Por Leo Lauretti.
Hoje mostraremos uma análise de como se comportou o TOP 100 do Beatport em 2020. Inspirado pelo post do EDMPROD, decidimos fazer uma análise do TOP 100 do Beatport em 2019 e 2020 para entender algumas coisas que nos intrigaram no ano passado. Além disso, nós olhamos a quantidade de plays de todas as tracks do TOP 100 quando escrevemos este post para contrastar algumas informações que nos geraram curiosidade.
Algumas questões que nós gostaríamos de responder com esta análise:
1. Será que o Coronavírus teve algum impacto nas vendas de 2020 vs 2019?2. Qual estilo musical perdeu tração em 2020? Qual ganhou?
Mas, também queríamos exaltar outras questões para ajudar os produtores brasileiros. Assim, analisamos também:
1. Qual é o tom mais presente no TOP 100?2. Qual é duração das tracks em cada gênero? Teve mudança de 2019 para 2020?3. Qual é a estrutura mais presente nas faixas? Existe alguma diferença de gênero para gênero?4. Estar no Beatport TOP 100 implica em milhões de plays no Spotify?
Depois de bastante análise, estes são os tópicos que passaremos por hoje para responder estas perguntas:
– O que você pode aprender e levar desta análise?– Por quanto tempo uma track fica no TOP 100?– A Dança das cadeiras dos Gêneros– O TOP 100 de 2020– A estrutura mais presente em 2020– O tom mais presente em 2020– Será o TOP 100 do Beatport uma garantia de plays no Spotify?
Importante ressaltar que este post só foi possível graças a uma parceria que fizemos com a Abstrakt Music Lab, escola de música do produtor brasileiro Leo Lauretti, este que escreveu o post original e traduziu o conteúdo para a Play BPM, e o BPTopTracker, que cedeu a base para que esta análise fosse possível.
O que você pode aprender e levar desta análise?
É fato que alguns gêneros musicais tem maior exposição no Beatport do que outros, então é provável que você tenha maior sucesso nessa plataforma de acordo com o gênero que produz, se você for um produtor. Assim, a primeira coisa que é necessário entender é como o seu gênero musical se comporta no Beatport.
Além disso, você pode ir mais a fundo. Por exemplo: entenda o tamanho das tracks no seu gênero musical, as estruturas e o fato de que sucesso no Beatport está longe de garantir sucesso no Spotify.
Por último, tente entender o quanto isto se alinha com os seus objetivos. Se você quer atingir 1 milhão de plays na sua track, mas as melhores faixas do seu gênero não possuem esta quantidade de plays, como você fará para atingir este objetivo? Sim, é possível, mas sua estratégia terá que ser diferente.
Não só isso, mas o simples fato de ter uma visão objetiva sobre os dados que o Spotify e o Beatport nos trazem podem te ajudar tremendamente. Se você quer ter uma carreira musical, terá que fazer algo que “pague as suas contas”, e esta visão pode te ajudar a entender os dados de maneira a detectar tendências e possíveis oportunidades para fazer sua arte brilhar ainda mais.
Por quanto tempo uma track fica no TOP 100?
De acordo com os dados de 2020, é bem provável que sua faixa não fique mais do que 15 dias no TOP 100 do Beatport se (e quando) você atingir esta meta. 54% das tracks que conseguiram chegar nesta lista em 2020 ficaram menos de 15 dias no chart, sendo que 41% não ficou nem 10 dias.
Atingir o TOP 100 do Beatport ainda é difícil, e mesmo considerando que 1651 faixas entraram nesta lista em 2020, apenas 413 delas (25%) conseguiu ficar mais do que 1 mês neste ranking. Olhe abaixo, em agrupamentos de 10 em 10 dias, o percentual de tracks por tempo de permanência:
A track que permaneceu por mais tempo entre 2019 e 2020 foi “Return to OZ” (Artbat Remix), do Monolink, que entrou em 18 de Maio de 2019 e saiu em 7 de Junho de 2020 pela primeira vez, entrando e saindo eventualmente em novas ocasiões para um total de 395 dias no ranking. Mesmo tendo saído do TOP 100 geral, ela continua firme e forte no TOP 100 do Melodic House & Techno:
A principal informação que podemos tirar dessa primeira análise é que se você ficar mais do que 60 dias no TOP 100, parabéns, sua faixa está num grupo de apenas 10% das faixas que entram no ranking. E entrar no ranking não é fácil, mas permanecer nele é mais difícil ainda.
A Dança das cadeiras dos Gêneros
Para entender qual foi o gênero musical mais presente no TOP 100, nós estabelecemos a seguinte metodologia: quantidade de faixas por dia de cada gênero por mês. Assim, se a “Losing It” do Fisher ficou por 30 dias no TOP 100, ela conta 30 pontos para o Tech House naquele determinado mês, combinado? Assim, é isso que temos na análise:
Alguns gêneros que não tiveram uma grande quantidade de pontos foram desconsiderados para não deixar o gráfico muito poluído. De qualquer maneira, é isso que podemos levar desta visão:
– Tech House vem perdendo forte presença no ranking, saindo de 700+ pontos mensais para 450-550 pontos. Ainda lidera, mas está perdendo em alguns meses;– House está crescendo bastante desde fevereiro de 2020, subindo para a segunda posição de maneira consistente e ultrapassando Tech House em alguns meses;– Desde maio de 2020, o Melodic House & Techno tiveram um forte ganho, assumindo a segunda ou terceira posição do ranking em diversos meses;– Techno Peak Time perdeu bastante espaço desde maio/20, mas vem retomando algumas posições no final do ano. Provavelmente, visto o fechamento de clubs em março e a preferência por lugares abertos deram espaço para o House crescer;– Enquanto o Deep House perdeu sua 5ª posição, o Drum ‘n’ Bass teve um grande ganho desde maio e se mantém forte na quinta posição;– Trance teve um pequeno boost no último trimestre de 2020, mas ainda não suficiente para assumir a quinta posição.
O TOP 100 de 2020
O TOP 100 de 2020 foi composto por 13 gêneros musicais, mas 77 das 100 tracks pertencem a apenas quatro deles. Olhe abaixo a composição dos gêneros por track:
Ou num gráfico de pizza por representatividade:
Se você ainda considerar somente as tracks que atingem o TOP 10, a dominância fica maior ainda, pois 85% delas estão em um destes quatro gêneros.
Por último, das 100 tracks, 11 foram marcadas como “Mainstream”, de maneira subjetiva, mas também baseada na presença em playlists com muitos seguidores no Spotify. No TOP 100, elas estão presentes em diferentes posições, do TOP 10 ao TOP 100, o que mostra que ser mainstream não garante necessariamente uma boa posição no Beatport.
Assim, o que podemos concluir com isso?
– Estes são os gêneros que estão tendo maior atenção por pessoas comprando faixas, e, provavelmente, refletem nos gêneros que estão sendo mais tocados no mundo. Assim, se você estiver produzindo um destes quatro gêneros, não só você terá mais chance de ser tocado como também terá maiores chances de estar no TOP 100;– Faixas “Mainstream” são apenas 11% do ranking, mas quando olhamos a quantidade de plays no Spotify, o jogo vai mudar.
A estrutura mais presente em 2020
Entrando mais a fundo, olhamos também a estrutura das tracks para entender se elas tem algum tipo de padrão mais comum. Para facilitar, ‘D’ são ‘Drops’ e ‘B’ são Breaks e Bridges. Vale ressaltar que não estou considerando INTRO ou OUTRO, isto é, os “extendeds” das faixas na análise. Isso foi o que achamos:
A grande maioria das tracks é composta por dois breaks/build-ups/bridges e três Drops (DBDBD), seguido por faixas que são estruturadas apenas com dois drops e um grande break (DBD). Outros fatos que podem gerar atenção:
– 70% das faixas de Tech House seguem uma estrutura DBDBD;– 70% das faixas de Techno seguem uma estrutura DBD;– 44% das faixas de Melodic House & Techno seguem DBDBD;– 50% das faixas mainstream seguem uma estrutura BDBD ou BDBDBD.
Apesar das estruturas serem parecidas, os tamanhos das tracks variam bastante de acordo com o gênero:
Visto a duração das faixas, podemos dizer que apesar das estruturas serem parecidas, a duração dos breaks/drops de cada gênero varia bastante. Algumas informações que achamos neste quesito:
– Progressive House não tem muitos breaks, e normalmente segue uma estrutura DBD, mesmo tendo a maior duração entre os outros gêneros. Isto significa que os drops e breaks são bem longos quando comparados a outros gêneros;– Melodic House & Techno, apesar de ter tamanho similar do Progressive House, tem a maioria das suas tracks em DBDBD, com o DBD em segundo e DBDBDBD em terceiro. Isso significa que os drops são normalmente menores e que a track varia mais do que o Prog House;– Techno é predominantemente DBD e é o terceiro gênero mais longo, o que significa que as tracks tem longos drops e breaks. Olhe abaixo a estrutura da track “SGADI LI MI” da Charlotte de Witte, uma das faixas de Techno mais vendidas em 2020:
– Faixas Mainstream são na média 14% menores do que faixas não mainstream (50s). Sua duração média é de 5m32s, o que, considerando um extended de um minuto no começo e no final, nos deixa com 3m30s de radio edit.
Entender o tamanho destas faixas do seu gênero é muito importante, uma vez que isto determina como a sua track vai fluir. É importante também ressaltar que não há fórmula para atingir o TOP 100, mas certamente conseguimos ver “fórmulas padrão” para os arranjos de cada gênero musical. Se você quer entender mais de como melhorar os seus arranjos, você pode ver este post ou este que a Abstrakt Music Lab escreveu.
O tom mais presente em 2020
Agora, vamos falar de tons musicais, e temos boas e más notícias. Começando pela notícia ruim, 30% das tracks estão em Lá menor (Amin) ou Lá sustenido menor (A#min), o que mostra uma certa concentração. Porém, todos os tons musicais estão sendo considerados na análise abaixo, o que é muito bom de ver:
Vamos comparar agora por gênero e unicamente olhando para tons maiores e menores:
73 das 100 tracks estão em tons menores, o que mostra uma dominância destes sobre os tons maiores. Alguns pontos interessantes:
– House é o estilo com maior presença e com um balanço um pouco menor do que a média geral;– Tech House é um gênero majoritariamente menor e, se olharmos mais a fundo, veremos que o tom tem 55% das suas faixas em Lá menor ou Lá Sustenido menor, o que pode mostrar algumas limitações de “para onde você precisa ir” para estar no TOP 100. Isto pode ocorrer por Lá menor ser composto apenas pelas notas em branco do teclado, o que faz com fiquem mais fáceis de ser tocadas.– Apesar de uma predominância de tons menores, TODOS os tons estão representados, o que mostra uma liberdade de tons para atingir o TOP 100
Apenas um disclaimer, este estudo considerou os tons descritos pelo site do Beatport diretamente, sem utilizar modos gregos ou outros tons, por exemplo.
Será o TOP 100 do Beatport uma garantia de plays no Spotify?
Não, e não tem relação alguma.
Beatport conta quantos downloads sua track teve na plataforma, o que hoje em dia é limitado principalmente a DJs ou pessoas que ainda não usam streaming. Porém, streaming hoje é responsável por 80% de como consumimos música, o que faz com que Spotify, Apple Music, e entre outros, sejam os lugares para o “ouvinte comum”.
Assim, o Beatport não tem qualquer relação com o play count do Spotify, uma vez que eles atendem públicos diferentes. Se você ainda não acredita, vamos aos números. Em 14 de Janeiro de 2021, contamos a quantidade de plays das 100 tracks no Spotify, e estes são os resultados:
– Das 100 tracks que estavam no TOP 100 em 2020, 76,5% de todos os plays no Spotify vieram das 11 tracks mainstream. De 1.023.661.728 plays que tiveram, 783.817.623 plays são do mainstream;
–“Head & Heart” do Joel Corry e “The Business” do Tiesto, sozinhas, somam 538 milhões de plays, 52,5% dos plays do TOP 100;
– Enquanto tracks mainstream tem em média 24 milhões de plays por faixa, excluindo “Head & Heart” e “The Business”, tracks não-mainstream tem uma média de 2.725.501 plays;– Houveram 13 faixas com menos de 200 mil plays no Spotify, 33 com 200k-1M, 42 com 1M-10M e 12 com mais de 10M, conforme o gráfico abaixo:
– Quanto mais você sobe no TOP 100, maior a chance de você ter mais plays no Spotify. Porém, temos tracks no TOP 20 com menos de 200k plays, então isto não é uma garantia. “Head & Heart”, do Joel Corry, é a número 99 do TOP 100, por exemplo;– Drum ‘n’ Bass, Funky/ Jackin House, e Minimal/Deep Tech são os três gêneros com uma media de plays inferior a 1 milhão.
Isso conclui que Beatport e Spotify são duas plataformas com públicos diferentes e, por isso, sucesso em uma não garante sucesso na outra. Muito pelo contrário, tracks no TOP 100 tem menos plays que várias faixas que não subiram a este ranking.
Apesar disso, quanto mais tocarem suas tracks em eventos que foram baixadas, provavelmente pelo Beatport, mais ouvintes você pode ter no Spotify, então a presença das suas faixas no Beatport é importante para manter presença na plataforma.
Sobre o autor:
Leo Laurettié produtor e dj de progressive trance, apesar de constantemente lançar tracks com um pouco mais levado ao progressive house, e já teve support de grandes nomes da cena como Armin Van Buuren, Above & Beyond, Cosmic Gate, Ferry Corsten, entre outros. Além disso, hoje também é o criador da sua escola de música, Abstrakt Music Lab, focada em produção de música eletrônica.