Um dos fios condutores para que alguém decida ser artista de música eletrônica é quando se depara com acontecimentos de tensão energética em pistas de dança. Quando o paulista Souto percebeu que poderia se expressar sem necessariamente dizer nada em um microfone, mas contar histórias através de timbres que viessem de muitos lugares e impactar pessoas de maneira praticamente transcendental, teve ali sua virada de chave.
Souto é DJ há seis anos e produtor há quatro. Selos internacionais como Sudam Recordings, The Purr e Sirin Music promoveram lançamentos do artista, que prepara-se para lançar pela label brasileira Words Not Enough em breve. Nesta jornada, eventos como SP na Rua, Singular e Cave (Santos-SP) deram espaço a ele em suas cabines. Além disso, Souto é residente trimestral no coletivo Techno de Rua e produz conteúdo com o colega de indústria Chiari no perfil Deep House Brasil.
Suas sonoridades como produtor passeiam por elementos que nos remetem a “trilhas sonoras” de sonhos que gostaríamos de ter todos os dias; em muitas de suas produções, referências vocais nomádicas e etno-culturais posicionam-se por cima de bases percussivas simples na mesma medida em que pads atmosféricos contínuos caminham lado a lado com synths melódicos e sons da natureza. Nomes como Blond:ish, SIS e Edu Schwartz tocaram suas faixas.
Já como discotecário, a sua pesquisa se dispersa um pouco mais e, muitas vezes, se encontra em BPMs mais altos. Nos seus sets podemos encontrar grooves de várias sub-vertentes da House Music, do Tech ao Deep, passando por Progressive e Melodic, além de flertes ocasionais com o Techno. Esta garantia de proporcionar várias vibes a uma pista chamou a atenção do D-Edge, que o incumbiu de tocar um long set de 6 horas no club, algo que o artista considera um marco em sua carreira, já que foi um evento da marca que o influenciou inicialmente em seu caminho artístico.
Conversamos com este artista para entender um pouco seus projetos e suas vivências na dance music.
Oi, Souto! Você foi fisgado pelo poder da música eletrônica após curtir o evento D-Edge Religion, com Ellen Allien e Pillowtalk. Tantos anos depois, já deve ter vivido muito mais experiências marcantes. Quais apresentações de outros artistas explodiram a sua cabeça desde aquele dia e por que?
Souto: Olá, é muito bom estar aqui e poder compartilhar um pouco das minhas ideias e experiências com vocês. Bom, já se passaram 7 anos desde minha primeira experiência com a D-Edge Religion. De lá pra cá, o primeiro evento que me vem à cabeça que me marcou bastante foi um RAWW X ROOM em Campinas, também no ano de 2015. A apresentação de Daniel Bortz ao pôr do sol com aviões sobre o céu aberto de forma proposital, me trouxe boas lembranças que me fazem sorrir até os dias de hoje.
Que responsa ter guiado uma pista do D-Edge em pleno Superafter por 6 horas, ein? Desde a pesquisa até o desenvolvimento do set, quais você diria serem os aspectos essenciais que um DJ deve prestar atenção ao ser convidado para uma gig deste tipo?
Sim, minha primeira vez no club que me incentivou a entrar no cenário e com a responsabilidade deste tamanho, foi realmente incrível. Meus agradecimentos ao Spavieri e a Letícia, pela confiança e oportunidade!
Os aspectos que considero importante além de um trabalho de pré evento - divulgação da data - é estar preparado para a hora do evento onde tudo pode acontecer! Que a verdade seja dita, na noite da minha apresentação o combinado era tocar das 5h às 8h da manhã, mas com o envolvimento do público com a música e bar lotado seguimos para mais 3h de set, até as 11h da manhã.
Baseando-se no fato de você conduzir com o Chiari o perfil Deep House Brasil, pode-se dizer que você considera importante buscar impulsionar carreiras de outros artistas enquanto cuida da sua. Neste sentido, há mais formas de atuação no cenário que você tem em mente para o futuro, mas que não realizou ainda?
A ideia do Deep House Brasil surgiu em 2018. Em uma conversa com o Chiari, onde compartilhamos das mesmas dores. Não vimos um cenário Deep no Brasil. Então pensamos em criar um grupo de artistas deste nicho e trocar conhecimento e fazer a roda girar. Hoje temos um grupo com 40 artistas, dentre eles temos nomes consagrados e da nova geração como: Albuquerque, Awka, Peve, Edu Schwartz, James Saboia entre outros.
Com essa iniciativa, conseguimos com que nossas faixas chegassem a grandes players, grandes labels e muito mais outros aspectos importantes para a carreira de todos. Sobre uma outra forma de atuação, já pensei em ir para o lado Management ou Booker, mas ainda sinto que preciso ter mais experiência e ir em busca de mais conhecimento sobre o assunto.
Ainda sobre esta veia pesquisadora como produtor de conteúdo, quais são os melhores talentos musicais que você descobriu recentemente e por que deveríamos ficar de olho neles?
Atualmente, tenho ouvido muito as faixas do GRIFE, Peve e Nehli. Admiro a forma com que de olhos fechados eu consiga saber exatamente que as faixas são deles. Esse amadurecimento na estética musical me inspira!
O que mais te cativou nos estilos deep, melodic e organic house e como você vem construindo sua identidade sonora de maneira que consiga individualidade mesmo que haja moldes nesses gêneros?
Se eu fizer uma retrospectiva do que eu gostava de ouvir lá em 2015 até hoje, características como groove, bases percussivas e pads atmosféricos contínuos sempre estiveram presentes. Então através destas características venho desenvolvendo minha própria identidade sonora.
Algumas de suas faixas, como “Indra”, “Maya” e “Aysha”, vêm de nomes carregados de interpretações religiosas ou espirituais. Estas decisões vêm primariamente de uma curiosidade cultural ou de uma conexão espiritual que você desenvolve no seu dia-a-dia?
Considero importantíssimo o nome da faixa. Pra mim ela é a cereja do bolo, onde você estará não só passando uma mensagem sonora (música) mas também visual (nome, arte). Por Exemplo, meu próximo EP pela Words Not Enough se chama “Our Time”. Porque “Our time”? ou “Nosso tempo”? Porque no momento em que finalizei a faixa, tive total consciência de que cheguei no resultado em que eu tanto queria e isso me levou anos, tempo. Ou seja, para alguns o tempo de alcançar um objetivo é um, para outros é outro. Mas todos nós que nos dedicarmos com estratégia e uma visão clara iremos alcançar nossos objetivos, cedo ou tarde!
Então, aproveitando o gancho, conte-nos o que podemos esperar do seu próximo lançamento, “Our Time”, pela label Words Not Enough, e quaisquer outros que planeje para 2022.
O EP vai conter duas faixas originais, onde uma contém a colaboração do colega de indústria Nehli e mais três remixes, onde os nomes não posso revelar, mas que fazem um grande sucesso dentro do mercado Deeper e Organic. Mal posso esperar :)
Imagem de capa: divulgação