Em entrevista, Classmatic afirma: "O Brasil tá com uma safra de produtores incrível"
Quem transita dentro ou convive próximo à indústria sabe, atravessar algumas bolhas do cenário internacional pode – e provavelmente será – um desafio e tanto. A tarefa muitas vezes não exige apenas talento, mas visão estratégica, persistência e boas conexões, atributos que podem ser facilmente observados ao longo da construção da carreira de Classmatic.
Em apenas cinco anos de projeto, o catarinense começou a alcançar bons lugares ainda na cena nacional, chegando ao line-up de festas e festivais de destaque no Brasil, como Warung, Caos, Park Art, Xxxperience, Fabriketa e Surreal Park.
Não demorou muito para que estivesse no comando de cabines de clubes mundo afora, como na DC-10, residência da gravadora Solid Grooves, e no club Amnesia, para a festa Elrow – ambas em Ibiza. No entanto, ele não é o único, e a expressiva relação de nomes brasileiros que vem se destacando no Tech House mundial surpreende.
Mochakk, Jamie Coins, Beltran, Bruno Furlan, Brisotti, SIMAS, guerrA.,Trallez, NA7AN, Roddy Lima, Jho Roscioli, Crewcutz, Cour T., gsxtavo., Cla$$ & JCult, Viot e bewav são alguns dos nomes citados por Classmatic, em uma lista que, segundo ele, seguiria por horas.
Por isso, o convidamos hoje para bater um papo conosco a respeito dessa safra de produtores brasileiros que têm rompido estigmas e conquistado seu espaço não apenas por aqui, mas também lá fora – e ao que ele atribui esse sucesso. Confira!
Olá, Classmatic! Obrigada por topar conversar com a gente sobre esse assunto tão interessante. Bom, vamos lá! Pra começar, ao que você acha que se deve essa “ascensão” de mais artistas brasileiros, coisa que não viamos com tanta frequência antes?
Classmatic: Na minha opinião, a cena brasileira do nosso nicho é muita unida, e uma conquista de um artista novo acaba sendo motivo de inspiração dos demais. E isso vai virando uma bola de neve… quando você vê, estamos numa competição sadia de quem faz música melhor, e isso só faz com que a cena cresça e tenhamos muitos produtores bons. Essa realidade está me lembrando muito o pessoal da Holanda na época que o EDM e Trance eram bem fortes.
E quais os diferenciais que você enxerga no nosso som, em relação aos gringos?
Talvez tenha um ritmo diferente por influências indiretas dos ritmos brasileiros que nós nem percebemos que esteja no nosso sangue, mas está. Além disso, eu vejo a gente hoje dando valor para as nossas raízes e usando mais das nossas influências culturais nas músicas, coisa que realmente chama muito a atenção deles, porque todos os gringos que eu conheço amam a música brasileira e a cultura do Brasil.
Pode destacar 3 faixas que você tem mais curtido e viu que tem se destacado de produtores brazucas?
A maioria delas é unreleased, mas lá vai:
1. Jamie Coins - Tinga (feat. Mas Negro)
2. Dabi - Baile Vox
3. guerrA. - Sneak Peak
Você lançou recentemente "Catuca", uma track cheia de referências do funk nacional. Como tem sido a receptividade do público com a track? Você sente que ainda rola um preconceito da galera na mistura de eletrônico e funk?
De maneira geral, funk é música eletrônica e na maioria das vezes que eu toco ela, geral ama, principalmente quando toco no Brasil, e é surreal a energia, o que me surpreendeu muito no início. Mas infelizmente existe sim um preconceito, e isso é algo que não me incomoda até certo ponto. Eu acho que existe uma diferença grande entre não gostar da música e ter preconceito por conta da origem do sample.
O funk, gostando ou não, é um ritmo brasileiro que assim como outros, mudou a realidade da vida de muita gente e que hoje se tornou popular pelo próprio mérito. O que eu tento sempre educar é: não gostar é um direito, agora, odiar é uma opção. Preconceito é algo que machuca e as palavras tem força pra isso. Já recebi diversas mensagens no meu Instagram de pessoas me xingando pelo simples fato de tocar alguma música com sample de funk nos meus sets. Não acho que isso faça sentido algum e que isso seja motivo de ódio e desrespeito. E parte de nós ter essa iniciativa de nos posicionarmos para termos uma cena com mais respeito e menos preconceito.
Pra finalizar, já aproveitamos pra perguntar se tem alguma novidade vindo em breve que já podemos adiantar spoiler pra galera, rs. Obrigada!
Acredito que a minha maior novidade por agora é a minha gravadora, que vou lançar em breve!
Imagem de capa: divulgação