A coluna Guia de Profissões aqui do portal, nasceu com o objetivo de destrinchar profissões diversas dentro da indústria da música eletrônica pela ótica de quem já realiza trabalhos relevantes dentro dessa esfera.
Hoje, convidamos Rafael Morato, o M0B, para contar mais detalhes sobre uma profissão que vai além do DJ/produtor, a faceta de engenheiro de som, que concede a ele o título de “referência nacional” neste ramo. Com um currículo que já atendeu, e atende, clientes estrelados como Anderson Noise, Vintage Culture e Alok, Rafael tem um jornada consistente numa profissão que ainda não é tão popular quanto outras atividades deste nicho.
Para quem não sabe, seu estúdio é considerado um dos mais avançados da América Latina. Por isso, se você tem a famosa “pulga atrás da orelha” sobre essa profissão, confira o bate-papo super legal e informativo que tivemos com ele.
Olá M0B tudo bem? Obrigada por topar participar dessa conversa com a gente aqui para o Guia de Profissões. É uma honra receber um profissional como você. Vamos do começo: Qual seu nome completo, cidade natal, quantos anos você atua como Engenheiro de Som?
Rafael Bernardo Ribeiro Morato a.k.a M0B, engenheiro responsável pelo Mob Studio aqui na minha cidade natal, Belo Horizonte, onde por 15 anos venho prestando serviços de Mix e Master para artistas e gravadoras do mundo todo!
Você se recorda quando e como surgiu essa vontade de trabalhar com música, especialmente no ramo da engenharia?
Como se fosse hoje!!! Foi em uma festa aqui em BH. A primeira vez que eu vi o Infected Mushroom tocando em um sistema de som EAW. Eu já tocava e estava começando a lançar minhas primeiras músicas de Trance… quando começou o live do Infected, no primeiro kick, parecia que eu tinha tomado um soco no estômago! Eu nunca tinha ouvido nada na música eletrônica que tivesse aquele nível de clareza e definição, conseguia ouvir nitidamente cada nota do baixo, a separação do kick e do baixo, o synths devidamente posicionado para não sobrepor outros elementos especialmente a voz. Naquele momento eu percebi que eu ia começar uma jornada sem volta!
Se você não trabalhasse com o que trabalha hoje, qual área optaria por exercer?
Nossa, pergunta difícil… tranquei a faculdade de direito para dedicar exclusivamente a música… não consigo me imaginar fazendo nada diferente disso! (Ps.: detestava o direito)
Por ser profissão que não segue os moldes convencionais, como foi o processo com sua família e amigos? Você teve apoio deles ou rolou um pézinho atrás?
Minha família é super tradicional. Pai médico e mãe dentista, e por incrível que pareça, eles sempre apoiaram! No início me ajudaram a comprar os primeiros equipamentos e os amigos sempre apoiaram também, principalmente os da música… eles são os que mais se dão bem! [risos]
Bom, a gente sabe que é muito comum, profissionais listarem algumas referências que contribuem na trajetória. Isso também vale pra vida pessoal. No seu caso, você teve/tem alguma referência de profissional ou mesmo uma pessoa que te inspirou desde o início?
Sim Vários… Como mix engineers: Dave Pensado, Bob Clearmountain, Spike Stent… como Master Engineers: Bob Kats, Luca Pretolesi e Ian Shepherd. Citei só alguns, porque minha lista é grande!
Qual foi a principal característica da Engenharia de Som que foi primordial para que você seguisse nela até hoje? O que mais te fascina e que conduziu você até o patamar que se encontra hoje?
O desejo de proporcionar aos meus clientes condições de competir de igual para igual com os gigantes da música! Artistas que podem gastar milhares de dólares com pós-produção serem superados por artistas que não tem esse privilégio!
Lendo sobre a profissão parece algo incrível e até um pouco assustador (risos!). Digo isso, pela complexidade que parece demandar. Você se considera metade de humanas e metade de exatas? Quais são os pontos positivos e os negativos dentro da engenharia?
Me considero artista! Mix e master é uma arte, o nome “engenheiro” não se aplica bem, porque nada é exato, uma fórmula não serve para todos, você recebe 3 a 4 músicas de uma mesmo artista e dificilmente todas serão trabalhadas da mesma forma, talvez com as mesmas ferramentas, mas nunca da mesma forma!
Já usou algum serviço de master por inteligência artificial desses disponíveis online? Faça o teste, mande uma música para esses serviços e mande a mesma para um engenheiro… você vai ver como é absurda a diferença. Não é sobre números, é sobre alma! Está mais próximo de medicina do que de engenharia, hahahaha!
E na sua opinião, o que precisa para ingressar nessa função pra quem tem vontade de destrinchar a coisa toda de uma forma ainda mais complexa? É preciso um aporte financeiro bem grande?
Paixão e dedicação são as principais características que uma pessoa precisa ter para poder mergulhar nesse mundo! Infelizmente é um universo que demanda um aporte financeiro muito alto, nada nessa esfera profissional é barato e nao adianta a pessoa achar que vai conseguir fazer milagre com equipamentos convencionais, isso não existe. É a mesma coisa que você achar que vai fazer uma cirurgia cardíaca de peito aberto na sala da sua casa com uma faca de cozinha…
Como brinquei acima, engenharia de áudio é um termo meio errôneo ao meu ver, tinha que ser medicina de áudio, seu estúdio é o seu bloco cirúrgico, as músicas são seus pacientes, e o produtor é a família angustiada do lado de fora perguntando “E aí, doutor?” Hahahahha…
Para finalizarmos esse bate-papo, você teria algum conselho importante para quem sonha em ingressar nessa área? Obrigada e até a próxima!
Maior conselho de todos: invista em ACÚSTICA, MONITOR, CONVERSOR e CPU (ultra potente), esses 4 itens são o pilar do jogo, seu resultado está na interação entre eles, se você tem um monitor de 30 mil reais e uma sala que não esteja tratada a altura do monitor você não está ouvindo! Depois disso, comece a pensar em Analog Gears…. (Ps.: acústica e engenharia, você precisa de alguém que calcule e calibre a sala, isso sim é sobre números).
Imagem de capa: divulgação