7 Anos de cena eletrônica no Brasil (2015-2022) - Retrospectiva
Faz 7 anos que o Play BPM acompanha de perto o desenvolvimento da cena eletrônica no Brasil. Fizemos esse recorte de 2015 a 2022 para analisarmos os principais acontecimentos que moldaram a indústria de hoje. Muitos de nossos leitores não viveram os eventos intensamente durante esses anos, mas para aqueles que puderam, fica aqui nosso convite à nostalgia.
2015
Golden year - O Ano de Ouro
Um ano mágico para os amantes da dance music. Estávamos na crista da onda do EDM e o Brasil era ponto de parada obrigatória das turnês internacionais.
David Guetta, na época, um dos maiores DJs do mundo ao lado de Hardwell, fez 12 apresentações no país, com passagens por Florianópolis, Atlântida, Guarapari, Recife, Fortaleza, Belo Horizonte, Uberlândia, Brasília, São Paulo, Ribeirão Preto e Rio de Janeiro.
O Tomorrowland aterrissou no Brasil em abril daquele ano com a promessa de trazer toda a mágica do festival belga ao Parque Maeda. Brasileiros brilharam no palco principal, como FTampa, que estava no auge de sua carreira até agora. O Big Room, chamado de EDM, reinava o mainstage, e milhares de pessoas pulavam e gritavam a cada track. Mas aqui já víamos o espaço que o tal do Brazilian Bass estava ganhando.
Em outubro, nasceu o Laroc Club com o intuito de trazer aos paulistas um clube de respeito. As expectativas eram altas, e como podemos ver, cumpridas. Hoje, a casa é #9 no Top 100 Clubs da DJ Mag UK, mostrando sua magnitude e presença. O headliner da abertura foi Nicky Romero, que mostrou de fato a força do EDM.
O autódromo de Interlagos recebeu em Dezembro o festival norte-americano Electric Daisy Carnival com um line-up estelar. O EDC São Paulo, em edição única, encerrou o calendário de eventos de um ano cheio de brilho para os fãs.
No lado das sonoridades, foi em 2015 que o remix para a faixa “BYOB”, do System of a Down, foi produzido pelo até então “pouco conhecido” Alok. Isso o colocaria no mapa das estrelas da cena nacional, sendo o início de sua grande ascensão, dando a ele também o posto de representante do Brazilian Bass à época.
2016
O início do reinado do Brazilian Bass
“Hear Me Now”, música produzida por Bruno Martini, em parceria com Alok e com os vocais de Zeeba, ganhou uma repercussão internacional nunca vista antes para um artista brasileiro. Isso não só colocou os artistas em um novo patamar, como levou mais longe algo produzido aqui. Hoje ela é a música brasileira mais executada no Spotify, com quase 600 milhões de plays.
O Brazilian Bass dominou a segunda edição do Tomorrowland Brasil, chegando a ter três palcos dedicados à vertente no mesmo dia. Mas o mainstage recebeu os suecos Axwell /\ Ingrosso, sendo essa a única apresentação do duo em solo brasileiro até hoje; além do set memorável do conterrâneo Alesso. A label de Nicky Romero também brilha com um palco no evento, o que corrobora que o EDM ainda respirava. Outro fator que prova isso é a vinda do Ultra ao Rio de Janeiro para sua primeira edição na cidade maravilhosa, cheia de artistas do gênero, como Hardwell e Martin Garrix, os reis do pedaço na época.
Vale ressaltar que no mesmo ano Alok estreou no festival Villa Mix, introduzindo a música eletrônica para o público de outros ritmos musicais e alavancando ainda mais a popularidade do gênero no país.
Na sonoridade vemos collabs inusitadas e remixes para aproximar ainda mais a música eletrônica dos outros gêneros. Para citar alguns: Jetlag com Fernando & Sorocaba; Alok e Simone e Simaria; Bruno Martini e Dennis DJ; o remix de “Céu Azul”, de Charlie Brown Jr. de Vintage Culture e Santti.
A enorme quantidade de novos ouvintes que eram introduzidos a dance music unicamente pelo Brazilian Bass gerou uma grande demanda que era suprida pela cada vez mais adição de novos artistas ao gênero. Ganham expressividades outros artistas como Chemical Surf, Dubdogz, Illusionize, Liu e Cat Dealers, para citar alguns. O Brazilian Bass se tornou a “EDM” do mercado brasileiro, impulsionando o cenário, desenvolvendo agências, promotores de eventos, DJs e empresários em geral.
2017
A diversificação da cena
Depois da quase saturação com os diversos projetos de Brazilian Bass e suas festas, o mercado passou a buscar novas sonoridades para investir, tanto produtores quanto promotores de eventos. O Tech House ganhava cada vez mais espaço, seguindo a moda internacional, mas também ganhando um tempero nacional.
Mas 2017 foi um ano de frustrações para os amantes dos festivais, principalmente pelo não retorno do Tomorrowland ao Brasil. A alta do dólar dificultou muito a realização, e passou a travar um pouco as turnês internacionais. Mesmo assim, as produtoras se aventuraram em outros projetos.
O “EDM” ainda dá seus últimos suspiros, vide a realização do Electric Zoo Brasil, no autódromo de Interlagos. O festival originalmente de Nova York, trouxe um palco principal cheio de estrelas, como Hardwell, KSHMR, Alan Walker e R3hab. Mas o que mais chama atenção é o palco 2, assinado pelo festival holandês Awakenings, com sets de Enrico Sangiuliano, Bart Skils e a brasileira ANNA. Nesse ano também retorna o Ultra Rio para sua segunda edição com Steve Angello, Above & Beyond, Marshmallow e Alesso, para citar alguns.
O festival holandês totalmente sustentável desembarca no Brasil para sua primeira edição. O DGTL São Paulo começa sua história com os brasileiros e ganha a atenção dos fãs do House e do Techno. Também, diretamente da Holanda, o Dekmantel Festival realiza a sua primeira edição em terras tupiniquins. Além deles, a label espanhola elrow desembarca em São Paulo para sua estreia, atraindo curiosos e fãs do Tech House. Além disso, Eli Iwasa inaugura seu clube CAOS em Campinas, dando ainda mais espaço para o underground e o Dekmantel Festival, diretamente da Holanda
2018
A subida do underground
O grupo Laroc percebe essa subida e inaugura sua segunda casa, o Ame Club, com a proposta de trazer artistas underground para um público mais reduzido. Para essa noite, o mestre Joris Voorn inicia os trabalhos no novo destino dos amantes de música eletrônica.
O festival holandês DGTL retorna ainda maior para sua segunda edição, chamando a atenção pelas ativações tecnológicas e diretrizes sustentáveis, algo inédito no Brasil. Enquanto o Dekmantel Festival realiza a sua segunda e última edição no país. Nesse ano também aconteceu a primeira edição do Time Warp, o maior festival de Techno alemão, que escolheu São Paulo para sua segunda casa. Amelie Lens, Joseph Capriati, Nina Kraviz e Kölsch marcam essa estreia em solo brasileiro.
Solomun faz um show incrível em São Paulo na antiga editora Globo e ganha espaço no coração da cena paulistana. Podemos dizer que esse show foi a virada de chave para o sucesso de suas apresentações no futuro.
House é o gênero mais ouvido no mundo segundo o 1001tracklists e vemos cada vez mais o Tech House e o techno ganhando seu espaço.
2019
O maior ano da música eletrônica até então
O grande Laroc Club se une ao seu irmão mais novo, Ame Club, para realizar a primeira edição do Ame Laroc Festival. Unindo os espaços da casas, ligadas pelo fundo, o Carnaval de 2019 agradou os fãs da cena com diversos artistas, como DJ Snake, Dubfire, Meduza, Joris Voorn, entre outros.
O ano ficou marcado pelo nascimento de um espaço que aposta na música eletrônica. Mário Sérgio, ex-sócio do Laroc Club, inaugurou a ARCA em São Paulo no fim de 2018, um antigo galpão de 9 mil metros quadrados que é perfeito para grandes shows e festas. A primeira festa eletrônica deste espaço é a estreia da label italiana Circoloco, famosa por transformar as noites de segunda-feira no clube de Ibiza, DC-10, trazendo à capital paulista DJ Tennis, The Black Madonna e Seth Troxler.
Neste mesmo ano o DGTL realiza sua terceira edição, mas que deixa a desejar e mancha a marca em nosso país. O festival alemão Time Warp retorna para seu segundo ano, com um line-up estelar de Techno e House. A label party, Photon, de Ben Klock estreia no Brasil.
Algo que marcou muito 2019 foi Rock In Rio com a estreia do New Dance Order, palco dedicado aos amantes da música eletrônica. Com a presença de Alesso, Claptone, Robin Schulz, para citar alguns, o conceito do novo espaço do festival mostra a força que o gênero vem ganhando ao longo dos anos no país.
A edição do Universo Paralello deste ano chama atenção por seu tamanho, tanto em número de artistas como em público, passando a ganhar novos fãs de música eletrônica.
2020
Pandemia e seus desdobramentos
O ano tinha tudo para brilhar muito. São Paulo já recebeu logo de cara a estreia da label Solid Grooves, com Michael Bibi e toda sua trupe. O Carnaval foi um dos mais memoráveis para os amantes e música eletrônica, à exemplo do Ame Laroc Festival, que em sua segunda edição, surpreendia com sets de Joris Voorn, Cristoph, Steve Aoki, Diplo, Lost Frequencies, Claptone, Bob Sinclar, entre muitos outros. A label Afterlife estrearia em março, mas foi o primeiro evento adiado, abrindo as portas para milhares de cancelamentos e adiamentos.
Com a proibição das aglomerações, o setor de eventos sofreu drasticamente. Desse modo, muitos tiveram que buscar outras formas de renda para sobreviver. Isso afetou uma cadeia toda, dentre seguranças, equipes de limpeza, de bar, de produção técnica e artística… um verdadeiro desafio, mas que recebeu muito suporte de ações privadas da indústria, com doações e fundos de auxílio.
Na parte da sonoridade, muitos artistas apostaram na internação em seus estúdios para buscar novas inspirações, com tempo de sobra devido as agendas livres. Isso fez muito bem para diversos artistas, que buscaram sons os quais fizessem mais sentido para eles, ao invés daqueles que a pista queria ouvir. Mas esse período também foi bem difícil para os DJs e produtores, que não viam mais sentido em seus projetos, e acabaram desistindo de vez.
Na parte de divulgação, as LIVEs pipocaram como nunca, ganhando um mercado para os artistas. Aqueles que apostaram na exposição via redes sociais, ganharam ainda mais mercado e fãs. Nos lançamentos, parte dos artistas usou o tempo recluso para soltar cada vez mais tracks para os fãs, mesmo sem pista de dança. Outros preferiram guardar as jóias para o retorno dos eventos.
Ficou o aprendizado de uma cena forte e que usou esse tempo recluso para se reinventar, olhar para dentro, buscar ainda mais sentido em tudo.
2021
O ínicio do retorno triunfal pós pandemia
Com a retirada de algumas restrições, os promotores de eventos passaram a apostar nas festas misturando música eletrônica e gastronomia. Diversas destas passaram a acontecer, onde os fãs, mesmo obrigados a ficarem nas mesas, sentados, podiam viver música eletrônica ao vivo.
Os LIVE sets diminuíram drasticamente em relação ao ano anterior e com a vacinação quase completa, a indústria começou a respirar e buscar seu ressurgimento.
A sonoridade de muitos ganhou um toque mais underground. O Techno, que já vinha crescendo em todo mundo, passa a ganhar cada vez mais espaço nos eventos e nos corações dos fãs.
O fim do ano já vê os eventos de volta e um dos maiores retornos foi a data dupla e exclusiva de Boris Brejcha na Laroc Club. A expectativa para as festas de Réveillons, dessa vez, confirmadas de fato, aqueceram o mercado e abriram o caminho para um 2022 épico.
Além disso, rolou a primeira edição da EXPO E-Music & Arts em São Paulo, que contou com diversos painéis com artistas, produtores e players importantes do cenário eletrônico.
Muitas das análises feitas neste ano, viam um 2022 sem muitas turnês internacionais, dada a alta do dólar/euro e o cenário de reconstrução da indústria. Mas mal sabíamos que estávamos muito enganados, e logo o primeiro semestre apresentaria Solomun, Afterlife São Paulo, DGTL São Paulo repaginado, Tribe Festival, XXXperience 20 anos, Defected São Paulo, entre muitos outros.
2022 já mostra que será ainda maior que 2019, e que esse retorno vem para ficar e mudar ainda mais a cena eletrônica nacional. Fiquemos de olho, pois o segundo semestre promete com a estreia de Eric Prydz no Brasil, a primeira edição da Anjunadeep, entre muitos outros highlights!
Imagem de capa: divulgação