Atualmente, quando se pensa em música eletrônica no Brasil, automaticamente dois cenários vêm à mente: São Paulo ou o litoral catarinense, com seus clubs como a Green Valley, Warung, El Fortin e, atualmente, o Surreal Park. Porém, a Play BPM veio falar, em específico, sobre a Grande São Paulo.
De convenções a eventos esportivos, não é de hoje que, se algum artista anuncia uma turnê pelo Brasil ou América Latina, a primeira cidade que se pensa é São Paulo (SP). E, com a música eletrônica, isso não seria diferente. Do mainstream ao underground, não precisa nem ver o cartaz da turnê para saber que vai ter um show lá, e isso não é à toa.
Acontece que, durante seus anos de existência, a cidade alcançou a marca de mais de 11 milhões de habitantes, ocupando o posto de maior setor financeiro da América Latina, dando à cidade um status de megalópole. Isso fez com que São Paulo concentrasse uma grande parcela da renda do país, com empresários de todos os lugares fazendo negócios na região e dando infraestrutura para eventos de grande porte.
Ou seja, fazer eventos em SP é "jogar no seguro", porque além da gigantesca população, você ainda tem o alto fluxo de pessoas vindo de todas as partes do país e do mundo o ano inteiro por variados motivos. E mesmo que seja um evento destinado a um público "premium", algo correspondente a somente 1% da população da cidade, isso já é muita gente e o evento consegue se pagar. Sem contar com a logística: SP é uma cidade que tem voos diretos da maioria dos estados do país, e, se há algum voo internacional chegando no Brasil, provavelmente ele irá primeiro para São Paulo.
Muito se fala sobre como dá trabalho chegar na Laroc/AME ou em Itu para o Tomorrowland, mas uma realidade que o residente de São Paulo pouco conhece é a rotina de todo fã que mora fora de lá. E, quando nós dizemos isso, nos referimos, em especial, aos que moram fora do estado e, principalmente, fora do eixo Sudeste/Sul. Esse, meus amigos, é o fã de verdade.
O que seria um simples rolê de final de semana para aqueles que moram em São Paulo, para este fã é uma jornada com meses de preparo, onde, além do ingresso, ele deve se planejar para comprar uma passagem de ida e volta, com voos de até 6 horas de duração contando com escalas, hospedagem, transporte e alimentação.
Há relatos de pessoas cruzando o Brasil de Manaus a São Paulo de moto para realizar o sonho de ir ao Tomorrowland. E, de verdade, esses fãs merecem todo o respeito do mundo e merecem ser vistos.
Acontece que o Brasil, tem, atualmente, em todas as suas regiões, mais de uma capital com estrutura e público pagante para eventos de grande porte. Claro que há, talvez, um desafio logístico e questões regionais, mas, com os avanços atuais, não há nada que de fato impossibilite.
Além disso, o país tem diversas áreas visadas mundialmente e que seriam plano de fundo perfeito para festas do gênero e que podem atrair facilmente pessoas de fora. Afinal, quem não iria gostar de um rolê no meio da Floresta Amazônica, ou nos Lençóis Maranhenses, Chapada dos Veadeiros ou nas praias paradisíacas do Nordeste?
Aliás, muitos eventos assim já vem acontecendo, só que, muitas vezes, por capital estrangeiro - e nada disso ficou aqui no Brasil. Um exemplo disso é a Immersion Community, que, de anos em anos, organiza expedições e festas dentro da Floresta Amazônica, partindo de Manaus, com ingressos focados no público europeu que chegam a 3.000 euros.
Além disso, a própria cidade, em 2023, contou com um show gratuito para a população do David Guetta e, no passado, já recebeu artistas como Carl Cox, Jamie Jones, Fatboy Slim, Tale of Us, tudo isso nos anos 2000 - porém, isso é papo para outro texto.
Belém recebeu um show hiper produzido do Alok com mais de 250 mil pessoas e receberá a COP 30 neste ano. Os Lençóis Maranhenses acabaram de receber uma gravação de set do Diplo. Vimos, neste ano, festas incríveis como a Intro, em Fortaleza, com Marco Lys como atração principal, além de outros lugares pelo Nordeste, como o Réveillon Carneiros (PE), que conta com atrações gigantescas.
Estes são sinais claros de que existem, sim, muitas cidades fora do eixo Sudeste/Sul preparadas para receber eventos com um público realmente engajado de forma mais recorrente. E não só isso: podem se tornar verdadeiros polos do gênero. Assim como Tulum, uma pequena e pacata vila mexicana se tornou um dos epicentros da música eletrônica global, temos potencial para impulsionar novos mercados dentro da cena eletrônica brasileira.
Imagem de capa: Reprodução.
Conteúdo Autoral - por Lucas Gheller