Tomorrowland Brasil 2023: depois da tempestade vem a… tempestade brasileira!
- Por Cissa Gayoso -
Traumas e perrengues de lado, não há como negar que esse Tomorrowland Brasil foi EXTREMAMENTE brasileiro. A energia caótica seguida de um último dia de festival histórico diz muito sobre a resiliência do povo que habita em nosso país. É o famoso “sou brasileiro e não desisto nunca!”. Diante de um cenário para lá de delicado, gostaria de frisar o quão magnífico foi ver os artistas brasileiros dando um show à parte durante todo o festival, mas especialmente no sábado.
A construção que tem sido feita na cena nacional nos últimos anos resultou em slots privilegiados e pistas lotadas. Seria essa uma grande virada de chave na “síndrome de vira lata” que assola nossa cultura? Talvez sim! A energia compartilhada nas pistas comandadas por artistas brasileiros estava indescritível, o que tem reverberado massivamente nas redes sociais na última semana.
Não consigo falar sobre o que não vivi, portanto, aqui destacarei os sets que presenciei e que me trouxeram essa sensação.
Acid Asian, uma das grandes promessas do Techno nacional, com apadrinhamento de ninguém mais, ninguém menos que Charlotte de Witte, apresentou um set 100% AUTORAL abrindo o palco Tulip às 15h do dia 14 e, pasmem, estava LOTADO! O DJ e produtor de apenas 26 anos fez com que os presentes entrassem de cabeça no modo “clubber” no meio da tarde, não tendo outra opção, a não ser renderem-se às batidas pesadas, intensas e incríveis de seu som. Recheado de IDs, o “Japa”, como é chamado carinhosamente por amigos, estreou no Tomorrowland Brasil com maestria, e ali o peito do público já se enchia de orgulho e admiração. Acompanhado de seu pai na cabine, o DJ e produtor de technão mostrou toda sua paixão pela música underground, e nós sentimos esse amor!
Nesse mesmo dia, comandando a cabine do palco CORE durante o pôr do sol estavam Maz e Antdot. Por onde começar? Ali, magia pura foi vivida. É impossível deixar este texto impessoal e, para mim, foi o melhor set do Tomorrowland Brasil. A sintonia, sinergia, amizade, parceria e amor que existe entre os amigos Thomaz e Bruno é sentida desde sempre, mas naquele sábado, estava especial demais. Os DJs e produtores por trás da Dawn Patrol Records exprimem o “puro suco do Brasil” com a sonoridade Afro que virou marca registrada e é representada em tracks autorais como “Coragem”, “Banho de Folhas”, “Povoada”, "Todo Homem", e “Learning To Love”. Imerso em brasilidades, o set ainda contou com suporte para outro brasileiro, Riascode, com a track “Baião Destemperado”, e uma faixa recheada de elementos da cultura nordestina, trazendo um forrózão para a pista eletrônica. Faltam-me palavras para descrever com precisão a maestria com a qual os artistas conduziram a pista de dança. E COMO DANÇAMOS! Que set dançante, envolvente, brasileiro, MÁGICO! Ao virar para o lado, os olhares e corpos balançando pareciam pensar o mesmo, estavam todos vibrando em uníssono, e se não é por isso que amamos música eletrônica, eu não sei pelo que é. IMPECÁVEL.
Fechando com chave de ouro o palco que ganhou o “core” dos brasileiros, o B2B inédito de ANNA e Vintage Culture também ficou marcado na história da música eletrônica brasileira. Dois dos artistas mais icônicos do nosso país mostraram toda sua bagagem, habilidade e uma sintonia que superou as expectativas durante as duas últimas horas de festival, lavando a alma dos presentes, e deixando-os com um gostinho de quero mais. De acordo com ANNA, nada ali foi combinado, o que torna o set ainda mais surpreendente. Incrivelmente, as sonoridades dos dois casaram tão bem quanto queijo minas e goiabada, e provaram, mais uma vez, que o Brasil respira arte, e que seus talentos estão, muitas vezes, escondidos nos interiores do país, prontos para conquistarem espaços e terem uma voz. Um verdadeiro espetáculo foi assistido, sentido, vivido, dançado, compartilhado e sonhado. Daqui para frente, os frutos que renderão da união de ANNA e Vintage são incomensuráveis - e nós estamos ansiosos por isso!
Ao mesmo tempo, DJ Alok se consagrava como primeiro brasileiro da história a encerrar o mainstage do Tomorrowland; Bigfett levantava a bandeira de Pernambuco no Techno; BINARYH no Essence by Beck's; Aline Rocha, Victor Lou, Cat Dealers, Malifoo, Öwnboss e Bhaskar chegavam ao palco principal do festival; B2Bs incríveis aconteciam como Valentina Luz e Eli Iwasa Anderson Noise e Renato Ratier, Victor Ruiz e Alex Stein, e Silvio Soul ao lado de Waltervel; ZAC, Fancy Inc, Scorz, Pontifexx, Inndrive, Bruno Martini, VINNE e Dubdogz comandavam o Youphoria; Scorsi, Urbandawn, DJ Marky, Tessuto e Kenya20Hz subiam à cabine do Tulip; Carola, Dre, Jessica Brankka, Liu, KVSH, Bruno Be e ANNA (ao lado de Kölsch) subiam ao palco principal do Dreamville; e Due, Mila Journée e Meca se apresentavam no palco alternativo construído no Dreamville na sexta-feira. Para todos os gostos, para todos os momentos, exprimindo a força e a garra de quem tem sangue brazuca correndo pelas veias, e não deixa a peteca cair.
Uma coisa é certa: por nossa essência marcada pela resiliência, temos a enorme capacidade de enxergar o arco-íris no final de uma tempestade, mas quando nós SOMOS a TEMPESTADE… aí, meus amigos, ninguém nos para!
É DO BRASIL DEMAIS!
Sobre o autor
Cissa Gayoso
Sendo fruto do encontro de uma violinista com um violonista, a música me guia desde sempre e nela encontrei a família que escolhi para chamar de minha. A partir de 2021, transformei minha paixão em profissão e, desde então, vivo imersa nas oportunidades e vivências que este universo surpreendente da arte me entrega a cada momento! De social media à editora-chefe da Play BPM, as várias facetas do meu ser estão em constante mudança, mas com algumas essências imutáveis: a minha alma que ama sorrir, a paixão por música, pela arte da comunicação, e as conexões da vida que fazem tudo valer a pena! 🚀🌈🍍