“É claro que as vitórias da pesquisa do Top 100 DJs da DJ Mag também foram extremamente importantes para minha carreira. Em 2007, fui votado como número 1 pela primeira vez. Depois que recebi o prêmio em Londres, voei para Los Angeles. Faria um show em um lugar chamado Vanguard. E, de repente, haviam vários caras sem camisa na multidão. Eles não tinham vindo ver o Armin van Buuren, eles vieram para ver o DJ número 1 do mundo. Aí foi quando eu percebi quão grande era esse título, e o quanto isso significava. Com a multidão diferente, veio uma expectativa maior – pelo menos, essa é a pressão que eu coloquei em mim e depois disso veio a depressão que eu passei em 2010. Eu estava com um coach e não estava me sentindo feliz comigo mesmo, não estava gostando do que estava fazendo.
Eu sou muito grato – eu sempre fui. Não é uma característica agradável de se ter, porque você nunca vai agradar 100% das pessoas – isso é um dado. No entanto, eu estava tentando muito. Então, dos 10 comentários positivos em um show, haveria um negativo, e isso realmente destruiria minha vida. Eu não conseguia dormir, eu estava usando muito álcool, bebendo demais em casa, e estava me sentindo deprimido. Eu estava realmente deprimido por ser o número 1. Foi muito louco. Não que eu não fosse grato por esse título, mas eu não era mais o Garoto Maravilha, o cara do lado que tocava algumas músicas que todo mundo gostava.
Eu também era o DJ número 1 do mundo, o que era ótimo, mas era difícil superar isso. Eu sabia que um dia eu não seria mais o número 1, e eu estava com tanto medo deste momento. O que iria acontecer comigo então?
Isso não quer dizer que eu não quero mais ser o número 1 – é a mesma coisa se você perguntar a Steven Spielberg se ele quer ganhar outro Oscar. Eu não vou mentir, você é tão bom quanto seu último filme ou última produção. Mas também estou feliz que Martin Garrix tenha ganhado agora, ele é o rosto de uma nova geração e extremamente talentoso.
Vamos ser honestos, certo? É um mundo muito tentador com a atenção que você recebe; a adoração, e tudo o que vem com ela – os jatos particulares, as drogas que estão sendo oferecidas, as mulheres que se jogam em você. É verdade? Bem, parcialmente. Esse nunca foi o foco principal para mim e é por isso que estou feliz por ser casado e ter um histórico familiar estável. O nascimento de Fenna, minha filha, em 2011, meio que me salvou de certa forma, porque quando ela veio não era mais sobre mim – era sobre ela. Eu acho que isso me mudou.
Se me for dado de novo, ficarei super feliz e agradecido, mas agora entendo que apenas tentar agradar seus fãs não lhe dará nenhuma satisfação pessoal. É sempre um equilíbrio entre você querer agradar alguns fãs, suas próprias escolhas e o desenvolvimento de seu próprio personagem.
Eu acho que comecei a acreditar muito no meu próprio sucesso, talvez seja isso. Então eu fiz menos eventos, fui a um coach, eu estava lendo muito. Eu tirei algumas férias muito longas e estava dormindo durante esse tempo. Comecei a fazer músicas diferentes, naquela época, em 2010, alguns outros DJs que sabiam sobre meus problemas mentais estavam rindo disso, mas não era comum falar sobre isso, era algo sobre o qual você não falava.
Nunca pensei em suicídio ou algo assim, isso também depende do seu personagem e de quem você é, das pessoas que o cercam – há muitos fatores que você deve levar em conta. Tenho muita sorte de ter uma educação muito estável. De certa forma eu não me sinto parte dessa indústria, porque eu nunca fui um animal de festa como muitos outros DJs que são lendas agora, eu nunca fiz nenhum uso excessivo de drogas ou festejei até as 9h da manhã. Eu sempre fui focado na música, isso sempre me fez sentir um pouco estranho, porque eu não me sentia conectado com esse mundo.
É muito difícil. A passagem de Avicii é provavelmente o dia mais sombrio da dance music, porque ele foi o primeiro a ir – e, espero que não, mas acho que mais se seguirão. Eu vejo muitos DJs lidando com problemas mentais, mais do que posso dizer nesta entrevista. Leva apenas uma noite ruim, uma decisão ruim. Mesmo que agora estejamos mais conscientes disso, estou com tanto medo que algum outro DJ possa se machucar.
Eu estava olhando para a marca e não para a pessoa. Eu também pensei comigo mesmo: ‘A razão pela qual eles votaram em você como o DJ número 1 do mundo é porque – e eu levei alguns anos para perceber isso – eles querem ver você. Quem é você. Não a sua imagem, não a marca que você criou, não o A State Of Trance. Eles querem ver Armin Van Buuren no palco. Mesmo que isso signifique que você não vai agradar a todos.
O mais difícil para mim é não agradar a todos – ainda tenho dificuldades com isso. Mas agora eu entendo porque. Nunca houve uma obra de arte, um artigo em uma revista, uma pintura, um álbum, um set de DJ que 100% dos seres humanos gostassem. Nascemos para pensar de formas diferentes, e é quando temos a evolução – abraço isso agora. Eu tenho menos medo de sair da minha zona de conforto, mas, eu não vou mentir, eu ainda leio todos os comentários e ainda dói pra caramba. Mas agora eu posso dar um tempo disso, sabe?
Eu tive um tempo difícil lidando com esse estigma. O estudante de direito de Leiden, meio nerd, legal… Isso não combinava muito com a imagem que eu tinha de Sasha e John Digweed, Carl Cox, Paul Oakenfold, eles eram os caras do rock & roll. ‘Olhe para eles, uau!’. Eles eram durões, cara, eles eram empolgantes, e eu apenas um cara legal da Holanda. Levei um tempo para abraçar e aceitar essa personalidade.
Nem tudo é brilhante, mas com a maioria das músicas que fiz, movi alguns corações. Essa é uma boa maneira de ver isso –Alguns fãs sempre permanecerão fiéis a você e alguns fãs simplesmente seguirão em frente – e isso não é algo que você possa controlar. Essa talvez seja a essência do que aprendi em 2010”.
Via DJ Mag e Trance Team BR.
Sobre o autor
Vitória Zane
Editora-chefe da Play BPM. Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música eletrônica <3