Todo mundo tem o direito de viajar o mundo em busca da música, inclusive você!
Era março de 2014, estava sentado na cadeira do escritório de casa, assistindo o último dia do Ultra Music Festival Miami. Após quase três dias de incríveis sets dos mais variados e famosos DJs, eu estava em extase e deslumbrado com o que eu havia visto e ouvido. Lembro que ao terminar e eles anunciarem as datas da edição do ano seguinte, entrei na hora no google para pesquisar valores de passagem, hospedagem e custos em geral para ir a Miami durante o evento. Passei horas procurando por depoimentos de pessoas que haviam ido e, unanimamente, incentivavam todos a viverem essa experiência. Não deu outra, fiz as contas, estabeleci quanto precisaria juntar e decidi: eu iria a Miami, sozinho, durante 13 dias.
Eu não sabia, mas essa primeira viagem em busca da música eletrônica me apresentaria a um novo mundo, onde eu conheceria pessoas de várias partes do mundo, inclusive brasileiros aos quais converso até hoje, me faria conhecer uma nova cultura, um país completamente diferente do meu e me faria fundar a Play BPM (antes Play EDM) que comemora seus 4 anos.
Algumas pessoas sonham em ter seu próprio carro, outras sua casa, eu sonho em conhecer o mundo e os melhores eventos e festivais de música eletrônica… será que é loucura?
“Meu ex marido não me acompanhava em nenhum evento de música eletrônica. Eu ofereci levá-lo a NY na última turnê do SHM com tudo pago (nós morávamos a 3h de carro de lá), ele não quis, pois não queria ter que parar 1 ou 2 dias de trabalho para isso. Foi a única coisa que eu o implorei a fazer, em 3 anos de casamento. Obviamente que a relação acabou. A discriminação da minha família foi tão grande que me fez mal. Eu sofri não só a discriminação pelo divórcio e por gostar de música eletrônica, mas também por causa das fantasias que faço para os festivais. O instagram que criei, das @gatasfritness, foi motivo de ofensas pesadas, tristeza e desapontamento. Eles odeiam tudo isso. Eles se sentem extremamente envergonhados e acham que eu faço isso para afrontar. Me veem até hoje como uma adolescente. Não entendem que existem milhares de pessoas, muito mais velhas do que eu, que também seguem essa filosofia de vida.” relata Raquel Evans, que aconselha: “O conselho que eu dou para quem sofre com isso: não tente explicar. Não adianta. E não se prive das coisas para deixar sua família feliz. Eles ja escreveram a história da vida deles. Seja você mesmo o autor da sua história. Nos acertos, nos erros, e principalmente no que te faz feliz.”, finaliza a brasileira de 34 anos.
Eu cansei de ouvir de amigos e colegas se eu não trabalhava, pois vivia viajando, ou se eu não ficava com peso na consciência de gastar meu dinheiro assim. Mas… ao invés do que você deve estar pensando, eu não fico bravo diante desses questionamentos sobre minha vida, mas sim triste… triste porque essas pessoas nunca vivenciaram a ansiedade pela viagem, nunca tiveram que pesquisar sobre o lugar, arrumar a mala, comprar seguro, tirar dúvidas com conhecidos que já foram… essas pessoas também nunca passaram um perrengue, pois não sabiam falar a língua local direito e teve que se virar nas mimicas, nunca se perderam pelas ruas de uma nova cidade, nunca se hospederam em um hostel e hotel e descobriram que a tomada é diferente da do Brasil e você não levou adaptador… elas também nunca sentaram à mesa de um restaurante e experimentaram comidas típicas, ou talvez novos fast foods porque são mais baratos, muito menos pegaram um mapa da cidade para descobrir as atrações turísticas… elas não passearam durante horas e horas e voltaram com seus pés doendo, mas satisfeitas por um dia completamente atípico mas muito bem aproveitado, não se surpreenderam ao conhecer lugares antes vistos somente em livros de história na escola ou em romances e aventuras de famosos escritores… ou até mesmo de filmes premiados. Essas pessoas não voltaram para a casa felizes por terem vivido algo surpreendentemente novo e completamente fora do seu cotidiano. Com aquela sensação de ter crescido e evoluido 10 anos em apenas alguns dias, semanas ou meses.
“Após 15 dias entre Europa e Tomorrowland, estava me despedindo dessa experiência em Paris quando eu, no metrô, avistei a Torre Eiffel e comecei a chorar, chorei sem nem ver que estava chorando e muito menos entendendo porque meu corpo estava reagiando daquela maneira. Acontece, que ele entendeu primeiro que a minha mente e espírito que aquilo era real, que os últimos 15 dias foram reais e eles estavam chegando ao fim… e ter a visão da Torre pela primeira vez era sem sombra de dúvidas uma das coisas mais lindas que meus olhos viram.” relata Leanes Dias sobre sua primeira viagem à Europa. “O mundo é muito maior do que o nosso quarto, a nossa casa, o nosso celular, do que a nossa zona de conforto, o mundo é imensurávelmente doido pra gente se jogar e se descobrir, ou no meu caso, se reinventar. Não deixe que o medo, a dor, o amor, a confusão ou qualquer outro sentimento, te prive de viver,” finaliza.
Quatro anos depois da minha primeira viagem internacional por conta da música eletrônica, adicionei várias outras à lista: Ultra Musical Festival 2015/2019 (Estados Unidos), Tomorrowland 2016/2017/2019 (Bélgica), Polaris Music Festival 2016 (Suiça), Amsterdam Music Festival 2016 (Holanda), Vital Festival 2017 (Irlanda), Tomorrowland Winter 2019 (França), e inúmeros no Brasil. Essa quantidade representa que, eu sou realmente louco, admito, e completamente apaixonado por viagens e música eletrônica, e que eu aprecio muito mais a curiosidade, o contato humano, o conhecimento, e as novas descobertas, do que bens materiais (e nada contra se você prefere bens materiais, se te faz feliz, é o que importa). Esses festivais representam muitos dos melhores momentos que já vivi, aqueles que farei questão de contar aos meus filhos, netos, bisnetos…
“Eu tinha acabado de sair de um relacionamento de 12 anos e precisava arejar a cabeça. Como sempre tive vontade de ir a um festival fora, escolhi o Ultra. Em grupos no Facebook conheci brasileiros de outros estados e, juntos, fomos. Foi a primeira vez que vi algo tão grandioso, seja na questão musical ou cultural. Fiz amizades que duram até hoje. Foi algo que, literalmente, mudou minha forma de enxergar a vida. Fiquei encantando e, depois do que havia vivido, decidi que esse seria o meu foco. Sempre fui consumista ao extremo. Mas, a partir dessa viagem, comecei a priorizar as experiências e nunca mais parei… foi um divisor de águas!”, conta Peterson Teixeira de 34 anos.
Amigos leitores, e possíveis fritos, algo que eu gostaria de deixar claro é que, não importa se você vai demorar 1 ou 10 anos para conquistar algum dos seus sonhos, apenas não deixe de sonhar, dedique todos os esforços possíveis e inimagináveis para alcançá-los, porque… uma das melhores sensações e possíveis realizações de vida é conquistar algo que você se dedicou tanto para conquistar e sempre sonhou.
Sempre que você ouvir coisas como: “você não é capaz”, “isso é loucura”, “impossível”…. feche os olhos e mentalize fortemente o seu objetivo. Aliás, faça isso todos os dias, encha-se de pensamentos e energia positiva, cole fotos do lugares e festivais que você deseja conhecer, lembretes em lugares que você enxergará todos os dias. Cerque-se de incentivos!
Resumindo todo o texto: começa a correr logo atrás dos seus sonhos e coloca na sua cabeça que você é o único capaz de realizá-los! Permita-se viver!
Sobre o autor
Rodolfo Reis
Sou movido por e para a música eletrônica. Há 7 anos, idealizei trabalhar com esta paixão, o que me levou a fundar a Play BPM. 3 anos depois, me tornei sócio da E-Music Relations. Morei na Irlanda por 2 anos, onde aprendi a conviver e respeitar ainda mais outras culturas. Já tiquei 28 países do globo, mas ainda sonho em ser nômade. Apelidado carinhosamente pelos amigos de "Fritolfo": quando o beat começa a tocar, eu não consigo parar de dançar.