Ministério Público fecha serviços de "fake streams", de acordo com o portal G1
Uma das métricas mais importantes no mundo da música atual é o número de plays que cada artista consegue em suas músicas, já que essa é uma das formas de medir sucesso e gerar receita para os profissionais da área. Não à toa, existem playlists com as tracks mais bombadas do momento, e DJs, produtores, cantores e bandas fazem de tudo para aumentar seu engajamento, desde o pre-save, como abordamos recentemente, até a campanha de lançamento das músicas e o acompanhamento após esse momento.
No entanto, nem tudo na internet são flores e a prática de falsificação desse tipo de dado está cada vez mais presente em todas as redes sociais. Comprar cliques, seguidores e, neste caso, streams, é mais comum do que a gente pensa. Assim, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) criou a primeira ação brasileira a tratar essa prática como crime, gerando uma ação que levou ao fechamento de diversas empresas que ofereciam esse serviço, de acordo com reportagem no G1 elaborada por Rodrigo Ortega.
O streaming é responsável por 85% da renda da indústria musical no mundo e é peça-chave na carreira desses profissionais, e quando um músico compra “plays” falsos, ganha direitos autorais e faz cair o pagamento e a visibilidade de outros que o fazem. Além disso, os sites que prestam esse tipo de serviço usam robôs que não condizem com a realidade de um ser humano real e as plataformas muitas vezes ficam de mãos atadas por não conseguirem pegar a fraude. Por isso, a Associação Protetora dos Direitos Intelectuais e Fonográficos (Abdif) abriu a queixa-crime no MP no final de 2020.
Como resposta, o Ministério tipificou a ação como crime de estelionato e como violação do Código de Defesa do Consumidor (CDC) para abrir um inquérito, localizando e interrogando os responsáveis por 18 sites próprios e mais 17 pessoas que vendiam “fake streams” através de sites de varejo online. Ao serem contatados, todos fecharam acordos com o MP para tirar o site do ar ou fechar a parte de venda de “fake streams”. A ação, nomeada “Operação Antidoping”, continua em atividade e está longe de acabar, uma vez que ainda é possível encontrar esse tipo de serviço sendo oferecido na internet.
O problema é que o buraco é mais fundo, visto que o berço desse serviço de impulsionamento está localizado no Leste Europeu, mais especificamente na Rússia. “Todos estes serviços do Brasil são espelhos de uma plataforma que está hospedada na Rússia. Ali você encontra impulsionamento para tudo: Facebook, Instagram, Twitter, conteúdos de notícias, de política e de personalidades”, diz ao G1 Paulo Rosa, presidente da Pró-Música, associação das gravadoras no Brasil, que participou da formulação da queixa-crime com a Apdif.
De acordo com Paulo Rosa, "A venda de plays é uma coisa que distorce tudo: a remuneração, a percepção que o público tem do que está fazendo sucesso. É uma das prioridades do setor combater esse tipo de prática no mundo inteiro". Levando isso em consideração, as plataformas, gravadoras multinacionais e independentes, editores de música, organizações que representam artistas e autores formaram uma coalização para combater essa prática, o que também acontece em outros países, como é o caso da Alemanha, que recentemente anunciou o fechamento de oito sites de “fake streams”.
Mas como o algoritmo funciona? Quando uma música é lançada e manipulada, o sistema das plataformas entende que ela está sendo bem recebida pelos ouvintes de verdade e acaba dando mais destaque para essas faixas, prejudicando, principalmente, o músico novo que faz tudo corretamente e não ganha tanta importância.
Sendo uma prática extremamente prejudicial ao mercado, a operação do Ministério Público não somente é positiva, como necessária, uma vez que teve um impacto real nos “fake streams”. Essa batalha, no entanto, está longe de acabar, considerando que “existem mais de 150 operadores de impulsionamento fraudulento de conteúdo no Brasil hoje, abertamente”, como afirma o advogado e coordenador da Apdif, Paulo Batimarchi.
Ao G1, as plataformas de streaming Google e Spotify deram declarações a respeito do que pensam sobre o tema. “A contagem de views é incrivelmente importante para nós no YouTube. Nós tomamos ações contra views gerados de maneiras que não seguem nossas regras, incluindo tentativas de terceiros de inflar artificialmente a contagem.", declara o Google.
“Nós levamos a atividade de streaming fraudulento extremamente a sério. O Spotify possui várias ferramentas de detecção de fraude monitorando o consumo no serviço para detectar, investigar e lidar com atividades fraudulentas. Continuamos a investir pesadamente nos processos de refinação e na melhora dos métodos de detecção e remoção, para continuarmos reduzindo o impacto dessa atividade nos criadores de conteúdo e detentores de direitos legítimos.”, afirma o Spotify.
Para nós, que vemos de perto o esforço de artistas para ganhar seus espaços na cena, repudiamos quaisquer atitudes que, de forma não orgânica, prejudicam não somente DJs e produtores, mas todos os profissionais envolvidos no meio. Em um mundo em que cliques, curtidas e plays estão acima de muitos outros indicadores, fortes são aqueles que resistem e atingem o sucesso de forma correta, sem prejudicar os outros e a si mesmos.
Confira a reportagem completa de Rodrigo Ortega (G1) clicando aqui.
Sobre o autor
Cissa Gayoso
Sendo fruto do encontro de uma violinista com um violonista, a música me guia desde sempre e nela encontrei a família que escolhi para chamar de minha. A partir de 2021, transformei minha paixão em profissão e, desde então, vivo imersa nas oportunidades e vivências que este universo surpreendente da arte me entrega a cada momento! De social media à editora-chefe da Play BPM, as várias facetas do meu ser estão em constante mudança, mas com algumas essências imutáveis: a minha alma que ama sorrir, a paixão por música, pela arte da comunicação, e as conexões da vida que fazem tudo valer a pena! 🚀🌈🍍