Como Mary Mesk desenvolveu sua inconfundível sonoridade através das produções que agora encantam nossos ouvidos?
Com mais de 70 mil ouvintes mensais no Spotify, Mary Mesk é um nome para ficar de olho na cena eletrônica. Dona da gravadora Mesk Records, a DJ e produtora tem percorrido um longo caminho na indústria da música, e agora vem colhendo os frutos de sua dedicação na produção e na arte de mixar, apresentando uma sonoridade mais profunda, acompanhada de uma identidade visual autêntica.
“The Way”, sua collab com Curol, está chegando a um milhão de transmissões. Em meio a isso, ela já lançou um álbum - chamado “Living Places” -, tocou na versão digital do Burning Man, conquistou suportes de nomes gringos, entrou em charts internacionais e playlists editoriais, está em seu segundo lançamento pelo selo internacional Pillar Records - com mais faixas já programadas - e acaba de ser citada como “The Future of Dance” pelo 1001Tracklists.
Conversamos com a DJ e produtora para saber mais dessa nova fase, confira:
Oi, Mary, obrigada por falar conosco! Você está no seu segundo lançamento pela Pillar Records, sendo um EP, e já tem mais faixas pré-aprovadas para o ano que vem. Como tem sido estreitar sua relação com a label?
Tem sido muito gratificante, é um sinal que a produção está evoluindo cada vez mais e esse reconhecimento internacional está sendo incrível. Meu trabalho e esforço foram notados e significa que estou no caminho certo, onde quero continuar a evoluir cada vez mais.
Falando sobre lançamentos, tenho o EP “Resonance” que acabou de sair e ja pegamos 1 lugar no Hype de progressive house no Beatport…..e tenho mais um EP marcado para o início de 2022.
Aliás, você tem a ideia de focar numa carreira internacional?
A princípio não era o que eu estava planejando para esse ano, mas com essa aceitação internacional isso tem ficado no nosso radar. A minha intenção não é necessariamente focar em uma carreira internacional, mas fazer um som que caiba dentro e fora do Brasil.
Como o som que tenho produzido é mais aceito fora do Brasil, provavelmente posso ter mais chances e oportunidades de tocar fora do país.
Não podemos deixar de citar sua nomeação pela 1001Tracklists como uma das artistas promissoras da cena no “The Future of Dance”. Como você recebeu essa conquista?
Poder representar o Brasil em meio a tantos artistas prestigiados é uma honra. Achei incrível a iniciativa do 1001tracklist em reconhecer mulheres e negros nessa lista "The Future of Dance". Fico muito feliz em ter meu trabalho sendo reconhecido após tantos anos de estudo e dedicação no estúdio.
Também fiquei extremamente feliz em ver a minha amiga Curol sendo reconhecida, lançamos a “The Way” esse ano e vendo agora nosso trabalho destacado junto com outros artistas internacionais que admiro está sendo gratificante. É incrível ver a representatividade da cena neste ano. Isso só aumenta a minha vontade em entregar o melhor do meu trabalho a vocês e sei que estou no caminho certo.
Conta pra gente, você começou como DJ e depois migrou para produção? Como foi essa trajetória?
Eu comecei como DJ, e depois acabei migrando para a produção. Sempre gostei de criação, venho do teatro e já tenho essa misancene artística. Então, quando comecei na música como DJ, senti a necessidade de criar e comecei a fazer minhas próprias músicas, compor minhas letras. Eu adoro compor e como escrevia minhas peças de teatro, foi algo natural pra mim. Com o tempo, ao crescer a necessidade de criar, comecei a estudar e até hoje estudo produção para aplicar nas minhas criações.
Quando você percebeu que gostaria de viver neste universo da indústria musical?
Quando percebi que todo tempo livre eu estava baixando música, pesquisando, vendo as novidades da cena, lançamento, acompanhando os artistas, queria participar de todos os eventos que envolviam a musica eletrônica, des de conferências que acontecem em inumeros países a shows … nesse momento percebi que eu precisava trabalhar com musica , que era um hobby e hoje se tornou minha profissão.
Temos percebido a evolução de sua sonoridade, que está ficando mais profunda e conceitual, se assim podemos dizer. De onde partiu as inspirações e referências para criação dessa identidade sonora?
Sempre tive duas, três, várias faces dentro da música eletrônica. Eu realmente gosto de alguns estilos diferentes . Na verdade o que eu faço hoje tem um pouco de influência no som que me trouxe a muitos anos atras para o caminho da musica …..essa misancene tem muito a ver com a minha essência como pessoa, muito mais de tudo que eu já fiz até hoje. As coisas aconteceram naturalmente, fui me envolvendo cada vez mais com a cena e a vontade de trabalhar essa sonoridade específica foi aumentando.
A gente passa por várias evoluções de gosto musical durante a vida e essa sonoridade sempre esteve presente na minha vida Assim como tem outros tipos de som que eu curto, porém não trabalho. Mas hoje minha essência de criação e construção e meu potencial estão todos nessa sonoridade que venho trabalhando.
Tal mudança também veio como reflexo da criação do seu selo, Mesk Records. Por que decidiu criar sua própria gravadora?
Decidi criar minha própria gravadora porque sempre tive muitas músicas prontas que acabavam ficando velhas, porque a demanda de lançamento que eu tinha com as gravadoras não eram tão grande quanto o volume de produção no estúdio. Então, eu deixava de lançar a música, ela ficava ultrapassada e o trabalho acabava sendo deixado de lado. Com a gravadora, abri oportunidade para poder lançar todas as minhas músicas e também contribuir com a comunidade, em que às vezes algum colega não consegue uma gravadora pra lançar uma música e ele pode buscar pela minha gravadora pra gente lançar. Pensando nesse conjunto, surgiu o Mesk Records.
Você comentou que tem conquistado muita coisa desde o trabalho desenvolvido em seu primeiro álbum, “Living Places”. Como foi produzi-lo e o que ele agregou para a sua carreira?
O Álbum “Living Places” foi um divisor de águas na minha carreira. Eu já vinha produzindo esse som há um ano e meio antes de lançar o álbum. Quando chegou a pandemia, me internei no estúdio e produzia 24 horas... foi onde tive uma evolução na produção e no entendimento sobre o que eu gostava de fazer, as coisas foram naturalmente me levando pra esse lado. O álbum foi um marco que tem um pouco do que eu fazia antes, com bastante vocal, mas também com uma sonoridade, uma estrutura de bateria e uma timbragem muito parecidas com o que eu tenho feito hoje em dia.
Aliás, parabéns pelos recentes lançamentos que têm alcançado suportes de grandes artistas, playlists editoriais e até grandes posições em charts. Como tem enxergado tudo isso?
Uma realização! Todos esses pontos são conquistas do projeto e da minha própria gravadora e são resultados de muito esforço e dificuldades que não são visíveis para quem só vê a música no chart. É uma coisa que eu não gosto de falar, mas é preciso, ser mulher é um fator que faz diferença, porque ela precisa se provar e ainda acertar para ganhar o respeito dentro do meio, isso cria uma insegurança e uma necessidade de ser resiliente. Com essas conquistas, vejo um reconhecimento com muito mais peso, que com certeza as mulheres do meio também sentem dessa forma.
Preciso agradecer também a minha equipe que sem eles nada disso estaria acontecendo, as músicas chegam onde elas devem estar graças aos esforços de todos.
Nas edições do “Wave Cast” conseguimos ver muito do que você consome e do que te influencia. De quanto em quanto tempo você grava os sets? Eles são a base das suas apresentações? Como funciona esse trabalho de curadoria musical?
Esses sets são gravados uma vez por mês, eu coloco as músicas que mais estou curtindo no momento, então, com certeza, são minhas referências. E é uma forma onde posso tocar minhas músicas, coloco até algumas que nem sei se vou lançar, mas que eu trabalhei e quero testar em um set. Tem sido muito bom e gostoso preparar esses sets, eu toco música minha, das minhas referências, vejo se estão conversando e são base de uma apresentação minha.
Para a curadoria desse set busco referências internacionais e nacionais. Eu viajo em busca de conhecimento e para entender o que está por vir, a junção dessas pesquisa e minhas músicas resulta no Wave Cast.
Sobre o autor
Vitória Zane
Editora-chefe da Play BPM. Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música eletrônica <3