia imaginar que este seria um ano que mudaria tudo.
A base icônica do festival sempre foi a mesma: a área de recreação ‘De Schorre’. Apesar de não ser realizado na sua totalidade como nos dias atuais, a primeira edição do Tomorrowland já tinha uma extensão relativamente grande para os eventos da região e seu palco era um pouco menor do que as versões atuais.
Nos primeiros anos de fundação, a realidade que alguns estranham em acreditar é que o evento teve que atrair pessoas com ingressos gratuitos e não contava com os temas anuais diversos que estamos acostumados a ver em suas edições.
Entretanto, o festival desde sempre buscava proporcionar lines com artistas de alto nível para seu público. DJs como Armin van Buuren e David Guetta são figuras marcadas no evento desde sua criação, assim como Ferry Corsten, Coone e outros. Isso prova que mesmo que a qualidade dos palcos não fosse chamativa, a grade de artistas sempre foi um incentivo; isto fez com que 10 mil pessoas se reunissem nesta 1° edição histórica.
O crescimento
Foi em 2007, dois anos após a primeira edição, que o festival presenciou sua primeira mudança que o ajudaria a crescer com força. De repente, eles tinham conseguido expandir seu evento de um para dois dias, atraindo assim a atenção para além do que apenas os visitantes locais, reunindo 20 mil fãs de várias partes da Europa.
Agora, o evento também contava com sua área própria para o camping, local que futuramente se tornaria o desejado ‘Dreamville’.
O festival estava começando a ser levado mais a sério e deixava claro que, apesar do crescimento gradual, se tratava de uma ascensão consistente que influenciava os organizadores a fazer outras mudanças essenciais em um futuro próximo para firmar o seu crescente sucesso.
Que comecem as temáticas!
Em 2009, o Tomorrowland começou a brincar com a ideia de ter temas para seu evento; mal sabiam eles que isso se tornaria a sua especialidade.
Apesar de não ser altamente detalhado e elaborado como nas edições atuais, com o tema de estreia ‘Masker’, era evidente que os organizadores estavam seguros quanto a essa inovação única que traria o festival para a vanguarda do cenário internacional.
Com a presença de 90 mil pessoas e 200 DJs, como Laidback Luke, Yves V e Joris Voorn, esta edição pode ser considerada, sem dúvidas, uma das mais importantes em toda a trajetória do festival.
Despontando no cenário internacional
2010 foi um ano crucial para o Tomorrowland, pois neste ano o evento que todos nós admiramos hoje havia finalmente encontrado seu fundamento e essência para se tornar o maior festival do mundo. Com seu tema ‘Zon’, o festival dava início a uma etapa de nível global, transformando sua estrutura impressionante em algo sólido e consistente. Os Top DJs do mundo das mais variadas vertentes tocavam em dezenas de palcos com temas diferentes, enquanto que o Mainstage se tornava uma paisagem de uma riqueza de detalhes e decorações fascinantes que faziam jus ao apelido de Disney dos “ravers”.
Em 5 anos de criação, o festival havia atingindo um patamar inacreditável. Com projetos visionários, qualidade sonora e experiência visuais, essa edição contou com mais de 120 mil pessoas e DJs como Dimitri Vegas & Like Mike, David Guetta, Swedish House Mafia, Armin van Buuren e muitos outros.
O sucesso meteórico do festival transformou, a partir da edição de 2011 (agora com 3 dias), um dos mais procurados eventos do planeta, esgotando seus ingressos quase que instantaneamente. O tema daquele ano, “The Three of Life” – A árvore da vida, foi o primeiro a ganhar vídeo de introdução com a voz do narrador e livro com páginas que viram a cada capítulo, marca registrada da “magia” do festival.
O ápice
Em 2012, com o tema “The Book of Wisdom” – O Livro da Sabedoria, o festival produziu seu aftermovie de maior sucesso até hoje, com mais de 160 milhões de visualizações. Com mais de 400 DJs (entre eles Above & Beyond, Swedish House Mafia, Avicii, Hardwell, Skrillex e Steve Aoki) e mais de 185 mil pessoas de 75 países diferentes, essa edição se tornou uma das mais memoráveis e lendárias para a história da música eletrônica, levando a cena a alcançar níveis nunca antes vistos.
Vendendo ingressos em poucos minutos (ou até segundos), o festival começou a ganhar diversos prêmios a partir daquele ano, sendo coroado por diversas fontes o “Melhor Festival do Mundo”.
A repercussão global e suas consequências
Com seu sucesso se expandindo para a Internet, o Tomorrowland começou a ganhar centenas de milhares de seguidores em suas redes sociais e se tornou um grande potencial para atrair uma nova onda de jovens e adultos para a música eletrônica. Era algo que realmente surpreendia pela qualidade e só acrescentava mais ao apelo de querer estar presente. Com sua grande demanda sem precedentes, um fim de semana já não dava conta do que o evento havia se tornando, fazendo com que, a partir de 2017, o festival fosse sediado em dois finais de semana.
Sendo fonte de inspiração para outros festivais, muitos documentários começaram a surgir sobre a história e cultura do Tomorrowland, que atualmente faz parte do time de maiores do mundo juntamente com o Coachella, Ultra, Lollapalooza e outros e reúne quase 400.000 participantes anuais.
A história não para de ser escrita
Em meio a todo esse histórico revolucionário, o Tomorrowland não perdeu tempo para moldar o futuro dos festivais de música mais uma vez. Após ter seu evento presencial cancelado pela pandemia de coronavírus, os organizadores decidiram aderir as plataformas digitais para não deixar passar em branco o contato com os fãs.
A equipe do festival começou logo no início da quarentena global a oferecer transmissões semanais ao vivo intituladas ‘United Through Music’, que cresceu para atrair mais de 25 milhões de espectadores e dar um “esquenta” para a edição surpresa deste ano.
Com o evento virtual ocorrido neste final de semana, o ‘Tomorrowland – Around The World’ foi apresentado em uma forma completamente diferente que convidou o público a experienciar o festival de maneira inteiramente nova através de um mapa em 3D. Com o tema “The Reflection of Love” – O Reflexo do Amor, o evento digital de dois dias elevou o formato tradicional de Lives musicais para um formato inovador de entretenimento visual, combinando tecnologias de vídeo ultra moderna em um ambiente semelhante a uma fábula com experiências diversificadas, como jogos, webinars, workshops e interações surpresa focadas em moda, comida, estilo de vida e em toda a essência do Tomorrowland.
Normalmente aberto apenas a adultos a partir dos 18 anos, o festival desta vez pôde receber fãs de todas as idades, possibilitando que uma geração mais jovem, assim como suas famílias e os fãs de jogos e animação, pudesse curtir esta nova experiência.
Com uma line dos sonhos pra qualquer fã de música eletrônica, reunindo os maiores DJs da cena mundial, a simulação do evento ao vivo também permitiu que os participantes se aventurassem através dos palcos ‘Atmosphere’, ‘Core’, ‘Freedom’ e ‘Elixir’, que são figuras carimbadas do evento; além de 3 novos palcos projetados pela equipe criativa do Tomorrowland, incluindo o próprio Mainstage.
Em entrevista exclusiva ao Play BPM, que você pode conferir aqui, a porta-voz do Tomorrowland Debby Wilmsem afirmou: “Criamos uma plataforma digital e um ambiente em que podemos produzir um festival online sem restrições e cheio de interação. Podemos enxergar esse formato tornando-se uma realidade para nós (…) O futuro chegou e se pudermos atingir mais “People of Tomorrow”, estaremos felizes. O que começamos juntos em 2005 se tornou um forte símbolo global. Triunfaremos juntos e continuaremos a nos unir.”
Para quem iniciou sua trajetória com baixa presença de público e tendo que distribuir ingressos gratuitamente, parece que a construção de toda essa história foi muito mais bela do que qualquer um pudesse imaginar. O Tomorrowland hoje é muito mais do que apenas um festival, é um ambiente que vai além da música: envolve amor e união entre os povos, é uma experiência única que todos os fãs de música deveriam ter (pelo menos) uma vez na vida.
Sobre o autor
Caio Pamponét
Graduando em jornalismo pela UFBA e Redator da Play BPM. Um apaixonado por música desde a infância que cultiva o sonho de viajar pelo mundo fazendo o que ama e conhecendo novas culturas. Com um desejo inerente de fomentar a cena eletrônica de sua terra - Salvador, BA, Caio Pamponét respira os mais diversos BPM's e faz da música o seu combustível diário.