Do Trance 2000 ao Trance 2.0: entenda como os gêneros se inspiram e impactam a sonoridade atual
Gosto muito de conversar sobre a evolução da música eletrônica, e como ela vai se desenvolvendo de acordo com a influência de sons. É sobre isso que vamos conversar hoje na minha coluna 'Fala Aí, Flosi'.
Antes mesmo da pandemia, vimos um crescimento nos estilos mais melódicos, tanto dentro do House quanto do Techno. Houve uma grande ascensão de artistas e tracks com essas características, enaltecendo o uso de elementos melódicos e orgânicos em beats eletrônicos, uma tendência de cidades da Europa e da famosa Tulum, no México.
O grande destaque vai para labels como Afterlife, que disseminaram artistas e sons de um Techno Melódico em teoria nunca antes vistos pelo público, ganhando milhares de fãs por todo o mundo. No Brasil, isso pode ser visto com o sold out estelar da festa da label que finalmente acontecerá na ARCA no dia 12 de março de 2022, mas antes disso, um dos clubes mais icônicos do país, o D-Edge, já trazia nomes do mesmo selo suas aberturas de quinta-feira na Moving D-Edge.
Agora no retorno dos eventos do pós-pandemia, fica nítido que os sons melódicos vieram para ficar. A grande maioria dos eventos de música eletrônica que aconteceram no Réveillon de 2021, espalhados pelo Nordeste brasileiro, tem em seus line-ups diversos nomes como Sebastian Léger, Monolink, Jan Blomqvist, entre muitos outros, trazendo bastante a influência de sons de Afro House, Indie House, Melodic House e Techno.
Mas vocês devem estar se perguntando, mas por que então o título da coluna fala “do Trance ao Trance”? A análise vai ficar bem clara para aqueles que nasceram na década de 80 e puderam viver a cena eletrônica dos anos 2000. Mas para aqueles mais novos, basta uma pequena pesquisa para entenderem essa referência.
Nos anos 2000, vimos a ascensão de nomes como Tiësto e Paul van Dyk ganhando as paradas da cena eletrônica mundial com tracks de Trance. Em 2002, Tiësto foi eleito, pela primeira vez, o melhor DJ do Mundo pela DJ Magazine. Em 2003, renova o título e promove "Tiësto In Concert", um grandioso evento, pioneiro na música eletrônica, seguindo o conceito de um DJ a atuar a solo em um show, mudando a cena para sempre. Em base de comparação, usemos um dos maiores clássicos da história da música eletrônica, a track de 2005, “Adagio For Strings”, parte de seu segundo álbum, “Just Be”.
Se você destrinchar todos os elementos e a estrutura da track, perceberá que ela é muito similar às tracks de Techno Melódico do Afterlife, por exemplo, tendo como única diferença gritante o BPM. Para quem não sabe, BPM é a sigla para “Beats per minute" ou batidas por minuto, que basicamente ditam a velocidade da track. Hoje, vamos usar como base de comparação um dos lançamentos da Afterlife, um remix de Kevin de Vries, ”Beul Un Latha”, que possui o BPM de 125.
O Trance dos anos 2000 de Tiësto, usando a própria “Adagio For Strings” como exemplo, tem o BPM de 130. Qualquer DJ que puder mexer no BPM da track em uma CDJ, pode transformar, a grosso modo, a faixa de Tiësto em um Techno Melódico e o remix do Kevin de Vries em um Trance. Podemos ficar aqui durante horas passando outros exemplos e falando das similaridades, mas o ponto principal dessa coluna é levantar o debate, além de mostrar que nada vem do além. A dinâmica de construção harmônica e melódica é a mesma. Muitos dirão que claramente as coisas não são iguais, e não são mesmo. As baterias das tracks atuais são um pouco mais Indie e orgânicas em relação às antigas. A timbragem é diferente e a construção em si pode ter diferenças, mas a essência é de fato a mesma.
A sonoridade de hoje traz muito do que já se esteve presente no passado e essa é a beleza da história da música, como, por exemplo, o Disco inspirou o House, ou como o Pop inspirou o Big Room. Mas acredite, a transformação da música eletrônica é cíclica e hoje estamos vivendo uma nova roupagem para algo que foi sucesso nos anos 2000. A distância de 20 anos entre esses movimentos mostra que a nossa cena vive de reciclagens, evolução e muito talento dos artistas. O público não consegue perceber essas nuances, pois a emoção vem antes da análise crítica. Os amantes do Trance dos anos 2000 podem não enxergar essa semelhança nos sons atuais, mas ela existe e eu, através do Play BPM, tenho o prazer de trazer aos nossos leitores essa reflexão.
A única coisa certa é de que a cena de música eletrônica está em constante evolução e nós do Play BPM seguimos empolgados pelo o que ainda está por vir. Vamos curtir esse retorno pós-pandemia da melhor forma e continuar trazendo para vocês os melhores conteúdos e as melhores coberturas dos eventos no Brasil e no mundo. Por hoje é só, até a próxima galera!
Imagem: reprodução - Stringfixer.