O que representa Lady Gaga vencer como "Melhor Álbum Dance/Eletrônica" e "Melhor Artista Dance/Eletrônica" no Billboard Awards 2021
Quando Lady Gaga recebeu quatro indicações para a premiação da Billboard 2021, uma em especial causou controvérsia: a de "Melhor Artista Dance/Eletrônica". Comentários como: "ela é artista pop e não eletrônica", ou "quem deveria ser indicado são os produtores que ela contratou, como Axwell", surgiram aos montes.
Não concordar com sua indicação por acreditar que tiveram outros artistas que fizeram um melhor trabalho em 2020, ou simplesmente porque não gostou, é mais que plausível, pois é um ponto de vista. Mas questionamentos como os apontados acima não só passam longe de serem plausíveis como mostram uma grande falta de conhecimento da indústria da música.
Então, antes de falarmos do mérito da Lady Gaga pelas indicações como sendo a única mulher indicada na categoria "Melhor Artista Dance/Eletrônica" e ter vencido em duas delas, vamos entender como funciona:
Sobre as premiações
Qualquer premiação acontece referente ao ano em questão, então Oscars, Grammys e Billboard indicam artistas que naquele ano se destacaram pelo trabalho exercido. Por isso que, em 2019, a Lady Gaga foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz, mesmo não tendo uma história na indústria cinematográfica — naquele ano ela fez um trabalho que mereceu a indicação.
Entenda porquê os coprodutores (Axwell, Skrillex, etc.) não foram indicados no seu lugar:
Quando ouvimos uma música, para a indústria fonográfica ela é sempre dividida em duas partes: obra e fonograma. A obra é a criação e o fonograma é a gravação dela.
Todas as obras do álbum "Chromatica" da Lady Gaga são de autoria dela. Foi ela que escreveu as letras, compôs e fez os arranjos.
Os outros nomes envolvidos no fonograma executaram a gravação e, mesmo nesse processo, Gaga esteve presente o tempo todo, inclusive tocou todos os sintetizadores, pois ela é pianista.
Diferenciando coprodução/participação de músicos em uma gravação
Imagine que você criou uma melodia de baixo muito bacana, mas não toca contrabaixo muito bem e você quer que essa melodia seja muito bem executada. Assim, você contrata uma(um) excelente baixista para a tarefa. De quem é a criação? Sua. A(o) baixista, das duas uma: ou recebeu um cachê para fazer isso, ou vai ter porcentagem nos direitos conexos daquele fonograma (gravação).
Seria como falar que um projeto de arquitetura é mérito do(a) pedreiro(a) e não da(o) arquiteta(o).
Então os co-produtores, co-autores e todos os profissionais envolvidos na produção do álbum "Chromatica" foram ou estão sendo muito bem remunerados por isso.
Lady Gaga é uma artista pop e não da música eletrônica?
Desde seu álbum de estreia, "The Fame", em 2008, Gaga trouxe diversas músicas eletrônicas, como "Poker Face" e "Born This Way", com bateria eletrônica, sintetizadores e arranjos voltados para a pista de dança.
A música eletrônica é gigantesca, os Top 10 do Beatport e os festivais como Tomorrowland representam apenas uma parcela. Existem artistas que estão completamente fora desse mundo e foram vitais para a história da música eletrônica como Kraftwerk, Juan Atkins, Aphex Twin, Giorgio Moroder, Massive Attack... a lista é gigantesca.
Em entrevista à Zane Lowe, Gaga fala que esse álbum é um lembrete da liberdade que ela tem como artista, do amor que ela tem pela música eletrônica e que com ele a mensagem para o mundo é: “Hey, eu não vou fazer parte de um estereótipo só porque o mundo se sente mais confortável com isso”, e complementa falando que o "Chromatica" nasceu para as pessoas se conectarem e dançarem. Não consigo imaginar uma atitude mais de "artista de música eletrônica" do que isso.
Em tempo, é válido se questionar: porque causou incômodo a indicação de Gaga ao prêmio?
Por último, é preciso reforçar que a música é infinita e a arte é livre, cada uma dessas criações colocadas no mundo é um presente para todos nós. Portanto, vamos sempre colocar em prática o propósito da música eletrônica, que é o respeito à diversidade.
Confira aqui todos os vencedores do Billboard Music Awards 2021.
Sobre o autor
Ella De Vuono
Ella De Vuono acumula 16 anos de experiência na discotecagem, 9 na produção musical, 6 como professora de DJs, vencedora de 2 campeonatos nacionais de DJs, residente da Carlos Capslock e é a cabeça por trás da label Diversall Music.
Já teve passagem por clubs e festivais como: Universo Paralello, Warung, Levels POA, Caos Campinas, Club Vibe e muitos outros.
Além de participar de painéis e workshops nas principais conferências de música eletrônica do Brasil, como o BRMC (Brazil Music Conference), WME Conference e AIMEC DJ Week.
Quer sua história resumida? Ella nasceu para fazer as pessoas dançarem.