A coluna Guia de Profissões aqui do portal, nasceu com o objetivo de destrinchar profissões diversas dentro da indústria da música eletrônica pela ótica de quem já realiza trabalhos relevantes dentro dessa esfera.
Hoje, convidamos Emmanuel Soares, o Nunu Soares, para contar mais detalhes sobre seu trabalho como designer especializado em eventos e artistas da música eletrônica. Muito mais que criar identidades visuais, com sua empresa ap.46, ele ajuda as marcas a terem uma identidade que expresse seu valor e propósito de maneira coesa. Em seu currículo, temos clientes como Vintage Culture e Lollapalooza Brasil.
Se você quer saber mais sobre essa profissão, confira o bate-papo super legal e informativo que tivemos com ele.
Qual seu nome completo, sua cidade natal e há quantos anos você atua na área?
Emmanuel Machado Soares, tenho 32 anos e sou nascido em Três Pontas/MG. Trabalho na área há mais ou menos 10 anos.
Você se recorda de quando começou essa vontade de trabalhar como designer de música eletrônica e eventos?
Na verdade, trabalhar nessa área aconteceu sem querer. Fui chamado pra entrevista de estágio na agência Fun2u através de amigos em comum e comecei a trabalhar lá meio que sem saber muito onde estava me enfiando (só sabia que gostava de festa haha). Foi na época que estouraram as festas labels, ou seja, festas feitas por agências em lugares fora dos clubs: estádios, parques, praças, (fizemos festa até em posto de gasolina), e, com isso, fui adquirindo meio que na raça esse conhecimento de como cuidar da identidade visual de um evento, de ter um cuidado com o posicionamento de logos, DJs, criar apresentações de captação de patrocínio etc.
Se você não trabalhasse com o que trabalha hoje, qual área optaria por exercer?
Acredito que teria ido pra gastronomia, curto demais.
Por ser uma profissão diferente das demais, você teve apoio dos seus pais e amigos ou rolou um pé atrás?
Minha mãe e meu pai são médicos, mas desde sempre souberam que eu e meu irmão não iríamos pra profissões “padrão”, a gente sempre foi meio diferente (risos) e eles também sempre foram muito tranquilos quanto a isso. Sempre fizeram questão de falar pra gente que o amor pelo que faz é mais importante que tudo, e que não adiantaria fazer algo que a gente não gosta só porque possivelmente daria mais dinheiro e segurança.
O que minha mãe sempre ficou com pé atrás foi a questão de ser autônomo, freela, não ter um trabalho fixo. Lá no começo trabalhei em algumas agências, mas boa parte do tempo desses 10 anos na profissão fui freela e essa insegurança financeira (principalmente no começo) sempre a deixou preocupada, mas sempre acreditou muito em mim, então isso nunca foi um problema.
É inevitável termos inúmeros nomes como referência tanto no âmbito de mercado e vida pessoa. No seu caso, você teve/tem alguma referência de profissional ou mesmo uma pessoa que te inspirou desde o início?
Não tenho uma referência profissional, tenho várias. Ter referências é essencial em qualquer profissão, se espelhar em pessoas com mais ou diferentes experiências, buscar o melhor de cada um. Sempre curti arte num geral, criar, pensar criativamente, analisar logos, placas, então foi um processo natural, e ter boas referências no caminho foi essencial.
Qual foi a principal característica da sua profissão que foi primordial para que você seguisse nela até hoje?
Com certeza a liberdade criativa, a diversidade (uma hora estou estudando sobre comida coreana, na outra estou criando a capa de um artista), e, com o tempo, o dinheiro.
Jogo rápido:
1 destino dos sonhos? Japão
1 arrependimento de vida? Não ter tido a educação financeira que tenho hoje desde cedo. Guardem dinheiro crianças!
1 momento inesquecível sua carreira como designer? Vou ter que citar dois: produção de uma edição completa da revista Rolling Stone (design, diagramação) / trabalhar na direção do time de conteúdos em tempo real pro Lollapalooza Brasil.
1 momento inesquecível na sua vida pessoal? Com 20 anos fui morar em Londres e isso mudou minha vida. Aprendi a me virar, pagar minhas contas, ficar longe da família e amigos e saber lidar com isso, enfim… foi life changing… sempre digo que todo mundo precisa ir morar fora um dia, muda tudo.
1 música que te emociona? The Beatles - Yesterday
1 DJ? Vintage Culture. Sei que sou suspeito pra falar, mas é absurdo o que ele faz. Estamos juntos a 7 anos e sempre me surpreendo.
1 profissional do ramo? Vou citar duas agências que sou fã: Papanapa (branding) e Plau Design (tipografia).
1 Bebida? Sailor Jerry Spiced Rum. Um cuba libre com ele fica simplesmente inacreditável.
Sabemos que existe prós e contras em ser sócio/criador de umas das maiores agências do Brasil, que é a Estúdio Ap.46. No geral , como é trabalhar ao lado de grandes nomes tanto DJs quanto de outros profissionais do ramo?
Sempre que você se dedica e gosta do que faz, o difícil vira fácil e o fácil vira boring, saca? Claro que é complicado lidar com grandes artistas e agências, porque você precisa se reinventar toda vez, fazer seu melhor e algo único, novo, mas se você faz isso com tesão, é gratificante demais. Quando você tem em sua carta clientes grandes, sempre vão esperar algo grandioso de você, e essa pressão muitas vezes é foda de lidar. Mas com o tempo e experiência fui adquirindo o jogo de cintura e aprendido a entender as necessidades, entender feedbacks, entender que na verdade design é solução, é muitas vezes largar mão do que você como artista quer fazer, e fazer o que o cliente quer ver. Muitas vezes são coisas diferentes e você precisa saber lidar com isso. Saber tomar uma reprovação de algo que você achou foda e conseguir chegar onde o cliente quer. Entendendo esses pequenos detalhes, não tem erro!
Como surgiu o Estúdio Ap.46?
Desde que comecei a trabalhar na Fun2u, meu trabalho chamou atenção de outras agências, artistas, marcas. Não tinha ninguém especializado nisso aqui em São Paulo, então comecei a ter várias demandas vindas de outras agências e por serem concorrentes da que eu trabalhava, sempre recusei. Até um dia que decidi me jogar, criar minha própria agência no meu apartamento mesmo (daí o nome) e oferecer meu trabalho pra toda essa galera que eu estava recusando. Não foi uma decisão nada fácil, nem muito menos eu tinha certeza que ia dar certo, mas me arrisquei e foi uma escolha que mudou minha vida positivamente.
Toda profissão tem seus altos e baixos, mas no caso de designs de grandes marcas, quais são os pontos positivos na sua visão? E os negativos?
Os positivos são: primeiro essa imersão em diferentes assuntos, o estudo prévio antes de iniciar um projeto sempre trás um conhecimento diferente, e eu acho isso muito foda. E, como falei anteriormente, a liberdade criativa, poder usar sua criatividade pra desenvolver uma solução, dar uma cara pra uma ideia é algo muito gratificante.
Os negativos começam pela falta de valorização na nossa profissão, que ainda existe. Uma vez cobrei 3k pra criar a identidade visual de uma empresa e o cliente falou “pô, me da um desconto aí, já gastei 150k em todo o resto”. Ou seja: não valorizam ainda a importância de uma marca forte, uma comunicação coesa, uma identidade que expresse bem o valor e o propósito da marca.
Qual é a verdadeira função de uma designer dentro de mercado de música eletrônica? O que você considera essencial pra ingressar nesse ramo?
Eu sempre falo que design é solução, então seja no mercado de música eletrônica ou seja em qualquer área, a função do designer é criar algo que seja coeso com o que o cliente quer expressar. Seja criando o branding, seja a identidade de uma música o importante é simples: chegar no público certo. Por isso é muito importante pra ingressar nesse ramo que você primeiro goste da área, goste de música eletrônica. Não me vejo criando peças pra artistas sertanejos com a mesma qualidade que faço pra artistas de um estilo musical que eu curto. Segundo ponto importante é você expor seu trabalho, mesmo que inicialmente ele não seja dos melhores, se mostre nas redes sociais, mostre sua evolução, vá atrás dos artistas que você curte, faça trampos pra eles mesmo que pra você mesmo. Treino, repetição e acreditar na parada... não tem conselho melhor.
Aos interessados que pensam em mergulhar nessa área , quais características você considera primordiais para esse tipo de profissional?
Primeiro: força de vontade, persistência, e muito, muito estudo. Segundo: busca eterna por referências. Estar ligado nas tendências do mercado, no que tem rolado na gringa e aqui. A internet te dá todas ferramentas, tanto pra estudar quanto pra se inspirar e o mercado muda a cada segundo, precisa ficar ligeiro.
Para finalizarmos, você tem algum conselho importante para quem sonha ingressar como designer na música eletrônica? Ou em qualquer área da cena eletrônica?
Diferente de quando eu comecei, hoje tem várias pessoas “especializadas” nessa área, mas mesmo assim ainda tem muito espaço no mercado. Então como eu falei, primeiro passo é ter interesse. Se você tem interesse na parada, você já tem vários passos andados. Depois você vai precisar de muita dedicação e persistência. Saber que não é fácil, mas (pode ser clichê mas é real) se você acreditar, vai rolar.
Imagem de capa: divulgação