Considerado uma forte referência no cenário afro-queer, Siamese, original do norte do Paraná, é cantor, compositor, coreógrafo e performer. Lançou seu primeiro EP, “Som do Grave”, em 2017 de forma independente, com tracks que variam do rap ao eletrônico. É um artista que possui uma mensagem a passar, que representa tanto a comunidade LGBTQIA+, quanto a comunidade afro. Em 2020, o artista marcou sua volta aos palcos com um show ao vivo transmitido em seu canal do YouTube em comemoração ao mês da Consciência Negra. Além disso, o produtor também é responsável pelo Bloco de Carnaval Fogosa, o primeiro bloco queer de Curitiba.
SIA, como é chamado pelos fãs, vem sendo cada vez mais uma imagem de força e voz no movimento afropunk e da cultura queer no cenário musical brasileiro. Com o objetivo de transmitir uma mensagem de auto aceitação, respeito e diversidade, sua importância na cena deve ser reconhecida.
Em entrevista exclusiva, o artista conta para nós um pouquinho mais sobre sua carreira e seu mais novo lançamento: o videoclipe para seu single “Feeling Good”, em parceria com o DJ Luca Lazza.
Poderia primeiro se apresentar? De onde você é e como foi seu começo na música?
Salve gatinhes, sou a Siamese, artista Queer não binária, natural da cidade de Andirá, mas moro em Curitiba desde 2011. Além do meu trabalho autoral com a música, trabalho com produção cultural e artística. Comecei a cantar ainda criança, sempre tive uma ligação muito grande com a arte e com a performace. Quando entrei na Universidade de Produção Cênica da UFPR, onde sou formada, descobri mecanismos que abriram caminhos para me lançar profissionalmente na música.
Seu primeiro lançamento foi o EP “Som do Grave” em 2017 e na última sexta-feira, foi lançado seu single “Feeling Good” em parceria com o DJ italiano Luca Lazza. Como conheceu Luca e de que forma isso caminhou para a parceria?
Conheci o Luca ano passado, ele fez o remix da faixa “Vai Salvar”, do Peu Queiroga, que tem minha participação. Então, começamos a nos seguir nas redes sociais, ele gostou dos meus flow e vocais e me convidou pra fazermos uma faixa inédita juntes. O processo ocorreu bem natural, quando ouvi pela primeira vez a estrutura do beat de FEELING GOOD, já rolou uma conexão, senti uma energia gostosa que me inspirou a compor. Coloquei pra tocar mais uma vez e o flow já veio inteiro, tipo psicografia. Na letra brinquei com a escrita em português e em inglês, trazendo bastante minha personalidade arisca e felina, falando de forma sarcástica como as pessoas criticam muito a vida das outras enquanto nós queremos só ser livres, experimentar, nos sentir bem.
E como foi a experiência de lançar uma primeira parceria internacional?
Foi uma experiência bem fora da minha zona de conforto, me comunicar e criar junte com um artista de outro idioma e cultura, mas adorei trabalhar com o Luca, conseguimos nos entender e criamos essa vibe bem delícia que vocês podem sentir. Adoro como a música pode nos conectar e criar possibilidades de levar nossas vivências para outras culturas.
Mês passado foram lançadas as faixas remixes do seu EP “Overdose Sessions”, com os DJs Tirado, Veronicat e Jean Machado através do selo da FLW FLW. Consegue nos contar um pouco sobre como surgiu a ideia de fazer essas faixas remixes? De que forma você conheceu esses DJs?
Fazer os remixes foi uma forma de trazer uma nova possibilidade para as músicas, conheço o Tirado e a Machado de outros trabalhos que temos juntes, admiro a produção que eles fazem e os artistas e pessoas que são. Com a Veronicat foi a primeira vez que trabalhamos juntas, a Boombeat nos apresentou e eu adorei a forma que ela produz, ela trouxe uma vibe nostálgica com uma sonoridade atual que era o queríamos trazer para essa nova versão “Vai Voltar”.
O que costuma te motivar para construir uma música nova? De que forma a música eletrônica tem peso nesse processo?
Meu processo criativo é bem dinâmico, no caso da música eletrônica eu escuto a batida e vejo o que ela me provoca, que sentimentos e sensações ela me leva e transmite aí começo a criar a parte poética e a letra.
Como você enxerga a cena eletrônica brasileira em relação a comunidade LGBTQIA+? Principalmente para quem quer realizar parceria com DJs e produtores. Falta inclusão?
Há uma imensa diversidade de artistas LGBTQIA+, só que nem todas conseguem ter visibilidade, falta oportunidade de estarmos presentes nas mídias em geral, de forma naturalizada e para além de meses ou datas específicas. Estamos presentes 24 horas por dia o ano todo na sociedade, só que nossos trabalhos não são pautados ou priorizados. É só olharmos para os castings das gravadora, quantas de nós estão por lá? Quantas de nós estão colaborando com DJs da cena Mainstream? Quantas de nós estão tendo sua música tocada nas rádios e em grandes playlists? É preciso mudar a engrenagem para transformação do CIStema.
Quais são suas maiores inspirações? De que forma isso impacta no seu trabalho?
No me trabalho eu busco trazer as minhas experiências em forma de poesia e música, sou uma pessoa bem eclética minhas referências vão desde Nina Simone a Rihanna, Elza Soares e Zebra Katz. O maior impacto é como esses artistas souberam mostrar suas individualidades se estabelecer na indústria da música.
Qual legado gostaria de deixar para o mundo?
De um mundo mais humano, plural e diverso, onde as pessoas tenham a possibilidade de se experimentar, se descobrir e serem respeitadas independente de sexualidade, cor, religião ou classe social.
Já possui planos para o futuro pós-pandemia? Há novos trabalhos para serem lançados esse ano que já possa contar?
Pós pandemia quero retomar os shows presenciais, sair com o meu bloco de carnaval o Bloco Fogosa, sair de turnê pelo Brasil, quem sabe fora daqui também. Estou com um novo formato de show e quero ver como o público vai reagir, eu amo estar no palco, é onde me sinto completa, a conexão com o público é um momento muito sincero onde me entrego de corpo e alma. Ainda pra esse ano tenho alguns lançamentos programados, por enquanto é isso que posso compartilhar mais podem esperar algo diferente, mas com a pegada arisca e felina que amo trazer.
Quero agradecer vocês da Play BPM pelo espaço e suporte, fiquei feliz em poder mostrar um pouco da minha arte e trocar essa ideia com vocês. Obrigado pelo carinho e me acompanhem nas redes socias e plataformas de streaming. Um Beijo Siamese.
Obrigada, Siamese! Adoramos bater esse papo com você! Seja sempre muito bem-vinda à nossa revista!