Mais de 20 anos na cena eletrônica, com reconhecimento no Brasil tanto quanto fora dele. Marcelo CIC coleciona grandes feitos ao longo de sua jornada como DJ e produtor. Agora, em 2019, tem sua própria label, residência em um dos clubs mais famosos do Brasil, grandes shows confirmados e, mais recentemente, lançou sua turnê em comemoração aos 10 anos de ASK 2 QUIT, projeto que rodou o Brasil há alguns anos atrás.
Confira nosso bate-papo exclusivo com o artista:
Play BPM: Em 2005, você já havia alcançado o mercado internacional, lançando tracks em selos conceituados (com direito a Carl Cox escolhendo uma faixa sua para o DVD). Deste período em diante, se apresentou nos maiores festivais (dentro e fora do Brasil), tocou em mais de 23 países, e dividiu o line-up com estrelas como Avicii, Calvin Harris, David Guetta, Martin Garrix, Axwell & Ingrosso, Hardwell e Armin Van Buuren. Essas conquistas são o sonho de todos os DJs. Você chegou a pensar que não faltava mais nada em sua carreira?
CIC: Sendo muito sincero com você, hoje em dia eu poderia encerrar minha carreira muito feliz com o que eu desenvolvi até agora. Eu sou realizado na minha carreira, obviamente eu tenho alguns objetivos a serem conquistados, é justamente isso que me move. Ainda posso ir mais longe, esse desejo é algo que me faz acordar todo dia muito motivado. Nesses últimos meses minha energia se renovou muito, parece que estou começando do zero, aliás estou.
Play BPM: 2009 marcou o início do ASK 2 QUIT. Como surgiu a ideia de montar um trio na música eletrônica?
CIC: ASK 2 QUIT surgiu em 2009 com a ideia de três amigos tocarem juntos em apenas uma festa. Eu, Léo Janeiro e Vagalume, jamais pensávamos que isso iria chegar onde está. Jamais cogitamos fazer mais de 80 shows por ano. Foi avassalador tudo que aconteceu, literalmente fizemos o Brasil todo, de ponta a ponta, diversas vezes. Me lembro como se fosse hoje, nosso show com o saudoso Avicii no festival SWU, foi um dos momentos mais marcantes da nossa carreira. Ter contato com um cara tão inspirador, de raras aparições por aqui, é algo que levarei para sempre comigo.
Play BPM: Carreira solo e um projeto paralelo com mais dois DJs. Como isso foi possível?
CIC: A agenda do ASK 2 QUIT consumia muito minhas datas solo, o que me fez dar um “break” em certo momento, focando mais no projeto. Obviamente, eu continuava administrando as demandas da minha carreira solo, mas trabalho sempre para entregar o melhor para o público em tudo que faço.
O Léo Janeiro sempre foi o cara mais experiente e paciente do projeto, ele nos manteve no foco certo, era o “business man”, nos ensinou como seguir com o projeto adiante, após sua saída em 2014.
O Vagalume é a mente pensante na parte visual, traz ótimas idéias, é o personagem, é a pessoa que está 100% focado no trabalho o dia todo, parte fundamental.
Play BPM: Em 2013, se tornou residente do Green Valley, e por lá permaneceu por quatro anos. Em 2015, outra residência, desta vez no Laroc Club. Você é figurinha carimbada de grandes casas (reconhecidas internacionalmente). Qual a diferença em tocar em clubs desse nível?
CIC: Fui convidado para ser residente do Green Valley logo após o Grupo GV realizar o ‘Dream Valley Festival’, em Santa Catarina. Na época, os sócios Ricardo Flores e Eduardo Phillips me chamaram para a residência no club. Foram anos intensos, shows incríveis e tive a chance de tocar com muita gente legal. Vivi a atmosfera do club, criei minha identificação com o público e ter isso na bagagem não tem preço.
A Laroc é um xodó, os donos são meus amigos há muitos anos, é um clube que não precisa tirar e nem por nada, é perfeito. Quando eu piso no club, é como se tivesse chegando em casa, aliás, literalmente estou em casa. Sou apaixonado por tudo e por todos que ali trabalham.
Para minha carreira, é motivo de orgulho ter minha história na música ligada a esses dois gigantes, que são clubs tão significativos para o mundo. Bem como todos os outros por onde eu toco, todos tem um lugar especial.
Play BPM: O ASK 2 QUIT chegou ao fim em 2016. Por que?
CIC: Como eu falei acima, o ASK 2 QUIT demandava muito de todos nós, estávamos vivendo para o projeto e deixando algumas coisas de lado. Isso começou a nos incomodar um pouco, nós sempre respeitávamos o tempo e limite das coisas. Chegou uma hora que os pensamentos se desencontraram, as prioridades foram mudando, decidimos que era hora de nos dedicar aos trabalhos solos, a viver mais outras coisas. A partir daí, resolvemos tiras umas férias, que foram maravilhosas e muito produtivas para todos.
Play BPM: O lançamento do seu selo independente, Full Capsule Records, em 2018, tem o objetivo de encontrar novas ideias e talentos, além de sonoridades únicas. Você acha que isso aconteceu no momento certo?
CIC: A Full Capsule Records, é uma gravadora independente que não se preocupa com a quantidade de lançamentos. Nós buscamos filtrar boas músicas, mesclar artistas experientes com novos talentos. Não rotulamos muito o que a label vai lançar, estamos em busca de boas músicas e bons artistas. Não temos nenhuma pretensão em ser grandes, apenas queremos entregar boas músicas ao mercado, ajudar a assessorar de forma correta os novos artistas e suas músicas.
Play BPM: Mais de 20 anos de carreira e você ainda se mantém relevante no mercado. Qual o segredo?
CIC: Olha, atualmente não me considero entre os nomes mais relevantes do mercado atual, já estive nesse posto. Porém, nunca estive tão bem mentalmente e com tantas músicas prontas como hoje em dia. Então isso é variável, o mercado quer te sugar enquanto você gera receita, quando isso acaba, ele tenta eliminar você, não liga para o que você fez ou significa.
É assim em todo o mundo, então essa busca por relevância a todo custo pode fazer você ficar doente e te afastar da sua arte. Me considero um cara experiente, maduro para entender que é preciso respeitar os ciclos dentro da música, eles nunca param. Uma música pode mudar sua vida, assim como um post pode detoná-la.
Sigo feliz, motivado, cheio de músicas novas e novos projetos. Eu sou um robô da música, enquanto tiver energias, estarei por aí entregando o meu melhor aos meus seguidores.
Por ora, continuo lançando minhas músicas, tendo grandes suportes internacionais e tocando em eventos legais. Ah! e menos “noiado” com números da internet, suas plataformas e seus algoritmos.
Play BPM: Você sempre dá dicas e ajuda os produtores no início de carreira, dando conselhos e explicando sua visão do mercado. Você sentiu falta disto (uma referência próxima) no começo da sua jornada?
CIC:É o que sempre digo, não adianta nada eu ter feito tudo que fiz e guardar dentro de um baú toda minha experiência. A graça disso tudo é ajudar, dividir e crescer. Eu me sentiria um egoísta em negar ajuda para quem busca. Estou aqui para isso, meu papel como artista também é esse! Eu trabalhei duro para que minha voz fosse ouvida, para ter um legado no qual as pessoas se orgulhem, todo artista precisa ter voz ativa entre seus fãs, precisa se comunicar, precisa estar perto e precisa ajudar a realizar outros sonhos.
Sou extremamente grato as pessoas que me ajudaram. Não foram muitos, mas foram bons.
Play BPM: 2019 – ‘CIC Reprogrammed’, com a promessa de grandes preparativos para shows exclusivos. O que o motivou para se reprogramar?
CIC: Serão poucos shows nesse formato. É uma celebração pessoal para mim, é literalmente algo para me reprogramar. Um artista precisar se reciclar, eu preferi usar a palavra “reprogramar”, serão novas ideias que vem pela frente. Me juntei com os caras da empresa H4nds, do Rio de Janeiro, para criar um conteúdo legal para esses shows. Estou ansioso para apresentar para vocês. Sou inquieto, gosto de produzir coisas, experiências e momentos.
Play BPM: Recentemente, fomos surpreendidos com o anúncio da volta do ASK 2 QUIT para comemoração dos 10 anos do projeto. Partiu de quem a ideia de acabar com essas “longas férias”? O que podemos esperar por trás do conceito ‘Back 2 the Future’?
CIC: Olha, nós estamos a mais de um ano recebendo convites, ofertas e pedidos para esse “retorno”. São fãs e promoters de todo o Brasil que pediram por isso. Bem, nada melhor que comemorar os 10 anos de projeto com shows especiais, não é mesmo?
Nós soltamos o vídeo teaser há poucos dias atrás, e em menos de duas horas de anúncio da primeira data, as ofertas e pedidos de show foram tão intensos que tive que correr para achar um booker para nos auxiliar na demanda. Foi algo que não poderíamos imaginar. Foi surreal ver o carinho incrível que as pessoas têm pelo ASK 2 QUIT.
Escolhemos o Rio de Janeiro, onde tudo começou, para esse primeiro show. Nós temos uma história muito legal com o Sirena Rio, com o Roberto Natale (promoter local). Lá atrás ele foi um dos caras que nos ajudou e um dos principais incentivadores para o retorno do projeto. Nada mais justo que prestigiá-lo com esse primeiro show de “retorno”. Estamos muito felizes em saber que a festa será um sold out inédito.
Estamos preparando algo muito especial para esses shows, estamos full-time no estúdio trabalhando os novos conteúdos. Podem ter certeza que voltaremos as principais capitais desse nosso Brasil!
Sobre o autor
Vitória Zane
Editora-chefe da Play BPM. Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música eletrônica <3