- Por Caio Pamponét -
Em um ano comum, o mês de maio já inicia o preparo para a temporada super agitada do verão europeu na calorosa e desejada Ibiza. Turistas e profissionais da indústria musical já se fazem presentes na ilha; clubes começam a abrir; cruzeiros começam a chegar no porto e as mesas de restaurantes começam a ficar bastante disputadas. Porém, estamos em 2020, que, com certeza, já é o ano mais inesperado e impactante para o mundo todo.
A “Ilha Branca”, como é chamada, assim como o resto do mundo, também não foi poupada dos prejuízos severos causados pela pandemia da Covid-19. Sem turistas desde março, época em que o país estava em estado de emergência, só agora a vida dos espanhóis está lentamente retornando ao normal.
Passado o pior, mesmo com a Espanha tendo atingido o quinto maior número de óbitos no mundo, as Ilhas Baleares – localização de Ibiza – escaparam destes números. Após um total de 169 casos e 12 mortes registradas, a situação aparentemente ficou sob controle e, como muitas outras regiões da Espanha, as ilhas passaram para a fase dois do plano de relaxamento gradual, possibilitando que os residentes pudessem finalmente voltar ao mar.
Apesar deste progresso, Ibiza irá enfrentar um verão completamente diferente de qualquer outro dos seus 60 anos de história como um dos epicentros internacionais do turismo. As restrições para as reuniões sociais e viagens internacionais revelam que o coração da ilha, o turismo, irá sofrer um tremendo impacto, no mínimo, até 2021.
A famosa indústria noturna da ilha, que equivale a cerca de 770 millhões de euros e 35% dos empregos, funcionará com restrições de capacidade e, alguns clubes de grande proporção, como o Hï e Ushuaïa, possivelmente serão impossibilitados de abrir durante todo o verão europeu – período que se inicia em 21 de junho e finaliza em 20 de setembro. Com o intuito de prolongar a temporada de verão até o mês de novembro, alguns empresários já estão se movimentando com campanhas para evitar um prejuízo ainda maior.
As ilhas Baleares entraram na terceira fase no dia 10 de junho, permitindo que alguns locais reabrissem, mas com apenas um terço da sua capacidade. Entretanto, todos os locais de eventos ainda estão parados e aguardam uma nova direção do governo em relação à capacidade e distanciamento social quando Ibiza entrar em sua fase final, “a nova normal”, no dia 22 de junho.
Recentemente, o presidente das Ilhas informou que Ibiza começaria a receber turistas a partir de julho e que os clubes e estabelecimentos já poderiam se preparar para reabrir suas portas dentro de pouco tempo. Além disso, algumas empresas aéreas espanholas já confirmaram voos do Reino Unido e da Alemanha. Notícias como essas trouxeram uma esperança para a indústria do entretenimento da ilha, contudo, o futuro é uma incógnita. Será mesmo que as pessoas irão? E qual cenário de festas eles irão encontrar?
É evidente que os locais ao ar livre de Ibiza terão mais chance de sediar eventos, e, de certa forma, a cena local irá se fortalecer. Com toda essa incerteza, muitos DJs e promotores residentes da ilha devem ser apresentados a uma oportunidade inédita: fazer festas sem ter que competir com os maiores nomes da Dance Music, situação oferecida apenas em baixa temporada.
Em terras onde é comum encontrar astros internacionais recheando as lines e posters de diversas festas, iniciativas vêm surgindo com o objetivo de reiniciar, de forma responsável, a indústria da música ao vivo utilizando apenas talentos locais. Eventos organizados por promotores residentes já estão por vir, colocando à tona a importância de se ter uma cena local unida, harmônica e prestativa.
Toda essa discussão se faz necessária ultimamente porque Ibiza é, sem dúvidas, uma das cenas noturnas mais comerciais e competitivas do mundo. De maio a outubro, cerca de uma dúzia de locais realizam festas sete noites por semana, trazendo os maiores artistas da cena eletrônica e atraindo milhares de turistas. Basicamente tudo se valoriza astronomicamente – ingressos, bebidas, hospedagem – e os que dominam esse cenário são, inevitavelmente, os que têm os bolsos mais fundos.
Os residentes da ilustre ilha enfrentam grandes dificuldades nos últimos anos, já que a cena se tornou inteiramente dependente de artistas e promotores internacionais. Enquanto isso, a pequena cena local ‘sobrevive’ e é praticamente erradicada no verão, afastando a ilha de ter uma cultura própria e exclusiva.
Esse é um momento oportuno para que pequenos clubes consigam recuperar a essência e identidade da cena de música eletrônica de Ibiza. Enquanto isso, os locais mais requisitados da ilha, caso reabram, terão que fazer festas pequenas, com entrada barata e preços mais baixos das bebidas; situação já adotada por alguns clubes como o Amnesia, que está vendendo ingressos por 45 euros com cinco bebidas inclusas.
Os efeitos da onda de Covid-19 vão deixar cicatrizes por um longo tempo e a crise financeira já é uma das mais severas da história da Europa. Se nos referirmos à indústria do entretenimento ao vivo, uma das mais impactadas, é de se esperar um pouco mais de consciência e união de todos que fazem parte dessa cena tão importante para nós, dando a oportunidade para artistas locais e diminuindo o preço de ingressos e até mesmo de bebidas. Ah, e claro, artistas internacionais precisam ter a sensatez de reduzir o preço elevadíssimo de seus cachês, se quiserem se reajustar a esse novo mundo pós-pandemia.
Sobre o autor
Caio Pamponét
Graduando em jornalismo pela UFBA e Redator da Play BPM. Um apaixonado por música desde a infância que cultiva o sonho de viajar pelo mundo fazendo o que ama e conhecendo novas culturas. Com um desejo inerente de fomentar a cena eletrônica de sua terra - Salvador, BA, Caio Pamponét respira os mais diversos BPM's e faz da música o seu combustível diário.