Por Ágatha Prado.
“Sou cria do Rio e mexo com essa coisa de música desde garota”. Essas são as palavras da própria Mary Olivetti ao se apresentar para um público que, por ventura, possa estar vindo a conhecê-la somente agora.
Carismática no sorriso e na forma de se expressar profundamente através da linguagem musical, Mary se permite transitar entre o passado, presente e o futuro das riquezas musicais que o Brasil — e sobretudo a sonoridade que a cidade maravilhosa — tem a oferecer.
Essa maestria que Mary carrega consigo tanto em suas profundas seleções musicais, bem como em seu precioso trabalho dentro de estúdio, tem influência no DNA que ela traz em suas veias. Em seu sobrenome ela carrega o sangue de seu pai, um dos maiores arranjadores da história da música brasileira, Lincoln Olivetti. Ele que produziu centenas de discos que marcaram a geração musical 70’ e 80’ no Brasil até a contemporaneidade, passando por trabalhos de artistas como Rita Lee, Elba Ramalho, Gal Costa, Gilberto Gil, Jorge Ben, Lulu Santos, Roberto Carlos, Sandra de Sá, Tim Maia, eternizou seu legado na musicalidade brasileira como o verdadeiro “Mago do Pop”.
Não à toa, Mary mexe “com essa coisa de música desde garota”. Seguindo a genialidade do pai e preservando o gosto pelo gingado carioca, ela mergulhou no universo da discotecagem já há alguns anos quando a representação feminina nos decks ainda era escassa. Com assinatura que levava as nuances da música orgânica com inclinação para as atmosferas do House e Deep House, Mary foi construindo sua identidade ao longo dos anos, mas foi nessa pandemia que ela intensificou seu trabalho dentro de estúdio, se consolidando como uma produtora musical de mão cheia.
Então vieram os lançamentos, entre remixes e collabs, Mary apresentou um remix para faixa “Xangô” de Fábio Santanna levando ao catálogo da Me Gusta Records, uma atmosfera envolta no Organic House. Na sequência, veio uma fascinante versão para a faixa “Cor de Rosa Choque”, canção icônica de Rita Lee que Mary trouxe para as esferas de dança e que foi merecidamente elogiada pela própria autora original, ao ser lançada no disco Rita Lee & Roberto – Classix Remixes.
Agora, Mary apresenta uma das mais belas homenagens já feitas à memória musical de seu pai. Resgatando a gravação original de um dos primeiros sucessos de Lincoln Olivetti, “Black Coco”, Mary trouxe para a faixa o toque contemporâneo ao Boogie setentista. Ao lado da carioca Mahmundi, que contribui para a doçura dos vocais da faixa, a produtora contou com participação de Paulinho Guitarra, Daniel Mansur (baixo elétrico), Rodrigo Tavares (Rhodes, Hammond e Moog) e Henrique Rocha (percussão) para abrilhantar a nova versão de “Black Coco”, que acaba de sair pelo catálogo da Cocada Music.
Da preservação do legado musical de seu pai ao desbravamento de influências musicais contemporâneas, Mary Olivetti é uma das pérolas do cenário brasileiro. Fiquemos no aguardo por mais novidades que virão por aí, pelas mãos da carioca.