'O resultado foi sempre muito bom nas pistas', comentam Gabe e Tough Art sobre nova versão de 'Malemolência', hit de Céu, que sai nesta sexta (21)
Queridinha nas pistas, a versão de Gabe e Tough Art para "Malemolência", da cantora Céu, já era conhecida pelo público, e uma grande aposta dos artistas em suas apresentações. Agora, depois de aprovação da compositora, a versão eletrônica desse clássico da MPB será oficialmente lançada pela CONTROVERSIA nessa sexta-feira (21).
Conversamos com os artistas sobre a produção da faixa e o resultado você confere logo abaixo.
Como surgiu a ideia da produção de "Malemolência"?
Gabe: Eu e os rapazes do Tough Art estávamos querendo fazer uma música com vocal em português. Um dia ouvindo músicas em casa, minha playlist tocou a música "Malemolência" da Céu. Eu ouço muito essa cantora. Sugeri para o Tough Art tentarmos fazer uma versão de "Malemolência". Ficou extremamente bom, os elementos eletrônicos se conectaram perfeitamente ao vocal dela. Começamos a tocar a música nas gigs e o resultado era sempre muito bom. Foi quando o Axell sugeriu que a gente tentasse oficializar a versão. De cara, eu imaginei que não seria nada fácil (e confesso não ter dado muita atenção para isso) pelo fato da Céu ser um ícone da música contemporânea brasileira. Ela já tem alguns Grammys e várias outras indicações, até mesmo para o Grammy Awards. Ela já figurou entre os Hot 100 da Billboard, sem contar que a faixa "Malemolência" fez parte da trilha sonora de uma novela da Rede Globo. Até que o Axell chegou e disse: “estou em contato com o empresário da Céu e acho que vai dar bom”. No final, eles [André e Céu] ouviram a música, ajustamos alguns detalhes, o Axell foi conduzindo toda a parte burocrática e conseguimos a liberação. Em seguida, procuramos pela CONTROVERSIA, até que finalmente oficializamos o lançamento da música.
Tough Art: Nós e o Gabe já vínhamos há um bom tempo procurando um vocal em português para fazer uma nova faixa, e nada acabava dando muito certo na hora de produzir. Um dia, o Gabe sugeriu que tentássemos fazer algo com a faixa "Malemolência" da Céu, porque ela é uma cantora que o Gabe ouve muito. Ele gosta muito das músicas dela. Começamos a track e gostamos muito do resultado. Nós e o Gabe tocamos por muito tempo e o resultado na pista era sempre muito bom. Um dia, o Axell (que é a pessoa que cuida de tudo do Gabe) sugeriu que a gente tentasse oficializar a versão. Ele procurou o André, empresário da Céu, e foi desenrolando todo o trâmite. Após enviar a música para o André, eles ouviram e gostaram muito. Então, acertamos alguns detalhes e finalmente tivemos a liberação. Temos certeza que esse será o lançamento mais importante da nossa carreira.
E a produção em si? A sinergia entre os envolvidos?
Gabe: Eu e os rapazes do Tough Art temos uma química boa no estúdio. Eu os conheci quando eles pediram pra fazer um remix da faixa “You And me”, que fiz com Marcello V.O.R., e no final essa foi a versão mais tocada da música. Abri muitos sets com ela. Daí para frente nós já produzimos várias músicas juntos e nem todas foram lançadas ainda. Tivemos a "Joker" e a "Turntable" (que saiu pela label do Lee Foss, a Repopulate Mars), temos a "Banger" (EatBeat), a "Good Times" (G-Spot Records) e agora é a vez da "Malemolência", pela CONTROVERSIA.
Tough Art: Nossa história começou quando entramos em contato com ele, com a ideia de fazer um remix da track "You And Me" de 2010. A produção ficou incrível e pouco tempo depois acabou resultando até em um remix contest pela gravadora do Gabe, a G-Spot Records. Em abril de 2019, quando lançamos a "Joker" juntos, nossa relação com o Gabe acabou ficando mais próxima, e a partir dali foram rolando diversas ideias juntos. A" Malemolência" é a nossa sétima collab e o quarto lançamento juntos. A sinergia em trabalhar com um artista que sempre tivemos como referência é algo sensacional, os resultados têm sido cada vez mais expressivos.
Descrevam a track tecnicamente: sonoridade, elementos, construção etc.
Gabe: Desenvolvemos um grupo enorme de baterias bem detalhadas, bem trabalhadas, com vários canais. Criamos uma linha contínua de baixo, bem grooveado. Boa parte da música é composta pela versão original da Céu.
Tough Art: A track conta com um grupo de bateria bem trabalhado com aproximadamente 15 canais entre hats claps snares shakers e percussões. O baixo fizemos com vst e possui uma sequência contínua e grooveada. As melodias usadas no som vieram todas da música original que deu muito certo com a levada que criamos. E pra finalizar, os breaks são compostos apenas pelo vocal da Céu com profundidades criadas com reverbs e delay.
Você é um dos pioneiros na mistura da música MPB com música eletrônica e dessa vez não foi diferente. O que te motiva a seguir por esse caminho?
Gabe: Acho que minha maior motivação está em produzir aquilo que gosto de ouvir em casa, e MPB é algo que costumo ouvir muito. Então acaba sendo um processo natural, querer unir os dois estilos. Em relação a produção, eu não costumo me prender muito à ideia de sempre buscar produzir um hit. Todo artista sabe da dificuldade que é fazer um hit. Desde a parte de conciliar a ideia de procurar um tema, fazer uma boa música que agrade a todos, conseguir lançar por uma big label, desenvolver uma boa estratégia de marketing/imprensa para fazer com que todo esse conjunto se torne um hit.
Eu gosto muito de trabalhar de maneira mais solta, vou produzindo a música no meu estúdio, e sentindo a energia do som. Tenho várias faixas que se tornaram hits expressivos, e algumas delas sequer foram lançadas. Um bom exemplo disso é a minha versão de LCD Soundsystem - "You Wanted A hit”. Ela nunca foi lançada, mas sempre que toco vai muito bem. Inclusive, já vi alguns vídeos do Solomun, Michael Bibi e outros artistas a tocando em diversas partes do mundo.
Em 2010, eu fiz a “Tudo Vem” com Barbatuques e se tornou um hit.
Nos últimos meses eu venho apostando um pouco mais nesse flerte do eletrônico com a MPB. Tenho feito alguns collabs com outros artistas que já renderam novas versões de músicas MPB, como, por exemplo, as versões das músicas do Cartola, que produzi com o Deeft (“As Rosas Não Falam” e “Preciso me encontrar”) e agora a versão da "Malemolência" com o Tough Art.
Qual a dificuldade em fazer uma nova versão de uma música originalmente MPB e incluir os elementos eletrônicos?
Gabe: Eu não senti muita dificuldade com a construção da música em si. Eu diria que a palavra não é desafio, e sim “receio”. Eu tive um receio nas primeiras vezes que eu ia tocar a música, receio da aceitação do público. Mas a música foi tão bem logo de cara e acabei ficando super tranquilo
Tough Art: Acho que esse foi o maior desafio, criar uma roupagem nova para uma música MPB e ficar do nosso agrado. Já tentamos fazer isso diversas vezes, mas poucas deram certo, pois temos muita dificuldade em aceitar um vocal em português no nosso estilo de música eletrônica. Essa aí podemos dizer que deu muito certo, pois os elementos que colocamos combinou muito com a sonoridade original da track. E o que aprendemos com essa música é que MPB e Tech House combinam sim e muito!
A música "Malemolência" rendeu a Céu a indicação ao Grammy. E ela possui dois Grammys Latinos. Então, a responsabilidade de lançar uma nova versão em outro estilo é grande, certo? Como você se sente e o que isso significa para você?
Gabe: É claro que é uma responsabilidade muito grande, mas nesse caso eu não sofri nenhum tipo de pressão. Eu e os rapazes do Tough Art fizemos a versão da "Malemolência" focados apenas no resultado dela nas pistas. A escolha dessa música se deu pelo fato de eu gostar muito das músicas dela, mas o foco sempre foi o resultado nas pistas. Nós nunca havíamos pensado em lançar a música, então não rolou tanto essa pressão. Não foi um pedido da artista. Não foi uma encomenda.
Como a ideia do lançamento só veio após ela estar pronta e já estar sendo tocada há um bom tempo, isso fez com que nós não tenhamos sofrido esse peso, até mesmo porque nós já estávamos vendo um resultado positivo.
Fico muito feliz que nossa versão tenha sido aceita pela Céu, e mais feliz ainda em ver o resultado da música nas pistas.
Ficamos sabendo que você tem uma grande admiração pela Céu. Algum motivo especial?
Gabe: Um único motivo especial: a Céu é uma ótima cantora/compositora. A voz dela é espetacular. As composições dela são ótimas. Ela faz um trabalho fantástico no mundo da MPB, Samba, Jazz, entre outros estilos.
Além de ser uma cantora com todos esses atributos, é uma artistaa que faz parte da minha playlist no meu cotidiano.
Algo mais que gostariam de falar sobre este lançamento?
Gabe: Sim! Quero conseguir levar a mensagem de que música eletrônica é um estilo musical infinitamente mais amplo do que parece ser. Muita gente não sabe, mas eu comecei no mundo musical em bandas de rock. Na música eletrônica, comecei no Psytrance, passei pelo Techno e atualmente estou focado mais no Tech House. Eu não gosto de me prender a um único estilo. Eu produzo vários estilos e alguns deles o público nem tem conhecimento. Alguns meses atrás eu lancei um EP com o D-Nox numa pegada mais Progressive. Faço Deep House, breaks, tenho até alguns traps aqui no meu HD em parceria com alguns amigos meus.
Esse lançamento com a Céu, mostra que o Brasil tem ótimos cantores e produtores em todos os estilos musicais. Eu acho muito importante que as pessoas que estão na pista estejam sempre prontos a ouvir novas músicas, novos estilos. Não se prendam tanto a uma vertente. Estejam sempre receptivos para ouvir músicas novas. E mais importante ainda: é que um respeite o gosto do outro.
Acredito que uma das missões mais importantes de um DJ seja de apresentar novas propostas, e, consequentemente, educar o público a ouvir música eletrônica de fato, indiferente da vertente.
Tough Art: Estamos considerando a "Malemolência" como o nosso mais importante lançamento até hoje. É uma música que já estávamos tocando em nossas gigs, o resultado desde a primeira vez sempre foi maravilhoso. Podemos dizer que ela já foi "validada" pelo público nos shows, então a expectativa é grande, e acima de tudo estamos muito felizes em poder lançar uma nova versão de uma música tão aclamada e em parceria com artistas que somos grandes admiradores.
Para finalizar: quais as expectativas para 2022?
Gabe: Bom, primeiramente é que o mundo, o setor de eventos, volte ao normal. Essa pandemia foi extremamente prejudicial para o mundo todo e para nosso setor. Mas eu acredito que ela veio para ensinar muitas coisas também em diversos aspectos. Não vejo a hora disso tudo passar e poder voltar a ter uma rotina normal novamente, sem as incertezas que vivemos atualmente. Estou esperando o mercado se estabilizar definitivamente, sem mais nenhum tipo de dúvidas ou incertezas, para voltar com alguns projetos que já tenho, e também para trazer mais novidades que venho preparando junto ao meu time.
Tough Art: A expectativa para esse ano é que seja repleto de festas e clubes pra gente se apresentar. Depois de toda essa pandemia, nosso maior desejo é nunca mais ter que parar de trabalhar novamente. Desejamos também continuar alcançando grandes lançamentos como esse, e temos alguns artistas em mente com quem gostaríamos também de fazer colaborações esse ano. Já estamos confirmados em eventos muito importantes esse ano e não vemos a hora de contar tudo para vocês! Que 2022 seja repleto de muita música!
Imagem: reprodução - Facebook.