Ousadia, autenticidade e inquietude são características que caminham lado a lado com Ella De Vuono, DJ, produtora e professora de discotecagem da Academia Internacional de Música Eletrônica (AIMEC). Ela participa ativamente da vida noturna brasileira há muitos anos e é reconhecida por sua técnica e ecletismo nas apresentações. Mais do que isso, Ella tem consciência do seu papel como mulher no mercado do entretenimento e busca à sua maneira participar e contribuir para a valorização e respeito da figura feminina em todos os seus aspectos. Foi daí que surgiu a ideia da criação de “Assédio”.
“Não interaja com um corpo que não te chamou para interagir com ele”. Esta é a mensagem principal que Ella De Vuono quer propagar e foi o que ela usou como base na hora de produzir a faixa há dois anos atrás, no período de Carnaval. Justamente nessa época, a conhecida vlogger Jout Jout compartilhou um vídeo falando sobre condutas masculinas consideradas abusivas pelas mulheres nos blocos de carnaval. Ella rapidamente entrou em contato com Jout Jout que adorou a ideia e a colaboração logo saiu do campo das ideias diretamente para a pista de dança.
Desde a primeira vez que foi tocada “Assédio” foi um estouro. Não apenas por seu conteúdo impactante e mensagem educativa com as gravações de Jout Jout, mas pela bela combinação com a percussão marcante e dançante que traz. Agora a faixa é lançada de forma independente para que todos possam apreciar a obra na íntegra.
“Acho que nós, mulheres, sentimos esse cansaço logo nos nossos 12 anos de idade, mas até nos darmos conta de que podemos nos posicionar, leva um bom tempo. Somos ensinadas que a culpa do assédio é nossa, né? ‘Ela estava com roupa curta… Ela provocou com esse batom… Quem mandou andar sozinha?’ A ideia vem disso, de perceber o quanto fomos criadas para acreditar nisso, a ideia é educar mesmo, todo mundo, não só os homens”.
Ella conta que entre ter a ideia e estar com a música pronta demorou menos de um mês. “Quando eu crio, na verdade, a música já está formatada na minha cabeça, só preciso traduzir isso em som”. Quem colaborou com este trabalho foi Paula Dornelles, que transformou em imagem a ideia de Ella de que “enquanto para quem assedia é apenas um toque, para o assediado marca, mancha, suja”. “Assédio” é a prova de que música eletrônica pode, e deve, ir além da diversão, ensinando, conscientizando e trabalhando para que a sociedade se desenvolva com respeito, empatia e igualdade.
Sobre o autor
Vitória Zane
Editora-chefe da Play BPM. Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música eletrônica <3