Ortus, DJ e produtor paulista, comenta sobre seus desafios de seguir o sonho da música
Quem é músico ou quem já pensou em viver dela, não apenas falando da esfera eletrônica, sabe que para chegar a um momento de estabilidade é bem difícil, afinal, essa é uma profissão que ainda é muito desvalorizada no Brasil. Um dos motivos se dá pelo fato de muitas pessoas julgarem ser apenas um ‘hobbie’ ou uma tarefa de lazer quando, na verdade, é preciso muita dedicação para dominar qualquer instrumento e fazer o que se faz, seja num violão ou num sintetizador.
A fama é realmente um privilégio de poucos, mas a paixão por este campo artístico vai muito além da questão financeira ou do sucesso. É por isso que muitos se jogam de cabeça nesse mercado e muitas vezes deixam de lado outras oportunidades para se dedicar inteiramente à carreira artística, como é o caso do DJ, produtor e headlabel Ortus (BR). Por trás do projeto está o paulista Giovanni Delgado, somando uma década de experiência e muitos dias de luta, principalmente agora na pandemia.
Headlabel da Real Supernova, ele conversou com a gente sobre as diferentes fases que já viveu até aqui, muitas vezes pensando em desistir, mas no fim acreditando no seu potencial e consciente de que este é exatamente o seu lugar. Um bate-papo rápido, dolorido e inspirador ao mesmo tempo:
Play BPM: O que te fez seguir uma carreira na música e não uma trabalho ‘tradicional’? Qual é sua história com a música? Ortus: Desde pequeno sempre fui apaixonado por música, logo com 6 anos comecei a fazer aula de piano e violão. Tive bandinha na época da escola, levava o violão pra tocar em todos os cantos, mas nunca pensei que a música seria o meu futuro como profissional. Ainda na adolescência trabalhei um pouco com dublagens e essa vivência no estúdio me fez querer conhecer mais sobre gravação.
Depois de um tempo resolvi fazer um curso de produção musical, porém mais voltado para gravação e para músicas acústicas, na época eu queria gravar algumas coisas da bandinha que eu tinha. Trabalhei um tempo em um estúdio em São Bernardo do Campo, onde aprendi muito, gravei grandes artistas como Andreas Kisser, Tihuana, entre outros. Depois dessa experiência fui migrando mais para a música eletrônica. Comecei a fazer uns beats de rap, cheguei a vender alguns e aí fui me interessando pelo drum n’ Bass, Trap e dubstep. Cheguei a produzir algumas músicas nesse estilo também.
Aí veio a vontade de querer tocar. Fiz um curso de DJ e ganhei o meu primeiro vinil (Hysteric Ego – Ministry of Love) do meu professor e amigo Luy Salvati, que depois de algum tempo foi meu parceiro no projeto Brainkillerz, no qual tocamos por algum tempo em vários estados do Brasil e até uma turnê no Chile. Logo depois do meu curso, antes do Brainkillerz fui conhecendo mais estilos, comecei a frequentar o D-Edge e foi um caminho sem volta, não me via fazendo outra coisa.
Play BPM: Quais as principais dificuldades/desafios do mercado musical brasileiro na sua opinião? Ortus: No Brasil tem muita concorrência e muita gente talentosa. Pra vc se destacar no mercado você precisa de um diferencial. Obviamente que o seu som sempre vai falar mais alto, mas hoje em dia ter um som bom não basta, você precisa ser um artista completo, saber muito tocar e produzir e nunca parar de estudar. Precisa também passar uma imagem de artista profissional, ter redes sociais com conteúdo profissional, e não menos importante, fazer networking. É fundamental conhecer pessoas, ir em festas para ‘trabalhar’ e não só pra curtir.
Você não precisa de um estúdio top pra fazer música boa, nem conhecer os maiores donos de festas pra entrar no mercado, mas se você acreditar no seu trabalho e o fizer com seriedade, com um som bom e que você acredite, com um conteúdo nas redes sociais que trazem credibilidade, já é meio caminho andado. Você estará no radar das pessoas que podem te dar boas oportunidades.
Play BPM: Você passou por alguns momentos difíceis e já pensou em desistir da música, certo? O que te faz acreditar e continuar na carreira artística? Ortus: Sempre passo, já pensei em desistir várias vezes. Já pensei em vender tudo o que tenho no estúdio. Quando se trabalha com música, com arte, criação, tudo o que vivemos na nossa vida pessoal reflete na hora de criar algo. Tem dias que não tô bem emocionalmente, ligo meu computador no estúdio e não sai absolutamente nada. E quando você está bem consigo mesmo é muito mais fácil e agradável criar.
Play BPM: Como você espera encontrar a cena pós-pandemia? Ortus: As coisas estão voltando devagar, acho que essa pandemia foi ótimo. Vão ter muito mais oportunidades para artistas nacionais. Quem mostrou que não estava parado nesses meses, com certeza foi notado. Quando estávamos trancados, todos estavam na mesma situação, tanto os artistas grandes quanto os pequenos, a chance de aparecer eram as mesmas. Quem mostrou conteúdo, de qualidade, acreditou na profissão, vai ter seu lugar ao sol quando isso tudo voltar.