Pesquisa revela que 85% dos artistas já sofreram ou testemunharam algum caso de discriminação na indústria musical
- Conteúdo autoral / por Caio Pamponét -
O Sindicado dos Músicos e a Black Lives in Music (BLiM), duas organizações britânicas da indústria musical, realizaram uma pesquisa com mais de 6 mil músicos sobre discriminação racial.
Os dados do relatório foram impactantes: 85% dos artistas entrevistados relataram ter testemunhado ou sofrido algum tipo de discriminação étnica, principalmente entre negros e asiáticos.
Intitulado “Global Majority Report”, o estudo soma mais de 30 páginas e detalha com gráficos, referências e relatos que o mercado musical convive com uma forte segregação racial.
Dentre os resultados que mais chamaram atenção estão:
- A diferença salarial por etnia é de quase 1.000 libras (cerca de 6 mil reais);
- 81% das pessoas foram vítimas de racismo e afirmaram ter sentido um impacto significativo no progresso de suas carreiras
- 1/3 dos entrevistados disseram ter uma saúde mental prejudicada
- 26% dos artistas afirmaram ter uma saúde física degradada pela carreira
Outro elemento notável é que a maioria dos artistas brancos obtiveram mais qualificações musicais e mais oportunidades dentro da indústria, conquistando um espaço maior que outras etnias.
Além destas revelações, o relatório também demonstrou como a vida artística é um caminho de difícil sustento. Metade dos participantes declararam que a indústria musical não tem um rendimento sustentável, sendo que 35% admitiu não conseguir se sustentar por conta própria apenas como músicos, com 24% estando endividados.
Com estes resultados, as organizações envolvidas apelam para que o governo do Reino Unido reaja para combater o racismo e a discriminação no mercado musical, criando uma “cultura de verdadeira equidade e inclusão”.
"Ninguém deve ser obrigado a trabalhar em ambientes em que seja objeto de racismo, de salários mais baixos ou em que lhe seja negada a progressão na carreira devido à sua etnia. (...) Este relatório confirma ainda mais este facto e nos mostra que o racismo e a discriminação existem em todos os cantos da indústria musical. Não se trata de experiências únicas ou isoladas; as informações que os músicos partilharam conosco revelam problemas sistêmicos na indústria musical que não podem ser ignorados"
Declarou Naomi Pohl, Secretária-Geral do Sindicato dos Músicos do Reino UnidoFato é que o mercado musical ainda caminha a passos lentos para se distanciar da desigualdade de gênero e raça. Há um longo trajeto para que o ecossistema da música atinja uma igualdade evidente, por mais que a contribuição histórica de mulheres e negros seja indiscutivelmente essencial para a evolução da indústria em geral.
É interessante observar movimentos como este do Reino Unido para abordar um tema tão complexo e profundo de forma acessível e com um objetivo claro – transformar o mercado musical em algo para todos.
Imagem de capa: Reprodução.
Sobre o autor
Caio Pamponét
Graduando em jornalismo pela UFBA e Redator da Play BPM. Um apaixonado por música desde a infância que cultiva o sonho de viajar pelo mundo fazendo o que ama e conhecendo novas culturas. Com um desejo inerente de fomentar a cena eletrônica de sua terra - Salvador, BA, Caio Pamponét respira os mais diversos BPM's e faz da música o seu combustível diário.