Como sempre, a intenção do Play BPM é te informar e ao mesmo tempo desenvolver ao máximo a indústria nacional de música eletrônica. Nesse sentido, criamos esse quadro para que você, amante da cena, possa entender mais sobre as profissões existentes neste mercado. Quem sabe você também não pode trabalhar com música eletrônica e suas enormes possibilidades? A ideia aqui é você conhecer mais sobre diversas profissões deste mercado, sempre com uma entrevista incrível com um profissional atuante.
Para dar continuidade a essa série de artigos especiais, tivemos o prazer de bater um papo exclusivo com o Promoter e sócio/criador da MDAccula, Guilherme Accula, que você confere abaixo.
Antes de tudo, uma breve introdução sobre o promoter de eventos: ele atua na divulgação, na venda de ingressos e promove o interesse do público pela festa. As atividades realizadas podem variar, mas, basicamente, essas são as funções principais. Pode parecer simples fazer isso, mas é uma carreira que possui desafios como qualquer outra. Além disso, é necessário ter aptidão para se relacionar com pessoas, criar conexões e fazer contatos. Não se trata de simplesmente oferecer ingressos para as pessoas comprarem, mas é preciso transmitir a essência de cada festa, gerar interesse e construir uma imagem de credibilidade ao longo do tempo.
Fala Gui! Tudo certo por aí? Primeiramente, obrigada por ter aceito nosso convite em participar do quadro Guia de Profissões. É uma honra ter um profissional como você fazendo parte do nosso time! Vamos lá: Qual seu nome completo, cidade natal e há quantos anos você atua na área?
Olá, muito obrigado pela oportunidade mais uma vez de estar aqui com vocês. Me chamo Luiz Guilherme Accula Lacerda Graziano, sim que nome grande, né? kkkk. Nasci em Araras interior de São Paulo e atuo na área desde 2016.
Você se recorda quando e como surgiu essa vontade de trabalhar com a música, especialmente com produção e promoção de eventos?
Desde o primeiro dia que eu frequentei uma festa de música eletrônica, foi em junho/julho de 2004, em uma Tribe que aconteceu na Pedreira. Naquele momento, eu já me apaixonei e pensei: em algum momento, eu tenho de fazer com que eu viva disso. Comecei a virar um frequentador nato das festas, mas sabia que não era artista. Eu comecei a me interessar em aprender a tocar, fiz aulas com o Ferrari; porém apenas como curiosidade. Trabalhei alguns anos com a Entourage, na festa da Cabala, como manager de palco; contudo eu trabalhava nessa época com mercado financeiro. Em 2016, eu me divorciei, voltei a frequentar com assiduidade as festas de música eletrônica e comecei a ter a possibilidade de levar pessoas para o evento. Foi quando percebi que era algo que eu podia trabalhar com isso. Como sou formado em propaganda e marketing, a profissão de promoter permitiu que eu colocasse em prática o que tinha estudado e gostava de fazer, junto com um hobbie.Para mim, é a felicidade plena.
Se você não trabalhasse com o que trabalha hoje, qual área optaria por exercer?
Essa pergunta é um pouco complexa, porque eu era do mercado financeiro. Se eu não me envolvesse profissionalmente com a música eletrônica, provavelmente, hoje, eu ainda estaria no mercado financeiro; mas, quando você trabalha com algo em que você realmente se encontra, está completo como pessoa, eu não mudaria de setor de forma alguma, mesmo com as adversidades da pandemia no setor de eventos.
Por ser uma profissão diferente do que costumamos ver por aí, você teve o apoio dos seus pais e amigos desde o início ou rolou um pé atrás?
Por eu já ter começado a exercer essa profissão com uma identidade mais avançadas, ninguém opina e nem palpita em cima dos meus negócios, seja mãe, seja pai, namorada, amigos. Inclusive, quando comecei a pegar a promoção e focar 100% nela, eu ia dar apenas um tempo pro banco, como um descanso, já que fazia 12 anos que eu trabalhava com isso. As coisas foram acontecendo, e, financeiramente, eu tive um aumento na minha receita mensal muito mais do que imaginava que ia ter. Então, não tive esse problema.
É inevitável termos inúmeros nomes como referência tanto no âmbito de mercado como na vida pessoal. No seu caso, você teve/tem alguma referência de profissional ou mesmo uma pessoa que te inspirou desde o início?
Na verdade, eu posso dizer que eu tive inspirações, porque, no meu tipo de negócio, eu tive visões além do que os outros promoters estavam fazendo. O que me influenciou foi atitudes de pessoas como RP, postura de alguns produtores, visão de alguns managers. Então, foi um acúmulo de posturas, atitudes, profissionalismo tanto dentro do setor de eventos quanto fora, como no mercado financeiro. Eu trouxe uma postura do mundo corporativo, acho que isso foi o diferencial que trouxe em questão de resultado. Além disso, algumas pessoas começaram a me colocar no nicho, como Ale Fontanini, Fadi, Giveme5, com quem comecei a fazer alguns trabalhos de RP e no próprio evento. O primeiro evento no qual fui remunerado foi com o Behringer, em que levei um grupo de meninas para ficar no camarote da Cool Magazine.
Qual foi a principal característica da sua profissão que foi primordial para que você seguisse nela até hoje?
Por ser uma área comercial em contato com pessoas, criar empatia, relações, network, eu gosto muito disso. Isso é uma característica minha que, além de gostar, eu tenho muita habilidade com isso: fazer novos laços, amizades, trazer credibilidade e confiança para as pessoas, inclusive para mostrar ser uma pessoa verdadeira. Apesar dessas serem características minhas, elas são necessárias nesse setor, o que acaba sendo fácil e gostoso de fazer.
Jogo Rápido:
1 destino dos sonhos: Burning Man
1 arrependimento de vida: Sinceramente, não tenho arrependimentos que me faça ter que retratar. Os que tive foram pequenos e nada relevante.
1 momento inesquecível em sua carreira como Promoter: ter sido elogiado pelos principais players da cena eletrônica, sabendo que não são de elogiar muito os trabalhos.
1 momento inesquecível em sua vida pessoal: Minha adolescência, foi um dos momentos mais inesquecíveis! Todo momento em que vivi em Minas e onde estava me descobrindo como pessoa. Tenho muitas saudades daquela época.
1 música que te emociona: existe algumas, uma para cada momento. Mas as mais recentes que chegaram a emocionar foram For Every Forever (Mathame) e Wish You We’re Here - Black Coffee, Remix do Damian Lazarus
1 DJ: Difícil mencionar somente um, mas Black Coffee é o escolhido principalmente após o set monstro que ele fez no evento Savanah dia 18 de março.
1 profissional do ramo: aqui realmente não tem como mencionar um. Tenho muitos parceiros ao qual me espelho e vejo a seriedade e integridade em cada ato. O amor pelo trabalho não dá pra ser mensurado e muitos que me circundam fazem isso com coração, assim como eu. Quem trabalha com evento na grande maioria faz pelo amor e o dinheiro é uma consequência desse amor.
1 bebida: cerveja e vinho - as únicas bebidas que gosto de fato, mas ainda prefiro cerveja!
Sabemos que existem prós e contras em ser sócio/criador de umas maiores agências do Brasil, que é a MD/Accula. No geral, como é trabalhar ao lado de grandes nomes tanto de DJs quanto de outros profissionais do ramo? Como surgiu a MD/Accula?
O MD/Accula surgiu por meio de uma “brincadeira”, uma vez que eu sempre quis achar alguma forma de trabalhar com a música eletrônica e de poder viver dela; mas demorou. A partir de 2016, eu pude fazer alguns trabalhos não-remunerados com o Alê Fontanini e o Fadi Alameddine, que me deram a oportunidade de trabalhar com uma parte de promoção. Foram eles que me mostraram o caminho. A partir daí, as coisas começaram a tomar forma, foram crescendo, de forma totalmente orgânica, sem visão de nada. Quando chegou um momento que eu vi algo muito grande em minha mãos, levei o Michael Douglas na Xxxperience, a primeira festa de música eletrônica dele, pela qual ele se apaixonou. O MD começou a conhecer muita gente do ramo, e começamos a fazer parceria juntos. Atualmente, ter uma marca grande no mercado e trabalhar com grandes players do mercado é muito legal. D-Nox é meu amigo pessoal hoje em dia. A música eletrônica é algo que amo muito e que adoro trabalhar com.
Toda profissão tem seus “altos e baixos”, no caso do trabalho como promoter de eventos, quais são os principais pontos positivos na sua visão? E os negativos?
Altos e baixos existem em todas as profissões, mas a gente vem colecionando muitos mais altos que baixos, infinitamente mais. Os altos são: fazer um trabalho com qualidade, ter uma entrega boa, receitas, receber elogios tanto do produtor quanto das pessoas que são nossos clientes e venda. A gente está presente em todos os momentos, para entregar um trabalho incrível. Um bom trabalho é o promoter e o produtor terem boas receitas. O baixo é principalmente quando o evento vai bem, mas o MD/Accula não tem uma boa performance nele. Sempre perguntamos como estamos no ranking de vendas. Normalmente, ficamos no primeiro lugar do ranking.
Além dos inúmeros nomes de peso que a sua profissão faz com que você tenha, qual é a verdadeira função de um promoter dentro do mercado? O que você considera essencial para ingressar nesse ramo?
A definição de promoter é venda, fazer a venda do evento, seja no formato de promoção, seja no de relações públicas, que é convidar pessoas importantes que dêem um diferencial no evento. O objetivo do MD/Accula é ter no máximo dois eventos em um dia, uma vez que a empresa tem o propósito de ser contratada pelo produtor exatamente pela cartela de clientes que já temos. Nós não só vendemos, mas também agregamos valor ao evento. O MDAccula tem a capacidade de atrair pessoas a certos eventos. Porém, tem promoter que trabalha com quantidade de eventos, que não segue um estilo musical, uma linha de evento.
Uma das coisas essenciais para ingressar no ramo é ter uma boa relação interpessoal, um network abrangente voltado para a música eletrônica. Atualmente, o nosso trabalho é todo digital, mas porque já tínhamos bastante contatos de antes. Tem de ter um poder de influência dentro de um grupo de amigos. Conhecer alguns produtores.
Aos interessados que pensam em mergulhar nessa área, quais características você destacaria como primordiais para esse tipo de profissional?
Paciência, autoconhecimento, empatia, extrovertida, inter-relação pessoal, bom gosto, por isso vai fazer com que as pessoas acreditem no produto que você está vendendo.
Para finalizarmos esse bate-papo, você teria algum conselho importante para quem sonha em ingressar como Promoter ou em qualquer área da cena eletrônica?
A pessoa tem de viver esse meio, para ter o conhecimento do mundo da música eletrônica. Conhecer o estilo musical, das pessoas que frequentam e de cada produtor é essencial para ter uma boa performance e entregar um bom trabalho. Acima de tudo isso, é necessário amor, porque trabalhar com arte é muito mais que visar ao lucro: é tesão pela música.
Gui Accula: Instagram.
Imagem de capa: reprodução.