Provavelmente você já está familiarizado com a ideia de produzir música em casa, de ter um home studio no seu quarto. Mesmo que você apenas curta o tema e não seja da área, provavelmente deve ter visto alguém fazendo música assim.
Mas uma coisa eu garanto: nem sempre foi tão fácil. Na verdade, esse conceito é tão novo e surreal que, se contássemos isso para músicos e produtores da década de 80 para baixo, eles provavelmente dariam gargalhadas na nossa frente e nos zoariam.
Música, muitas vezes no imaginário popular, está sempre associada a algo barato. Com certeza você já deve ter ouvido alguém dizer: “Ah, mas ele não tem custo para fazer a música, é só abrir o computador, fazer uma música e ganhar dinheiro”. Mas, na verdade, é um dos ramos mais caros do mundo (se você já tentou comprar uma CDJ no Brasil, sabe do que estou falando).
Antigamente, para fazer e gravar música, você precisava de equipamentos gigantes, estúdios, anos de prática e instrumentos analógicos caríssimos. Não é à toa que o mercado musical era completamente vertical e centralizado (na verdade, o mundo era). Ou você tinha uma gravadora, ou não entrava na indústria.
Não é por acaso também que você conhece gravadoras de conglomerados como Sony, Philips, Warner e Universal, pois, na verdade, eram as únicas entidades com capital para cobrir os custos de uma produção de discos. E não só isso, essas empresas vendiam produtos como toca-discos, rádios ou toca-fitas e precisavam que artistas lançassem músicas para que as pessoas tivessem motivos para comprar seus produtos.
Tudo isso só começou a mudar em meados da década de 80 com o avanço da tecnologia. Na verdade, os computadores foram responsáveis por democratizar o acesso à produção musical. Com o lançamento de instrumentos eletrônicos, pessoas de classes sociais mais baixas conseguiram fazer e gravar suas músicas. A própria house music surgiu disso, com o lançamento de instrumentos eletrônicos como a TR-808 ou TR-909.
Muitos músicos tradicionais rejeitaram a ideia, dizendo que as baterias eletrônicas não tinham alma. Na época, fazer música com computadores era considerado o mesmo que fazer música com IA atualmente. Isso barateou os custos e permitiu que DJs amadores adquirissem esses instrumentos.
Um fato curioso é que, em Chicago, assim como em outras cidades dos Estados Unidos, havia constantes apagões, e muitas pessoas aproveitaram para saquear lojas de instrumentos, conseguindo assim sintetizadores, baterias e gravadores. Agora, pessoas que nunca haviam tocado um instrumento antes ou passado por uma faculdade de música poderiam fazer música à sua maneira, criando coisas totalmente fora do padrão, já que não havia escrúpulos. E, dessa forma, revolucionaram o mercado musical (algo com o qual muitos produtores atuais podem se identificar).
O digital nos deu infinitas possibilidades. Afinal, o único limite do digital é ele mesmo. Hoje em dia, podemos ser uma banda inteira, um vocalista, apenas abrindo nossas DAWs, plugins e utilizando nossa imaginação de uma forma extremamente mais barata. E ainda temos o poder de distribuir músicas por conta própria em vários canais.
São várias as histórias de pessoas que usaram um celular com o FL Studio ou um microfone de fone de ouvido para gravar algo e fizeram sucesso no mundo todo. Então, da próxima vez que você olhar para o seu PC com a sua DAW aberta e seu fone de ouvido, lembre-se:
você pode fazer muito com o pouco que tem!
Imagem de capa: Reprodução.