Se a cena eletrônica underground tem ganhado espaço nos últimos anos, uma boa parcela dessa conquista deve-se a iniciativas que buscam promover o estilo por aqui, sejam por festas e workshops organizados para um público pequeno, até grandes festivais e conferências como o BRMC, que já soma nove edições. Graças a esses movimentos, vertentes como o house e o techno estão efervescendo e o coletivo underground tem se tornado cada vez mais forte e sustentável.
É na busca dessa evolução que Leo Janeiro atua em uma carreira que já soma mais de duas décadas. Sua mais recente empreitada visa não apenas espalhar a boa música pelos quatro cantos do mundo, mas também dar espaço e permitir que novos nomes se estabeleçam na cena. O Cocada, como já falamos aqui, desta vez abre espaço para que talentos latino-americanos também participem da compilação, iniciativa que resulta em um trabalho final mais versátil sem a perda de sua essência.
Após o sucesso da primeira compilação lançada no início do ano passado, a Get Physical, gravadora que apoia o projeto, deve entregar em breve a segunda coletânea ao público, mas enquanto o álbum ainda não sai, você pode curtir algumas faixas já liberadas logo abaixo e ler a entrevista que fizemos com Leo Janeiro na íntegra, onde ele fala sobre sua carreira, proximidade com o label alemão e, claro, sobre o novo Cocada! Aproveite.
(Cocada EP 2.1 com três faixas)
(Cocada EP 2.2 com mais três faixas)
Play BPM:Play BPM: Leo, tudo bem? Obrigado por falar com a gente! Depois de duas décadas de jornada musical, qual foi seu maior aprendizado adquirido na música, tanto como pessoa, quanto profissional?
Leo Janeiro: Eu que agradeço pelo espaço! Com certeza foi entender que o tempo é um aliado importante. Muitas vezes forçamos a barra para tudo acontecer no nosso tempo, pode dar certo, mas na maioria das vezes não dá. Entendendo isso a chance de ser feliz é maior e, por consequência, tudo começa a fluir melhor. É importante correr atrás, mas é necessário ter foco, paciência e uma pequena dose de sorte.
Play BPM:Entre suas residências estão Beehive, Warung Beach Club e a noite Freak Chic no D-EDGE. O que de mais especial esses clubs te proporcionaram?
Leo Janeiro: Tenho muito prazer em fazer parte deles. No passado os DJs residentes eram considerados o principal pilar de um club, responsáveis por mostrar o DNA musical. Eu gosto disso, aprendi a ser DJ tendo uma residência e entendi essa dinâmica. Cada club tem suas particularidades, mas os três são incríveis e possuem um trabalho muito bem feito, por isso fazem sucesso até hoje. O Warung abriu as portas para mim uns 10 anos atrás, minha conexão foi incrível e já posso dizer que toquei em noites que fazem parte das minhas melhores lembranças. A turma do Beehive é superamiga e trocamos muitas ideias, desde o início me deram muita moral para ajudar no que fosse possível, hoje com certeza absoluta é um lugar que surpreende muito por estar no interior e que possui um público incrível. Já o D-EDGE é um dos lugares que mais frequentei durante anos, tenho muito carinho, em especial às noites Moving e Freak Chic, fico feliz em poder contribuir e ser residente de uma festa que possui meu estilo sonoro.
Play BPM:A Get Physical é uma das maiores gravadoras a nível mundial e, com certeza, fundamental para o sucesso do projeto Cocada. Na sua visão, qual a importância dos labels investirem em coletâneas e compilações?
Leo Janeiro: Eu pessoalmente acredito que a Get Physical continua sendo um dos labels mais importantes de todos os tempos, conseguem abrir portas para novos artistas espalhados pelo mundo e continuam valorizando nomes já estabelecidos. Desde o primeiro papo com o headlabel Roland Leesker, tudo aconteceu naturalmente. Ter uma compilação e um EP lançado por eles com artistas nacionais e locais foi um passo muito importante, isso prova que estamos conectados e no caminho certo. Agora temos novos desafios para buscar dentro da América Latina, produtores que possam acrescentar ainda mais a este trabalho. Fico muito feliz de fazer parte deste momento.
Play BPM:Hoje você e o label possuem uma proximidade bastante interessante. Qual o principal fator para manter um relacionamento como este em um status saudável?
Leo Janeiro: Nós gostamos de música, talvez essa seja a conexão mais forte, afinal, trabalhamos com o que amamos. Existe muito respeito de ambos os lados e isso também acaba facilitando e gerando mais ideias para desenvolver essa parceria. Eles são super profissionais e, claro, adoram a nossa música. Esse é um papo que sempre rende muito.
Play BPM:Um dos principais pilares do Cocada é a valorização da música eletrônica brasileira. Levando em consideração que o nosso país tem uma cultura extremamente rica e diversificada, isso mais ajuda ou atrapalha na hora de montar a compilação?
Leo Janeiro: Ajuda e muito. Não podemos ficar amarrados a uma ideia e sim criar diversas possibilidades. No primeiro momento foi importante ter este olhar local, mas agora vamos atrás da conexão com a América Latina: DJs, produtores, músicos, tudo com um DNA próprio.
Play BPM:Sua relação com a black music sempre foi muito forte. É possível dizer que você tentou, de alguma forma, encaixar músicas com referência desse movimento nesta seleção do Cocada ou a ideia é não buscar um “estilo” específico?
Leo Janeiro: Tudo que você gosta acaba influenciando nas suas escolhas. É claro que eu busco uma diversidade que as vezes eu posso ver de uma outra maneira (aí talvez possa ter essa influência), o mais importante na minha maneira de pensar é ser autêntico. Hoje isso é uma das coisas que eu venho valorizando muito dentro deste trabalho: criatividade e autenticidade.
Play BPM:Em relação a primeira edição do Cocada, qual é a maior semelhança e qual a maior diferença entre os dois? É possível distinguir esses dois extremos em um material que segue o mesmo propósito? Obrigado por falar conosco!
Leo Janeiro: A maior semelhança é que estamos sempre com ideias próprias tentando trazer isso para o projeto, assim como foi no início de toda a ideia do Cocada. A diferença é que agora já demos alguns passos, nos conectamos com novos mercados através da música e estamos acumulando mais experiência. Fico feliz por poder estar à frente de um projeto como este, junto com um grupo de pessoas que acreditam neste desafio. Muito obrigado pelo bate-papo!
Sobre o autor
Vitória Zane
Editora-chefe da Play BPM. Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música eletrônica <3