Humano e gentil: entrevistamos Fred again.. no Lollapalooza e confirmamos o hype em cima do artista
Humano. Essa foi a palavra que ficou em nossas mentes após termos a honra de conversar com um dos artistas mais badalados do momento, Fred again.. (com letra minúscula e dois pontos, como contamos aqui). O artista inglês que domina - e não é de hoje - as paradas e as redes sociais com suas produções majestosas, é muito além de um super músico, mas também um extremamente gentil ser humano! Sabe gente como a gente? É exatamente sobre isso!
No último fim de semana, Fred again.. teve sua estreia em solo brasileiro em uma performance épica no Lollapalooza Brasil 2023, e para aqueles que desejam saber um pouco sobre como foi seu show, podemos afirmar uma coisa: o palco Perry's teve - ousaríamos dizer - a apresentação mais completa e f@da (não tem outra palavra) de sua existência. A começar pela troca de set up do palco, que deu lugar para os instrumentos e equipamentos utilizados pelo músico ao longo de sua performance. Ali já era possível prever que o que viria a seguir, seria, no mínimo, marvelous.
Com uma energia que dava para sentir em cada molécula de nossos organismos, Fred again.. subiu ao palco com o conforto e a tranquilidade de quem senta ao sofá para assistir Netflix: de camiseta simples e calça de moletom, de fato sem precisar de nada, além de suas habilidades musicais, para tocar nossos corações. Em um momento recheado de superproduções, super figurinos, mega bailes, tecnologias audiovisuais, o DJ e produtor nos envolve em seu espetáculo musical do início ao fim, quase como se ele próprio estivesse em segundo plano para, então, sua música tomar os holofotes para si.
É claro que Fred again.. soltou hit atrás de hit e, após tantas emoções vividas na pandemia, impossível não mencionar o momento em que "Marea (We've Lost Dancing)", com The Blessed Madonna, tocou, levando a multidão ao estado de êxtase:
A presença de Fred again.. no Lolla foi mais uma prova de que a dança está aqui, dentro de cada um de nós, mais presente do que nunca! Além de termos tido a oportunidade de testemunhar seu lindo debut em solo brasileiro e dançado como se não houvesse amanhã, tivemos a oportunidade de conversar com o brabíssimo artista antes de sua performance! Confira:
Oi Fred! Tudo bem? Primeiramente, é uma honra estarmos aqui! Muito obrigada e bem-vindo ao Brasil! É a sua primeira vez aqui, né?
Na verdade, eu vim para o Rio e para Salvador há 10 anos com a minha família! Isso faz muito tempo!
Você teve a oportunidade de curtir os sons brasileiros, como o Olodum, quando esteve em Salvador?
Sim! Eu era bem mais novo, mas pude ver aquelas pessoas todas “marchando” pelas ruas (os blocos), além de presenciar uma roda de capoeira. Mas desta vez, assim que pousamos, demos uma volta por Pinheiros, em São Paulo, e estávamos todos na van pensando: “este lugar é o melhor!”, tão incrível e vivo, nós amamos! Até a área do backstage aqui… se você observar outros backstages, também são bons à sua maneira, mas aqui… aqui é tudo muito vivo!
Você tem razão! Muitos artistas comentam sobre a energia dos brasileiros, em geral, sobre como somos calorosos e animados! O que você tem a dizer sobre isso?
Eu acho ótimo! É uma cultura linda que eu respeito muito! Saímos ontem à noite para dançar e a vibe foi incrível!
Durante a pandemia, você lançou “Marea (We’ve Lost Dancing)” com The Blessed Madona, e essa é uma daquelas músicas cujo nome combina totalmente com o sentimento que ela passa! Com quase 200 mil plays no Spotify, é um de seus maiores hits. Como é o processo criativo por trás de uma música assim?
Não é nada diferente do que com qualquer outra música. Eu a comecei com um amigo francês, e fizemos a melodia, depois estava conversando com Marea, que fala de maneira extremamente natural, e simplesmente saiu. Ah! Teve um momento maravilhosa: eu já tinha feito a música há algum tempo, com versões com vozes diferentes (houve muitas versões da tarck antes da lançada), mas quando resolvemos lançar, o timing foi perfeito porque nós a lançamos, por pura coincidência, no mesmo dia em que anunciaram o fim do primeiro lockdown, em Londres. E então, Annie Mac, uma lendária DJ e radialista inglesa, estava apresentando o BBC Radio 1 Show e tocou a faixa durante o programa! Estávamos tão animados porque era tipo o primeiro dia que o nosso Primeiro Ministro havia dado o pronunciamento, então ficamos muito felizes! Foi muito especial, com certeza!
Uau! Deve ter sido muito especial mesmo! Ela viajou de lá para cá e nós pudemos sentir também! Você está se tornando cada vez maior na cena, especialmente depois da pandemia por causa de suas lives, mas a verdade é que você está no mercado há muito mais tempo do que as pessoas têm noção, como músico, produtor, cantor, compositor, o pacote completo. Após todo esse tempo trabalhando com tantas pessoas e de tantas formas diferentes, o que te fez escolher a música eletrônica?
Na realidade, eu sempre fiz esse tipo de música. Eu tinha projetos próprios aos 16, 18, 20 anos, e era esse tipo de som! Mas é claro que eu adoro produzir Hip Hop e outros. Quando eu vou trabalhar com o rapper, eu preciso trabalhar mais pra esse lado; o mesmo funciona para música Pop ou demais estilos… Eu amo todos os tipos de música! Mas quando eu estou sozinho, é na música eletrônica que eu me encontro. Quando estou com um artista, o que produzo tende a ficar com a cara do artista, mas quando essas pessoas saem do estúdio e eu fico só, descobri que esse é meu som! Eu não sabia antes, mas acabei descobrindo que isso era quem eu era.
Que demais! E o que te fez sair mais do estúdio, sem mostrar muito as caras, para o spotlight, com seu projeto?
Eu precisava retornar às às minhas origens, porque quando eu era mais novo, eu já tinha projetos meus. Produzindo para e com outras pessoas, chegou um momento em que eu percebi que algo me faltava, então gradualmente comecei a trabalhar nisso. Ao mesmo tempo, por alguma bela coincidência, meu mentor, Brian Eno, me mandou uma mensagem dizendo: “Ok, chega. Você precisa voltar a fazer o que fazia quando nos conhecemos!”. Foi um tempo até entender o que eu realmente queria!
E quem é Fred again.. fora de Fred again..? De onde você encontra suas inspirações?
Bom, eu acho que encontro minhas inspirações observando as pessoas e vivendo naturalmente. É por isso que eu amo fazer música rodando o mundo, e não nos estúdios, porque tudo o que preciso é o meu notebook. Eu amo poder ir para diferentes lugares, sentar em um canto e simplesmente deixar ir. Esse é meu lugar feliz. O outro lugar de onde encontro inspiração é nas pessoas com quem trabalho. Eu já colaborei com muitos artistas, como Skrillex e Four Tet, mais em evidência, mas também outros amigos, meus dois irmãos, e muitas outras pessoas! Eu acho que inspiramos uns aos outros!
Você é conhecido por pegar inspiração de alguns lugares inusitados, corriqueiros do dia a dia! Qual foi o som mais diferente que você já captou?
São muitos! Alguns dias atrás, na Colômbia, na área do backstage, não havia divisória nos camarins, apenas cortinas, e as pessoas ao lado estavam tendo uma festinha, conversando loucamente, até que alguém começou a vociferar e cantarolar algo que parecia local. Eu gravei e agora estou ansioso para samplear esse som!
Que legal! E sobre o Brasil... algum artista brasileiro que você admira e se inspira?
Sim! A MC Dricka, da Kondzilla! Eu curto muito tudo que há nos bailes funks. É, para mim, o estilo mais empolgante! Mesmo 4, 5 anos atrás, eu já sentia isso. Quando meu irmão, se eu não me engano, me mostrou o que rolava nos bailes com aquelas produções incríveis… Eu pirei! Me remete à cena Grind do início dos anos 2000 no Reino Unido. Com batidas simples, compassos terciários. Batidas primitivas que tocam na alma. Muito legal! Falando nisso, temos uma surpresa para hoje! (E tinha mesmo porque ele se jogou no funkão durante o show)
Para finalizar… o que podemos esperar de você para o futuro? Algum spoiler?
Eita, eu não sei! Com certeza eu quero voltar para a América do Sul. Eu acabei de terminar um álbum, então essa será a próxima coisa que farei. Depois irei para Nova Iorque para escrever, escrever e escrever. Eu confesso que não faço muita ideia do que farei, apenas sei que acabei de finalizar esse álbum, que está diferente de tudo que já fiz e, ao mesmo tempo, é um dos meus favoritos.
Imagem de capa: Theo Batterham.
Sobre o autor
Cissa Gayoso
Sendo fruto do encontro de uma violinista com um violonista, a música me guia desde sempre e nela encontrei a família que escolhi para chamar de minha. A partir de 2021, transformei minha paixão em profissão e, desde então, vivo imersa nas oportunidades e vivências que este universo surpreendente da arte me entrega a cada momento! De social media à editora-chefe da Play BPM, as várias facetas do meu ser estão em constante mudança, mas com algumas essências imutáveis: a minha alma que ama sorrir, a paixão por música, pela arte da comunicação, e as conexões da vida que fazem tudo valer a pena! 🚀🌈🍍