O momento é delas! Saiba mais sobre a crescente presença de DJs mulheres no Mainstage do Tomorrowland
- Por Caio Pamponét -
Você já parou para pensar em quantas DJs mulheres já passaram pelo palco principal do Tomorrowland?
Inquestionavelmente, vivemos numa cena musical que cultiva uma enorme desigualdade da gênero. Seja na quantidade de artistas, na presença em line-ups ou até mesmo nas pistas dos rolês - a música eletrônica é, em sua maioria, dominada pelos homens.
Num ambiente como esse, ser mulher é nadar contra uma correnteza de maus olhares, críticas e uma constante deslegitimação.
E não é por mera aparência - pesquisas recentes afirmam que a contratação de DJs mulheres nos festivais de música eletrônica caiu de 21% para 15% no último ano. Apesar disso, o Tomorrowland vem subvertendo esse cenário. A representatividade feminina no palco principal do maior festival de música do mundo tem sido cada vez mais recorrente, e neste ano chegou ao seu ápice! Confira agora a trajetória das nossas queridas DJanes no Mainstage do Tomorrowland.
O pontapé inicial
Emergindo como um festival local e trazendo lines cada vez maiores ao passar dos anos, o Tomorrowland convidou somente duas DJs para se apresentar em seu palco principal nos primeiros cinco anos de história: a renomada DJ de techno Ida Engberg (em 2008 e 2010) e a talentosa Monica Electronica (no ano de 2008).
Caminhando a passos lentos
A partir de 2011, quando o festival estendeu sua programação para 3 dias e explodiu no mundo inteiro, apenas 5 DJs mulheres tiveram a oportunidade de se apresentar no Mainstage: NERVO; que virou uma das figurinhas carimbadas; as irmãs Krewella; a artista Sister Bliss com o icônico projeto Faithless; a dupla sueca de Dance-pop Rebecca & Fiona e Raving George.
Nesse período, a dupla Krewella se tornou as primeiras artistas a tocarem duas vezes no Mainstage numa mesma edição. Isso rolou durante a edição de 2014, na primeira vez em que o Tomorrowland experimentou dois finais de semana de festa.
Um fato curioso dessa época é que, em 2011, o festival abriu um concurso em parceria com a Red Bull para selecionar um novo talento da cena eletrônica para abrir o Mainstage e a vencedora foi Raving George com seu charmoso Deep House. Será que você a conhece? Para nossa surpresa, esse era o antigo projeto de ninguém menos que a Charlotte de Witte, uma das rainhas do Techno atual que fez sua estreia no palco principal do Tomorrowland muito antes do que imaginávamos.
Expansão estrutural, mas line desigual
Entre 2017 e 2019, com a expansão anual do Tomorrowland para dois finais de semana, esperava-se que a curadoria artística fosse mais diversificada, permitindo a presença maior de mulheres no palco principal do festival, porém, a igualdade de gênero na line-up não acompanhou a evolução do festival.
Durante esse período, apenas 5 artistas tocaram no palco principal: Nervo, MATTN, Nora En Pure, Alison Wonderland e Charlotte de Witte. Ainda assim, tivemos marcos importantes: Charlotte se tornou a primeira artista de Techno (entre homens e mulheres) a encerrar o Mainstage, além de ser a primeira mulher a realizar o feito.
A concretização da jornada
Neste ano, o cenário mudou da água para o vinho. A edição de 2023 do Tomorrowland Bélgica contará com DOZE artistas femininas no palco principal do festival, distribuídas entre os dois fins de semana.
Nessa longa lista, podemos notar que a comunidade do Techno tem abraçado intensamente as mulheres e, sem dúvidas, os maiores nomes da cena underground hoje em dia são Elas.
Indira Paganotto, Brina Knauss, Nina Kravis, Korolova, Amber Broos, Lilly Palmer, Amelie Lens e Anfisa Letyago – todas representam não só a desconstrução de uma cena masculinizada como também a ascensão do Techno para o cenário mainstream da música eletrônica.
Além delas, o Mainstage deste ano também contará com as ícones NERVO (sétima apresentação no currículo), a espanhola B Jones (primeira artista a levar a Espanha ao Mainstage), MATTN (revelação da EDM) e Carola (a primeira artista brasileira e 1ª preta a tocar no Main).
Um marco histórico para o Brasil
A DJ e produtora gaúcha Carola veio de um bairro periférico de Porto Alegre, a Vila Jardim, e desde que decidiu viver de música eletrônica vem superando barreiras sociais e sendo um exemplo para milhares de outras mulheres da cena.
Convidada para tocar no palco da STMPD RCRDS no ano passado, chegou a hora dela brilhar mais uma vez no Tomorrowland e fazer história no festival.
A brasileira irá se tornar não só a primeira artista nacional a tocar no Mainstage como também será a primeira mulher preta a se apresentar no palco principal da edição deste ano do Tomorrowland - uma verdadeira história que será escrita.
Confira abaixo um gráfico da presença de DJs mulheres no Mainstage do Tomorrowland
O caminho para chegarmos num mercado igualitário ainda é longo, porém com uma movimentação geral da cena, perpassando pelos bookers, managers, promoters e até mesmo o público, podemos enxergar um cenário otimista em relação à presença feminina na nossa cena eletrônica.
Imagem de capa: Reprodução.
Sobre o autor
Caio Pamponét
Graduando em jornalismo pela UFBA e Redator da Play BPM. Um apaixonado por música desde a infância que cultiva o sonho de viajar pelo mundo fazendo o que ama e conhecendo novas culturas. Com um desejo inerente de fomentar a cena eletrônica de sua terra - Salvador, BA, Caio Pamponét respira os mais diversos BPM's e faz da música o seu combustível diário.