Você também esperava que a pandemia fosse um momento para a cena resetar?
Fala amantes do BPM, tudo bem com vocês?
Pretendo fazer deste espaço uma potencial mudança de chave no seu repertório, gerando reflexões e ainda mais ampla consciência sobre o que é viver pela música eletrônica.
Eu acredito que o nosso mercado tenha espaço para crescer muito mais, ser muito maior do que somos hoje. Mas é preciso crescer de forma sólida e sustentável. Quero ampliar a sua percepção do que está acontecendo neste exato momento em todo o planeta, literalmente. Quero inspira-los para um caminho ainda mais promissor e criativo em nossa indústria.
Estamos juntos.
Envie a sua crítica assim que ler a matéria. Só assim poderemos crescer e melhorarmos, juntos.
A hora é agora, a hora da mudança
Todos nós esperávamos que a pandemia fosse um momento para a música eletrônica e a cena "se reconfigurarem", mas um retorno ao costume que tínhamos anteriormente tem parecido muito mais provável. Como poderemos reconstruir o tipo de cena ideal para vivermos em ambientes criativos e promissores?
Vivemos algo que não poderemos viver novamente, é uma oportunidade para refazermos a cena em algo muito mais inclusivo e mais autêntico. Se não agora, quando? Um novo começo em seu melhor ‘momentum’ para tal.
Recentemente, a Nova Zelândia postou um vídeo mostrando o retorno por lá. Um país bem menor que o Brasil, mas que sempre pensou como muitos brasileiros. “Ah, quero me mudar pra Londres ou pra New York e fazer minha carreira por lá... é lá que as coisas acontecem."
Bom, veja bem, hoje a Nova Zelândia está muito feliz com a cena local e eles mesmos já mudaram este mind-set, dando oportunidade a novos talentos da cidade e com uma cena renascendo, literalmente, para um futuro brilhante, com muita solidez, qualidade e parceria.
Por exemplo, sabemos que já existem alguns line-ups sendo anunciados por aí, e entendo que muitos são provavelmente a remarcação do ano passado, mas a ideia de uma nova cena é que já poderia começar desde já, desprovida de Insta-DJs, valorizando a cena local, contratando DJs pela sua música, por seus valores, crenças e qualidades artísticas.
Fazendo um preambulo aqui, ocorreu um retorno aos eventos em Liverpool no fim de semana passado e que recebeu uma crítica pesada do Dave Clarke sobre o line-up. Não que o Sven Vath seja um Insta-DJ, pelo contrário, somos e devemos ser muito gratos a contribuição do Sven na música, mas o conceito de mind-set para uma ‘nova cena’ é similar a esta crítica que o Dave Clarke fez ao Yousef neste fim de semana. Se liga: “Liverpool tem ótimos DJs locais e que respeitaram a quarentena para um retorno sustentável da cena, mas mesmo assim o DJ Yousef, responsável pelo evento, convidou o alemão Sven Vath, que tocou em vários eventos covid por diferentes países durante a quarentena, tirando o lugar de DJs locais que respeitaram a sustentabilidade do setor, e portanto estes locais que deveriam retomar através do evento 'The First Dance' no último fim de semana."
Nomes como DJ Marky, Gui Boratto, Renato Cohen, DJ Patife deram a oportunidade do Brasil mostrar a sua capacidade intelectual na música eletrônica décadas atrás, e agora a geração do Alok e Vintage Culture também está na linha de frente, portanto é de agora em diante que devemos e podermos explorar muito mais a nossa cultura, a nossa diversidade brasileira que se compara a muitos poucos outros países. Nós temos um infinito de possibilidades aqui dentro do nosso país.
O nosso retorno e a nossa revolução não demonstram só um desejo sentimental pessoal meu, mas pelo o que sinto na voz do povo mais sofisticado é hora realmente de fazer algo novo, eles já não ouvem os mesmos artistas, eles já não possuem os mesmos costumes de festas e clubs, estão muito mais antenados e ligados com a qualidade da curadoria.
Imagina o retorno com uma cena inclusiva, tolerante e diversa, onde os DJs são contratados porque são bons, não porque são Insta-DJs. É uma cena em que dançamos e onde os DJs tocam porque amam. É um grito por algum tipo de retorno a uma memória do passado, onde começaram os primeiros clubs, os primeiros after-hours, os primeiros festivais; um anseio por autenticidade, realidade, festas reais, vibrações reais, DJs de verdade.
Entre os muitos efeitos do covid está a grande revelação do coração podre no centro de grande parte da cultura do DJ atual, com DJs pseudo-ricos circulando por hotspots cobiçosos, tentando ficar sob o radar da mídia social enquanto se alimentam às custas da saúde das populações locais, desrespeitando os médicos, infectologistas e cientistas.
A batalha pela autenticidade ocorre a cada dia, trata-se de bookar DJs por razões de qualidade, e garantir valor e oportunidades iguais a todos os DJs e produtores. É sobre considerar para quais eventos nós damos dinheiro, é sobre não tolerar ignorância. É sobre ser a mudança que você deseja ver, criar o tipo de cena que queremos por meio de nosso comportamento individual.
É apenas o início de uma ideia e que está aberta a críticas. Pretendo que o DJ e a cultura da dance music sejam também valorizadas pelos governos, a união pode ser um passo vital na cena que desejamos.
Sobre o autor
Michel Palazzo
Eu vivo exclusivamente pela música eletrônica desde 1997 (inspirado por 𝐉𝐨𝐬𝐡 𝐖𝐢𝐧𝐤 e 𝐓𝐡𝐨𝐦𝐚𝐬 𝐁𝐚𝐧𝐠𝐚𝐥𝐭𝐞𝐫). Já toquei em todos os Estados Brasileiros e em mais de 10 países diferentes. Conquistei e negociei dezenas de milhões de reais ao 𝐬𝐡𝐨𝐰 𝐛𝐮𝐬𝐢𝐧𝐞𝐬𝐬, trabalhando de 𝐋𝐚𝐮𝐫𝐞𝐧𝐭 𝐆𝐚𝐫𝐧𝐢𝐞𝐫 a 𝐂𝐚𝐫𝐥 𝐂𝐨𝐱, 𝐀𝐛𝐨𝐯𝐞 & 𝐁𝐞𝐲𝐨𝐧𝐝 a 𝐅𝐚𝐭𝐛𝐨𝐲 𝐒𝐥𝐢𝐦, 𝐏𝐚𝐮𝐥 𝐎𝐚𝐤𝐞𝐧𝐟𝐨𝐥𝐝 a 𝐃𝐚𝐫𝐫𝐞𝐧 𝐏𝐫𝐢𝐜𝐞 (𝐔𝐧𝐝𝐞𝐫𝐰𝐨𝐫𝐥𝐝). Criei o selo 𝐔𝐑𝐁𝐑 – 𝐔𝐧𝐝𝐞𝐫𝐠𝐫𝐨𝐮𝐧𝐝 𝐑𝐞𝐜𝐨𝐫𝐝𝐬 𝐁𝐫𝐚𝐬𝐢𝐥, que em 2002 alavancou o mercado fonográfico nacional, através de quase 40 títulos em 𝐂𝐃 𝐞 𝐕𝐢𝐧𝐲𝐥, posicionando mais de 200 DJs e produtores tupiniquins pela primeira vez nas principais megastores de todo o país.