
Equilibrando criatividade e receita: o desafio de manter a qualidade sem abrir mão da identidade no mercado da música eletrônica nacional
Em um cenário no qual a cena eletrônica brasileira se firma como uma das mais criativas do mundo, DJs e produtores encaram um desafio que vai muito além da cabine: como manter a integridade artística sem comprometer a sustentabilidade financeira?
Se por um lado os festivais, clubes e selos autorais continuam sendo os pilares de expressão criativa, por outro, eventos corporativos, sociais e ações com marcas vêm se consolidando como alternativas rentáveis — e cada vez mais estratégicas — para a carreira de artistas que desejam viver de música.
No centro dessa reflexão está Ella Candeu, DJ e produtora que vem se destacando justamente por sua habilidade em navegar entre esses dois mundos com autenticidade. Com uma trajetória marcada por sets envolventes, pesquisa profunda e identidade sonora bem definida, ela não vê os eventos corporativos como “traição” à pista, mas como uma extensão da sua arte.
“A chave está em entender o ambiente e manter a coerência com o que você acredita musicalmente. Não é sobre se moldar ao mercado, mas sobre encontrar formas de se expressar dentro de diferentes contextos”
Explica.Essa visão é compartilhada por Dre Guazzelli, um dos DJs mais experientes e versáteis da cena nacional. Com mais de duas décadas de trajetória, Dre transita com fluidez entre pistas de festivais, eventos de marcas, casamentos e experiências imersivas. Para ele, a pluralidade de contextos é um exercício constante de reinvenção — e também de maturidade profissional.
“Existe uma adaptação, sim. Mas essa adaptação não significa perder a identidade. É mais sobre descaracterizar para reconfigurar, criando algo específico para aquele momento e para aquele público”
Diz.
Segundo Dre, o segredo está em manter a direção:
“Quem tem direção, o vento sopra a favor. Você precisa saber onde quer chegar, o que gosta de tocar e onde pode abrir concessões sem perder sua essência. É aí que entra a coragem: tocar algo que você talvez não tocaria num festival, mas que vai fazer sentido em um evento corporativo — e vai te deixar feliz ao final da experiência”.
Comenta.
Ambos os artistas apontam que o mercado corporativo ainda é, majoritariamente, conservador em termos musicais. As marcas querem experiências agradáveis, seguras e memoráveis — nem sempre inovadoras. Mas isso não impede que os DJs tragam, com sutileza, doses de educação sonora para o ambiente.
“O corporativo não busca vanguarda. Ele busca que aquele momento funcione. Mas dá pra colocar pitadas do seu estilo, desde que você acerte no clima geral”
Segue Dre.
Ella reforça que esse “toque pessoal” pode ser o diferencial entre uma apresentação genérica e uma performance memorável:
“As pessoas percebem quando tem verdade. E quando você entrega com paixão, até uma música mais conhecida pode soar diferente”.
Explica.A expansão do campo de atuação para os DJs — que agora incluem campanhas publicitárias, ativações de marca, eventos sociais e corporativos — também influencia diretamente a produção musical. Dre, por exemplo, conta que muitas vezes pensa em faixas que não são necessariamente para a pista, mas que se encaixam em momentos do cotidiano, ou mesmo em trilhas para campanhas.
“Isso amplia a criatividade e dá liberdade para criar além da noite.”
Conta.Para os artistas em início de carreira, a pressão por relevância artística e estabilidade financeira pode ser ainda mais desafiadora. Por isso, ele aconselha:
“Faça uma boa pesquisa musical e saiba dividir o que você gosta do que não gosta. Dentro do que você gosta, mapeie onde cada parte pode ser aplicada — casamento, evento, pista... Essa clareza evita frustrações e amplia as possibilidades”.
Finaliza.
No fim das contas, o que Ella, Dre e tantos outros artistas estão demonstrando é que o futuro da música eletrônica passa, cada vez mais, pela inteligência de gestão da própria carreira. Criatividade e receita não precisam andar em sentidos opostos. Quando bem calibradas, elas podem ser aliadas poderosas na construção de uma trajetória longa, íntegra — e financeiramente viável.
Imagem de capa: Divulgação.
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