Música eletrônica e Big Brother Brasil: o que significa para a cena aparecer no horário mais nobre da TV?
Que o Big Brother Brasil é um programa de sucesso que influencia milhões de pessoas, isso não podemos negar. Mas você já parou pra pensar o que significa, em termos de visibilidade, aparecer no horário mais nobre da televisão brasileira?
Não estou falando dos participantes, mas também das empresas, artistas e músicas que deixam suas marcas na cabeça de cada um dos telespectadores. Ter alguns minutos, às vezes segundos, de aparição no horário mais nobre da televisão é, de fato, transformador.
Vamos explorar aqui um pouco o que isso representa em números. Segundo a emissora de televisão Globo, o reality show alcança uma média de 40 milhões de pessoas diariamente, então aparecer na telinha significa aparecer para um número imensurável de indivíduos. Assim, já pensou no que isso significa para um artista? Para um estilo? Para a música eletrônica?
Para vocês terem noção, o BBB 21 possui uma média de audiência de 27 pontos no Painel Nacional de Televisão, o que significa cerca de 7 milhões de televisões ligadas no programa. Não só em audiência, o sucesso do BBB também refletiu em faturamento para a Rede Globo. Quem acha que o reality tem um prêmio alto, não faz ideia do quanto custa uma cota de patrocínio para o programa. Sabe a Americanas, o PicPay, a Avon, a C&A e todos os outros patrocinadores do reality? Pois bem, cada um teve que desembolsar até R$ 78 milhões para estar na maior vitrine do país. Na reta final, o intervalo comercial do programa chegou a custar mais de R$ 500 mil, o que fez com que a emissora abrisse espaços entre a eliminação e o bate-papo do eliminado com o intuito de encaixar mais anunciantes.
Além disso, o Big Brother também bombou nas redes sociais. Só no Twitter, foram feitas 172,4 milhões de publicações espontâneas até o dia 27 de março. Entraram nos trending topics 4.078 termos relacionados ao programa, sendo que 1.025 estiveram entre os temas mais discutidos do mundo. Em relação às marcas patrocinadoras, a Avon triplicou seu faturamento no e-commerce, a Lacta teve estoques de ovos de páscoa esgotados durante o feriado e a Samsung também teve seu novo smartphone de mais de R$ 8 mil, Galaxy Flip, esgotado no site oficial.
Mas e o que isso tem a ver com música eletrônica? Vamos explicar!
Sabemos que a música eletrônica ainda não é o estilo musical preferido da maioria dos brasileiros. Em um país onde o funk e o sertanejo dominam, ter artistas da dance music aparecendo no maior ibope da televisão traz consequências positivas muito absurdas.
Na festa “Memórias”, a última dessa edição, grandes nomes da música eletrônica se apresentaram e o burburinho na cena foi grande. “Vocês viram que o Meduza vai tocar no BBB?”. “Meeeeeeu Deeeeeus! O Guetta vai se apresentar no programa?”. “Eu ouvi Tiësto??? É isso mesmo produção?”. Essas foram algumas frases ditas e escritas pelos amantes de música eletrônica nos grupos de WhatsApp, nas redes sociais e ao vivo.
Não foi a primeira vez que o Big Brother contou com a presença de grandes nomes da dance music. Na vigésima edição do programa, Martin Garrix se apresentou em formato live e nesse ano, quase metade dos artistas da última festa do BBB eram de eletrônica. Bruno Martini, Meduza, David Guetta e Tiësto foram os escolhidos e foi incrível ver a reação dos brothers quando cada um foi revelado no telão.
Em outro momento do programa, Alok também marcou presença, sendo, então, sua terceira aparição no BBB. Cat Dealers também já se apresentou no reality em 2019. Ao longo de todas as festas, músicas de diversos artistas brasileiros foram responsáveis por agitar as noites. Vintage Culture, Cat Dealers, Flakke, Dubdogz, Chemical Surf, Bhaskar, KVSH, Double MZK e Zerb são alguns que podemos citar.
Tudo isso tem um valor muito inestimável para a disseminação da música eletrônica no Brasil, para romper com preconceitos ainda existentes e para que a cena seja reconhecida como de extrema importância para a nossa cultura. Porque sim, ela é tudo isso, ela tem esse poder. Sabemos mais do que ninguém que música eletrônica é sobre amor e sobre união e não tem nada mais incrível do que isso.
Bruno Martini, um dos artistas que se apresentaram na festa, disse à Play BPM que ficou muito feliz com a oportunidade de poder participar de um programa que possui enorme expressão nacional e até mesmo internacional. “Hoje em dia eu acho que é o programa mais comentado do país, e mesmo quem não acompanha na TV, acaba acompanhando em todas as redes sociais, então eu fiquei muito feliz com o convite. Foi muito legal ver a cena eletrônica ganhando um espaço enorme mais uma vez. É um prazer tocar ao lado de DJs como David Guetta, Tiësto e Meduza."
Além disso, o DJ ressalta: “A visibilidade de aparecer no Big Brother é uma coisa muito bacana porque vamos cada vez mais conquistando nosso espaço no mercado brasileiro. E a música eletrônica, mais uma vez, se fortalece e mostra ser um gênero que deve ser mais respeitado no Brasil.”
Juliette Freire, a campeã dessa edição, já soma mais de 28 milhões de seguidores em suas redes sociais. Quem acompanhou o programa, viu que ela ficava até o final em todas as festas e que ela tem um repertório musical incrível. Além de ser aquela pessoa que com certeza iria colar nos afters com a gente, ela chegou a mencionar Bhaskar e Mojjo, dizendo que gosta muito de ambos. Inclusive, Bhaskar chegou a criar uma playlist "Rave no Arraiá" no perfil de Juliette no Spotify.
Quem disse que ela também não foi em um show do Liu?
Além disso, em outro momento do programa, os participantes Sarah Andrade e Arcrebiano, mais conhecido como Bil Araújo, declararam ser fãs de carteirinha do duo Dubdogz.
Quando pessoas influentes como Juliette e a maior emissora de televisão do país abrem espaço para a música eletrônica, mais pessoas e outros veículos de comunicação fazem o mesmo. E é exatamente por isso que fazemos o que fazemos: para que mais pessoas saibam, falem sobre, escutem e vivam a música eletrônica.
Para entender mais ainda como foi a organização da festa “Memórias”, entramos em contato com Fernanda Witis, que trabalha no setor de gestão de produção musical na rede Globo, sendo responsável por gerir os conteúdos musicais no Big Brother Brasil. Ela nos contou que para montar o line-up do evento foi necessário recorrer ao mercado para entender o que seria ideal. Assim, eles concluíram que seria interessante manter um “braço brasileiro”, que contou com Luan Santana, Daniel, Jota Quest, Alceu Valença e Wesley Safadão, mas também expandir para artistas internacionais, com o objetivo de fazer jus à versatilidade do povo brasileiro.
Fernanda, que é também DJ, produtora e apaixonada por música eletrônica, se sente muito orgulhosa por ter feito parte desse processo e fica muito feliz em ver a música eletrônica, que ainda sofre tanto preconceito, rompendo barreiras na TV e sendo disseminada para diversos públicos de diversas classes, o que é extremamente importante para a popularização da cena. Essa é uma tarefa que teve e ainda tem muita influência do DJ Alok, que foi um dos responsáveis por abrir várias portas no segmento. No entanto, é preciso ir além, segundo a profissional. É preciso seguir adiante nesse caminho, chamar mais artistas para a televisão, para outros programas, para outras mídias.
Em seu depoimento, ela acrescenta que a música eletrônica ainda sofre muito de “não associação de imagem”. Ou seja, é normal que pessoas conheçam os hits, mas não saibam quem está por trás deles. No caso do Meduza até o Fiuk comentou: “é aquele daquela música dãrãrãdã” , sobre o início de “Piece of your heart”. Para Fernanda, um line-up com David Guetta, Tiësto, Meduza e Bruno Martini, faz com a cena se torne cada vez mais expressiva. Além disso, faz a fusão entre a música eletrônica do Brasil com a música eletrônica mundial, que é onde precisamos estar.
Considerando tudo isso, ela acredita que a decisão tomada para a festa foi um “golaço”, tanto para a televisão, como para a música eletrônica em si. “A importância dessa festa em um dos programas mais vistos da TV brasileira foi fundamental, considerando o quão grandioso é isso. Eu fico muito orgulhosa em ter feito parte da organização dessa festa, mas muito mais por ter entregado um momento tão importante e significativo para a cena que eu sou apaixonada e que me proporcionou tudo que eu tenho hoje, considerando que toda a minha trajetória começou porque eu comecei a ser DJ”, disse.
Fernanda finaliza seu relato dando um conselho para os futuros DJs e leitores da Play BPM: “Se capacitem, se profissionalizem e não virem as costas por causa da fama de que aparecer na TV é isso ou aquilo. A TV é hoje um dos instrumentos de comunicação mais justos, porque se comunica com um Brasil de classe média, um Brasil pobre e é isso que a nossa música tem que fazer: se comunicar com todas as classes para quebrar barreiras e bater de frente com segmentos que já fazem isso. A música eletrônica não tem que ser nichada, mas sim aberta para o mundo.”
A felicidade chega a não caber no peito do tanto que é lindo ver o Brasil dando mais espaço e valorizando a música eletrônica, como deve ser. Ver DJs e produtores no horário mais nobre da televisão, dentro do programa de maior audiência do Brasil, é um acalento para os nossos corações e nos faz reforçar a ideia de que tudo que estamos fazendo vale muito a pena. A cena brasileira é gigante, mas muito menor do que deveria – e vai ainda – ser. Esperamos que cada vez mais a televisão, as redes sociais, as mídias e as pessoas falem sobre música eletrônica, para que ela toque cada vez mais corações, como tocou e sempre tocará os nossos.
Sobre o autor
Cissa Gayoso
Sendo fruto do encontro de uma violinista com um violonista, a música me guia desde sempre e nela encontrei a família que escolhi para chamar de minha. A partir de 2021, transformei minha paixão em profissão e, desde então, vivo imersa nas oportunidades e vivências que este universo surpreendente da arte me entrega a cada momento! De social media à editora-chefe da Play BPM, as várias facetas do meu ser estão em constante mudança, mas com algumas essências imutáveis: a minha alma que ama sorrir, a paixão por música, pela arte da comunicação, e as conexões da vida que fazem tudo valer a pena! 🚀🌈🍍