Os impactos da indústria musical na atual situação climática do planeta
É 2022 e a crise ambiental continua ficando cada vez pior. Na verdade, durante anos os especialistas em clima já vêm nos alertando que fenômenos extremos, antes frequentes uma vez a cada década, estão aumentando em ritmo pavoroso. Recentes relatórios científicos apontam que, no curso atual, a Terra pode aquecer 1,5 graus até 2030 (marca antes prevista somente para 2040, de acordo com o IPCC: Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Ainda segundo o IPCC, mais de três bilhões de pessoas encontram-se ameaçadas pelo aquecimento global, devido às secas, inundações e incêndios florestais que levam, por exemplo, à queda na produção de alimentos e aumento de doenças relacionadas ao consumo de água.
Dentro da indústria da música, sobretudo na cena eletrônica, uma questão que deve ser discutida é a enorme pegada de carbono que DJs, gravadoras, festivais e fãs emitem durante tours internacionais. Para se ter uma ideia, de acordo com dados levantados pelo veículo Resident Advisor, só os considerados mil melhores DJs do mundo coletivamente fizeram 51 mil voos e lançaram 35 milhões de quilos de CO2 no ar em 2019. Ou seja, com certeza as viagens aéreas são as maiores responsáveis pela grande produção de carbono liberada por ravers.
Para a maioria dos artistas, cujos meios de subsistência estavam ameaçados pela pandemia, é claro que o retorno às apresentações presenciais foi uma tábua de salvação, mas, na realidade, isso também volta a contribuir num colapso climático. Então, o que as comunidades, não só da Dance Music, devem fazer para tornar o seu presente e futuro mais sustentáveis? A compensação ao carbono pode ser um dos primeiros passos ecológicos adotados. Esta prática permite que indivíduos e empresas reduzam suas emissões de CO2 através de retribuições ao meio ambiente, como investimentos em projetos de energia renovável, de eficiência energética e programas de financiamento a proteção das florestas.
"2019 foi o primeiro ano em que, ao fazer uma turnê bastante pesada, comecei a me conscientizar em procurar soluções para reduzir os impactos que eu mesmo provoco no planeta", afirma Darwin, DJ e promotor que mora na Alemanha e no México e cujo seu nightclub REEF, com sede em Berlim, já arrecadou até fundos para projetos de preservação de recifes de coral.
Por outro lado, em 2021, a Clean Scene, grupo de cunho climático fundado por uma aliança de trabalhadores da indústria fonográfica, divulgou o relatório "Last Night A DJ Took A Flight". Os resultados deste documento provocaram discussões públicas muito interessantes sobre quais ações realmente devem ser implementadas para impulsionarem mudanças sistêmicas no mundo da música. Um dos pontos mais debatidos devido tal levantamento foi justamente a possível fragilidade que a própria prática da compensação ao carbono pode apresentar, pois não só dentro como fora do meio artístico, grandes empresas e consumidores individuais ainda conseguem atuar de maneira pesada no meio ambiente mesmo apoiando iniciativas de preservação do clima.
Michael Fichman, professor de Planejamento Urbano da Universidade da Pensilvânia, DJ com nome artístico Michael The Lion e integrante do grupo “DJs For Climate Action”, já defende que temos que caminhar a um destino mais sustentável através de práticas diretas, como diminuir o consumo de gás, petróleo e carne, por exemplo.
Voltando a relação entre indústria da música e meio ambiente, devemos sempre lembrar que a emissão de carbono de uma festa não inclui apenas o quanto o headliner poluiu para chegar até lá, mas também o quanto todos os participantes envolvidos poluíram, quanta energia consumiram e quantos materiais desperdiçaram ao longo do evento. Enfim, independente da maneira que você deseja contribuir na preservação da Terra, o fundamental é transformar essa boa vontade em realidade.
Fonte: Resident Advisor
Imagem de capa: divulgação
Sobre o autor
Douglas Anizio
Redator da Play BPM, Freelancer e graduado em Administração. Um eterno apaixonado por Música Eletrônica.