Opa jovens! 7 anos de Play BPM e eu tive a honra de receber o convite para trazer 7 dicas de produção. Claro que nessas horas vem sempre aquelas coisas bem clichês na cabeça, como falar sobre a escolha do kick perfeito, dicas manjadas de equalização ou passar números mágicos do compressor, mas dessas informações a internet está repleta e, convenhamos, ninguém aguenta mais ouvir esses tópicos.
Então busquei trazer coisas que não são tão comuns de se ouvir por aí e passam longe da parte técnica, mas que você deveria saber o quanto antes se visa ser um artista reconhecido na cena da música eletrônica. Bora?
Dica #1: ouça referências da sua vertente e pesquise sempre por novos artistas
Não é de hoje que você escuta que precisa ouvir referências, mas vejo que muita gente entende esse ponto de maneira equivocada ou é preguiçosa mesmo. Mas o que é equivocado nisso? Ouvir uma referência não deveria ser algo singular e muito menos um pretexto para copiar algo (e às vezes copiam tudo) de uma única track. O processo de ouvir referências (e coloco no plural, porque são várias mesmo) deve ir além. É fazendo isso que seu ouvido vai estar sempre familiarizado com os sons que tão rolando por aí e, eventualmente, você vai começar a criar gosto por algumas coisas mais específicas. Na hora que der aquele "bloqueio criativo", você já está com o ouvido mais calibrado e entende melhor suas próprias preferências. Mas onde pesquisar? Você pode começar ouvindo sets dos DJs que são os mais conhecidos na vertente que você produz e, desses sets, você vai começar a descobrir novos artistas e novas labels que tem a ver com teu som. E aqui mora uma imensa lista de pessoas que não são tão bigs ainda, costumam ser mais acessíveis e possivelmente vão te dar suporte mais fácil do que os grandes nomes.
Dica #2: muita teoria e pouca prática só vai te tornar um demagogo
Já conheceu alguém que falava bonito, parecia manjar demais de assuntos técnicos mas não fazia nada além do bla bla bla? Aquele indivíduo que sabe apontar todos os defeitos de uma música, sabe a solução pra ela, mas produção própria nem a mãe dele conhece? Se você ficar loucamente estudando, você corre um grande risco de se tornar essa pessoa chata (e muitas vezes amargurada). Estudar é um desafio, mas conforme você vai entendendo do assunto e, claro, se o assunto te interessa, começa a ficar gostoso. As coisas vão fazendo sentido, você começa a ligar os pontos e cada vez mais quer conhecimento. Porém no ramo da produção musical, se você não praticar, você é apenas uma Wikipédia. É na prática que você realmente vai testar algo, vai validar se algo realmente funciona, muitas vezes vai encontrar furos em uma teoria e, principalmente, vai fazer algo concreto. O problema é que ficar estudando é gostosinho. Colocar em prática é desconfortável, porque você precisa se mexer. Mas é durante a execução que nascem os projetos. E cuidado: se você estuda muito e não pratica, você fatalmente vai ver um amiguinho conseguir mais coisas que você manjando nem metade do que você sabe.
Dica #3: o que as gravadoras estão lançando hoje não é o que elas estão procurando para lançar no futuro
Lançar em uma gravadora é um processo demorado. Geralmente, quanto maior é a gravadora, mais tempo vai levar para você ver seu EP na rua. E quando um lançamento sai, muito provavelmente ele já foi assinado há uns seis meses pelo menos (isso sem contar o tempo que o produtor levou para fazer a track e ficou procurando label). Ou seja, ouvir o que a label está lançando hoje e se espelhar naquilo para fazer um som que você deseja estar nela não costuma funcionar. Você precisa saber o que eles vão lançar futuramente. "Ahhh beleza, e qual o WhatsApp da Mãe Dinah da Eletrônica?" Esse número infelizmente eu não tenho, mas vou finalizar com uma dica de ouro: ouça os sets que os DJs dessas labels estão tocando. Muito provavelmente eles vão testar em seus sets tudo que será lançado e aí você tem uma base melhor do que talvez eles procurem.
Dica #4: a mix não é a etapa mais importante da sua música
Pois é, meu jovem, não quero te chocar não, mas a mix é só um detalhe da produção - e nem é o detalhe mais importante. Quantas músicas você já viu bombar numa pista e a mix nem estava lá essas coisas? Talvez você já tenha presenciado o contrário também: uma track soando maravilhosamente bem no PA da festa mas a galera mal dançava. A mix pode fazer uma imensa diferença em uma música, mas é fato que ela só vai trazer resultados concretos se essa música for boa, ou seja, se ela tem timbres bacanas, tem um arranjo que conta uma história, existe uma direção ao longo da track, ela emociona quem a ouve e ela se encaixa na estética da vertente. Se sua música não tem nada disso, nem perde tempo estudando mix porque não vai adiantar nada.
Dica #5: para sair da caixa, você precisa estar dentro de uma
Uma vez estava rolando uma discussão nos stories do meu Instagram sobre "sair da caixa". O papo era que para se destacar, você tem que fazer algo novo, que te diferencie da média. E aí eu insisti na questão de que a gente precisa fazer o arroz com feijão bem feito primeiro. Um amigo me mandou uma mensagem com a frase: "a galera quer sair da caixa, mas nem na caixa tá". E isso fez total sentido para essa discussão. Muitas vezes a gente fica nessa fissura de querer fazer algo diferente, inovador, que quebre os padrões. Isso é importante e acredito que deva ser buscado sim, mas na hora certa. Se você não consegue fazer nem o que a média fez, talvez ainda não seja a hora de inventar moda.
Dica #6: saia de casa e vá viver a pista
Essa é meio clichê né? Desculpa, evitei ao máximo essas dicas, mas é real: sai da toca jovem. Você precisa vivenciar uma pista para sacar o que determinadas coisas técnicas, de arranjo, de timbre, causam na galera. E isso vai te ajudar imensamente a pensar na hora em que você está fazendo música para pista. "Ahh mas morando em São Paulo é fácil falar isso". Sim, de fato posso me considerar privilegiado por estar em uma cidade que movimenta muita coisa na noite, mas se eu morasse em um local afastado, iria dar meus pulos para, sempre que possível, estar em alguma festa maior em uma grande cidade. Além disso, hoje temos a internet fazendo streaming de tudo quanto é festival. Só focar nessas transmissões se você está longe da pista.
Dica #7: teste sua música em seus sets e também nos sets dos outros
Terminou aquele hit do verão e quer saber se ele vai soar bem mesmo? Grave um set com outros hits do verão e mixe sua música no meio de duas igualmente potentes. Esse singelo ato vai revelar muita coisa, como se a mix está batendo à altura das referências, se a estética está casando com as outras, se ela está amigável ao DJ (dj-friendly), entre outras coisas. Outro ponto legal de testar: suponha que você queira lançar na Afterlife. Pare por um momento e se pergunte: "será que o Tale Of Us tocaria minha música?". Felizmente sonhar não custa nada, então bora fazer um teste. Pegue um set recente deles, corte um pedaço do set e enfie sua música lá no meio. Veja se faz sentido. Isso também pode te trazer vários insights.
É isso jovens. Obrigado pelo convite e vida longa à Play BPM. Sigam fazendo esse ótimo trabalho para todos nós :)
Por Andre Salata
Imagem de capa: reprodução internet