Geração Y vs Baladas: o que está faltando nos clubs para atrair os millennials?
Você já deve ter ouvido falar sobre os millennials. O termo relacionado às pessoas nascidas entre os anos 80 e 95 tem aparecido em muitos artigos. A geração Y, como também é conhecida, reúne nascidos numa era de avanços tecnológicos. Muito se comenta por aí como se suas características se resumissem a necessidade de acesso à internet 24 horas por dia – o que está muito errado, por sinal. Foi atribuído a essa geração o fato de trocar a balada por serviços de streaming e redes sociais. Será que isso é verdade?
O Play BPM, então, buscou respostas para essa questão e lançou uma pesquisa online sobre baladas de música eletrônica com o objetivo de (tentar) mensurar a preferência dos fãs da e-music na hora de escolher uma festa. Entre os 402 leitores que responderam o questionário, 11 são do Norte do país, 23 do Nordeste, 32 do Centro-Oeste, 277 do Sudeste e 56 da região Sul, além de pessoas de fora do Brasil – duas de Portugal e uma da Bolívia. Os estados com mais festeiros são: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná.
Quase 7% das pessoas participantes da pesquisa tem entre 12 e 17 anos (algumas das quais utilizam identidade falsa para entrar nas festas). 21% tem de 18 a 20 anos, 38% entre 21 e 25 anos, 18% de 26 a 30 anos, quase 8% entre 31 e 35 anos, 4% tem de 36 a 40 anos e quase 3% das pessoas está acima de 41 anos. A maior quantidade de fãs da música eletrônica tem entre 20 e 24 anos, ou seja, são os famosos millennials.
Antes de tecer observações sobre essa relação, vamos observar as circunstâncias: conforme o aparecimento das boates, ao longo dos anos, o público frequentador das baladas de música eletrônica foi mudando ao decorrer do tempo, o que é natural. A mesma coisa aconteceu com o cenário e o surgimento de novas vertentes que caíram no gosto da maioria. Os espaços onde ocorriam as festas também foram alterados, ao passo que as tecnologias se tornavam mais acessíveis. A era digital e a globalização, gradativamente, tomavam conta da galera que, ao mesmo tempo, se adaptava às transformações culturais. Em meio a tantas mudanças, o público, aos poucos, se tornava mais exigente, pois queria algo além do “mesmo de sempre”. Isso não está diferente na situação atual, porque querer fugir do marasmo e monotonia acontece com qualquer geração.
Podemos considerar que as pessoas, hoje em dia, desistem de ir a uma festa não por preferir Spotify e Netflix, por exemplo; há diversos motivos que mostram a insatisfação do público com o que a balada está oferecendo. Seguindo a linha das características dos millennials, Jason Dorsey, 36, fundador da The Center for Gerational Kinects (consultoria do Texas, Estados Unidos, que analisa essa nova geração para as empresas), explica: “Diferentemente de outras gerações, os millenials esperam que você se aproxime deles sob as próprias condições que eles impõem. Isso pode significar utilizar as redes sociais, as mensagens de texto ou oferecer a eles sistemas eletrônicos de pagamento. A conclusão é que os millennials esperam que você se adapte a eles se quiser fazer negócios. Mas existe algo que definitivamente não funciona: as propostas padronizadas”.
A nossa pesquisa mostrou que a maioria (95,5%) considera a escolha dos DJs e line-up fatores importantes para a decisão de ir a uma festa. O local (38,6%) e a companhia (34,3%) não ficaram de fora, seguidos do quase empate entre valor do ingresso (23,9%) e o conceito da festa (23,4%). Foram citados também, além das opções, a vertente da música, a reputação do evento e a estrutura do palco. Além disso, a preferência das pessoas pelos festivais ficou clara (355 votos), enquanto os clubs receberam 177 votos e as festas itinerantes 111 votos. Entre os períodos – dia, noite, madrugada – para a duração da festa, grande parte prefere à noite (38,1%), mas a maioria respondeu todas as opções (53%).
Os frequentadores assíduos de festas de música eletrônica deixam claro que a escalação do DJs é uma das causas mais importantes para a compra do ingresso. Não haver um line-up que contemple sua vertente preferida é perda de cliente na certa. E aí ficar em casa já não é mais culpa do que a internet tem a oferecer. Além disso, há razões para que o público acredite que as baladas estão deixando a desejar.
A polêmica cultura do “ingresso vip”, que já foi abordada por nós no artigo “O que será do mercado de agências de entretenimento de São Paulo com a onda das ‘lists vips’?”, não passou batido no questionário e dividiu opiniões, 53,5% das pessoas não concordam com tal atitude, uma diferença de apenas 10% de quem apoia a ideia. Pensando nisso, uma pergunta tentou esclarecer o assunto. “Quanto você está disposto a pagar para entrar em uma balada que terá um bom line-up ou que você sabe que será muito boa?”. 199 festeiros disseram que pagariam de R$ 50 a R$ 100 no ingresso, enquanto 177 consideraram pagar mais de R$ 100 para entrar na balada, e somente 26 afirmaram que pagariam menos de R$ 50. Ainda, sobre os setores de cada evento, a grande maioria mostrou que vai mesmo é de pista (71,1%), ao passo que 23,1% escolhem a área VIP e pouquíssimos (5,7%) vão de camarote.
Durante a festa é quase impossível não consumir nada. Com isso, constatamos que - levando em consideração que uma pessoa poderia assinalar mais de uma opção - 333 pessoas consomem água durante a balada, 258 bebidas alcóolicas, 127 algum tipo de droga e 122 energético. Embora os dados mostrem que a maioria consome álcool, 63,4% não tem preferência por balada open bar. Porém, em relação a alimentação, 86,5% considera importante a venda de alimentos na balada.
Outro assunto muito discutido pela mídia e pelos frequentadores de festas é a receptividade oferecida por elas na entrada do evento. Em nossa pesquisa, 370 festeiros alegaram nunca ter sofrido nenhum tipo de preconceito para entrar nos eventos de e-music. Apesar disso, listamos alguns motivos que fazem o público desistir de ir a uma balada. Entre eles, estão: escolha dos DJs e line-up (mais de 55% dos votos), valor do ingresso (53,2%), local/localização da festa (40,8%), falta de companhia (30,1%) e a experiência que está sendo oferecida (21,6%). Também foram citados pelo público a falta de estacionamento e/ou valor abusivo deste, a falta de segurança, a má reputação da festa e a mistura de várias vertentes. A falta de novos conceitos é em peso o que mais se destaca como ponto negativo de uma festa, seguido da falta de novas experiências. O público tem a necessidade de ser surpreendido e cria expectativa em torno do evento que irá prestigiar. Isso tudo se resume a outra ausência: a falta de inovação. Quem disse que os detalhes não fazem a diferença? É só conferir a reação dos festeiros em relação às estruturas, ao palco, à organização, ao local... Tudo é passível de renovação e são as particularidades que conquistam o público em geral.
Entre os resultados obtidos ao longo da pesquisa é plausível dizer que o público acredita que as baladas hoje em dia estão deixando a desejar em certos fatores. É relativo mencionar o que falta em cada evento, mas é possível traçar um panorama do que está sendo esquecido no planejamento da maioria das festas. Os leitores consideram que poderia haver um melhor line-up (210 votos), bebidas mais baratas (190 votos), novas experiências (166 votos) e inovação do espaço (159 votos). Além disso, esperam também por novos conceitos e valores mais acessíveis de entrada (ambos com 145 votos), melhor localização (64 votos) e estacionamento com valor mais acessível (62 votos). Citaram, também, que é necessário haver maior segurança, organização, estrutura, informação e acessibilidade.
Alguns desses problemas podem ser resolvidos por meio de uma melhor discussão no planejamento. Aliás, com o advento da internet e a exposição a uma cibercultura – a qual já fazemos parte –, a distância entre organização e clientela já foi quebrada. As redes sociais, por exemplo, são os canais mais concretos para o sujeito expressar uma insatisfação, elogio ou sugestão: o famoso feedback. Cabe a marca analisar as críticas (construtivas, é claro) e contemplar o que for viável no planejamento traçado pelos organizadores.
Um exemplo de club que vem atendendo (e muitas vezes superando) a expectativa do público é a Laroc. O primeiro sunset club do Brasil está crescendo imensamente nesses dois anos de mercado e se destaca no sentido de oferecer experiências inovadoras. O próprio local declara em seu site: “O evento nunca acaba! Queremos que todos os que vierem à Laroc tenham experiência musical autêntica e levem algo especial daqui. Cada detalhe foi projetado com muito carinho e amor pela música eletrônica”. Com um conceito ousado e moderno, o club proporciona festas frequentes e dispõe de paisagens marcantes com o espetáculo do pôr do sol para assegurar experiências memoráveis.
Não há uma fórmula secreta para o sucesso de uma balada, nós não podemos dar soluções certeiras para todos os problemas existentes em uma festa, nem sabemos se isso é possível. O que tentamos, com a pesquisa e texto criados, é trazer à tona algumas considerações importantes e relevantes acerca do cenário das gigs no Brasil. De fato, as premissas do público são o pote de ouro no fim do arco íris. Mas como chegar lá? Bom, a começar por atentar-se às possibilidades que a balada pode oferecer.
Sobre o autor
Vitória Zane
Editora-chefe da Play BPM. Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música eletrônica <3