Brazilian Storm: como o nosso país se transformou no foco mundial da música eletrônica
- Por Caio Pamponét e Vitória Zane -
Dizem por aí que o Brasil é o país do futebol e do samba. Fugindo de uma discussão se esse ditado é válido (ou não), já tivemos algumas provas de que nós podemos ser muito além disso. Não à toa, há cerca de 10 anos, um novo movimento criado pela imprensa internacional surgia, o chamado "Brazilian Storm". O termo adotado pelo surf fazia referência à enorme imersão de novos talentos e estrelas nacionais que começaram a representar nossa bandeira verde-amarela em vários campeonatos importantes num esporte que, até então, era predominantemente dominado por estrangeiros. Dezenas de surfistas brasileiros tomaram os espaços do circuito mundial como uma verdadeira tempestade, conquistando cinco títulos e sendo destaques globais. Mas o que tudo isso tem a ver com música eletrônica? Muita coisa!
No cenário eletrônico também existe uma tempestade de DJs e produtores brasileiros que estão dominando espaços nunca antes explorados, repercutindo tanto nos charts e plataformas com suas produções, quanto em performances e apresentações em clubs e festivais. Além disso, o país se tornou epicentro da música eletrônica no último ano, recebendo centenas de festas, festivais e artistas internacionais. Mas como isso tudo começou?
Um longo caminho percorrido até o Brazilian Storm
Há mais de seis décadas, no ano de 1958, surgia o primeiro DJ do país: Osvaldo Pereira, que tocava jazz com a Orquestra Invisível Let’s Dance, formada só por ele e seu sound system. Em 70, a figura do DJ se popularizava, influenciada pela black music brasileira e afro-americana nos bailes e pela disco music nas discotecas.
Tempos depois, os DJs começaram a produzir remixes de new wave, rock e pop, preparando o terreno para a música eletrônica, que entrou nessa história lá para o final dos anos 80 e começo dos anos 90. Nessa mesma época, o som underground do House e Techno ganhava espaço nas pistas de dança pelo país.
Mas foi em 1997, na cidade de São Paulo, que inesperadamente surgiam os principais precursores de uma nova era dentro da cena nacional: Marky e Patife, os “padrinhos” do drum’n’bass brasileiro. Abrindo portas para futuros DJs, a dupla alcançou o Top #8 da parada britânica de singles de dance music e tocaram na abertura da Copa do Mundo de 2002, transformando a música eletrônica brasileira num produto de exportação mundial. Além deles, nomes como XRS (Xerxes de Oliveira) Anderson Noise, Mau Mau, Renato Cohen, Meme, Gui Boratto e tantos outros trabalharam arduamente para atrair os holofotes internacionais ao Brasil.
Nos anos 2000, começava a surgir os grandes eventos voltados para o gênero, tendo a Skol como uma das maiores precursoras. O Skol Beats foi o primeiro grande festival de eletrônica do país, reunindo até 2008 nomes como Justice, Pendulum, Derrick May, Basement Jaxx, Armin van Buuren, Steve Angello, Green Velvet e o Life is a Loop, projeto de Fabricio Peçanha que elevou a performance de DJs a outro patamar com suas produções audiovisuais inéditas no Brasil.
Em 2004, Fatboy Slim trazia à Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, o histórico festival britânico que revolucionou o mercado global de shows, o “Big Beach Boutique”, colocando a figura do DJ na indústria musical como superestrela.
Nesse período, nomes de grande prestígio passaram a vir para cá em suas turnês, como The Chemical Brothers, Frankie Knuckles, Moby, The Prodigy, Groove Armada e até mesmo o icônico duo francês Daft Punk no Tim Festival em 2006.
Ainda no Rio, festivais como a Bunker Rave (considerada a "mãe" das festas de música eletrônica no Estado), o Chemical Surf Music Festival, o Superstars DJs e o RIO E.MUSIC FESTIVAL reuniram milhares de pessoas e são considerados os pontos de virada que embalaram o cenário eletrônico do Brasil, além de terem pavimentado o caminho para maior visibilidade do gênero. Vale lembrar que a vinda de Tiësto à Praia de Ipanema em 2007 nos premiou com um recorde de público histórico – a maior apresentação solo de um DJ em toda a história, com mais de 250 mil pessoas presentes.
A partir de 2010, a música eletrônica global entrava em seu auge, e os vestígios do Brazilian Storm se estabeleciam. Festivais populares como Sensation White, Creamfields, EDC, Electric Zoo, Tomorrowland, Ultra (que em 2011 teve o absurdo line-up com Swedish House Mafia, New Order, Duck Sauce, Alesso e Laidback Luke), além de alguns voltados para o underground (Sónar, DGTL, Time Warp e Dekmantel) desembarcavam em terras brasileiras.
Até mesmo os festivais mais ecléticos apostaram forte na dance music. O Lollapalooza Brasil trouxe Skrillex, Calvin Harris, Deadmau5, Axwell, Zedd, Flume, Martin Garrix, Marshmello, além do icônico set de Vintage Culture em 2018 no Palco Perry’s, que atingiu lotação máxima de público. Enquanto o Rock In Rio contou com Afrika Bambaataa, David Guetta, Paul Oakenfold, Pet Shop Boys e a histórica apresentação de Alok em 2019, tornando-se o primeiro DJ brasileiro a tocar no palco principal do festival.
Até meados de 2015, com a alta do dólar e a crise financeira instaurada no país, o mercado de música eletrônica teve de se reinventar e apostar em suas joias da casa. Surgia aí uma nova leva de talentos nacionais: Felguk, Alok, Cat Dealers, ANNA, Wehbba, Eli Iwasa, Vintage Culture, FTampa, Illusionize, Tropkillaz, Chemical Surf, para citar alguns. As festas eletrônicas também se adaptaram à nossa cultura, se consolidando dentro da cena – marcas como Universo Parallelo, Só Track Boa, Playground, XXXperience, Warung Day Festival, Kaballah e Tribe conquistavam um público fiel a cada edição. Clubes brasileiros começaram a figurar entre os mais prestigiados do mundo – Warung, Laroc, D-Edge, El Fortin, Green Valley (eleito 5 vezes o melhor do planeta) contribuíram para transformar o Brasil num epicentro da música eletrônica.
Toda uma indústria se criava: escolas, cursos de produção musical e consultoria, veículos de imprensa especializados, conferências, agências de DJs e marketing, produtoras audiovisuais, profissionais especializados na área, e até mesmo um livro dedicado ao mercado e à profissão do DJ no Brasil, “Todo DJ Já Sambou”, escrito pela jornalista Claudia Assef.
O papel da pandemia no Brazilian Storm
Após uma das pandemias mais catastróficas da História, muitos acreditavam que o mercado nacional retornasse bastante fragilizado. Porém, devido a reclusão de artistas e fãs de música durante quase 2 anos, e um posterior retorno dos shows ao vivo com um público sedento para viver novas experiências, o que vimos foi o ressurgimento meteórico e radiante do cenário musical. E sem dúvidas, um dos gêneros que mais colheram frutos nos últimos tempos foi a música eletrônica brasileira.
Durante esse período de quarentena, os artistas se reinventaram não só na música, adotando novas sonoridades e novas técnicas de produção, como também nos conteúdos, na interação com os fãs, e no branding de suas marcas. É evidente que as lives existiam bem antes da chegada da pandemia, mas foi justamente nessa época que os DJs (principalmente os brasileiros) foram os primeiros a adotarem elas como uma solução para atender à carência de eventos, antes mesmo de qualquer outro gênero musical.
Com toda essa renovação artística e explosão das livestreams, a música eletrônica do Brasil foi propagada para o mundo inteiro, atingindo públicos que antes eram inalcançáveis. O mercado musical global enxergou a nossa cena com outros olhos.
Assim, o país definitivamente mostrava que tinha espaço não só para o Samba, Axé e Sertanejo, mas também para a música eletrônica. Enquanto no surf uma grande leva de jovens transformou o Brasil numa referência mundial na modalidade, o que vemos hoje é similar na Dance Music.
Para celebrar e destacar os momentos mais expressivos que nossa cena vive atualmente, trouxemos alguns motivos que nos levam a crer que o “Brazilian Storm” já é uma realidade concreta!
Invasão verde-amarela nos maiores festivais e clubes do mundo
Nos últimos anos, a presença de brasileiros nos line-ups dos maiores eventos mundo afora e de bandeiras canarinhas nas pistas de dança em vários rolês globais tem sido cada vez mais comum.
Artistas como Jessica Brankka, Alok, Vintage Culture, Öwnboss, Meca, Aline Rocha, Cat Dealers e ANNA dominaram os maiores clubes ao redor do mundo, como Hï Ibiza e Ushuaïa (da Espanha); The Grand, Marquee e Space (dos EUA); Ministry of Sound, The Warehouse Project e Printworks (do Reino Unido); Bootshaus e Watergate (da Alemanha), para mencionar alguns.
Além disso, Awakenings, Ultra Miami, EDC, Untold, Defected, Creamfields, EXIT, Lollapalooza, Rock in Rio e Coachella são exemplos dos incontáveis big festivais que confirmaram a presença de DJs brasileiros nos últimos anos.
Um dos maiores propulsores desse movimento foi o Tomorrowland. Em sua edição de 2022, o recorde de maior número de artistas nacionais da história do festival (até então) foi firmado, com 10 brazucas distribuídos em 3 diferentes palcos, incluindo o Mainstage. Para 2023, esse recorde será batido: 14 nomes representarão a bandeira verde-amarela e disseminarão a dance music nacional no festival belga: Alex Stein, Alok, ANNA, Bhaskar, Carola, Cat Dealers, Chemical Surf, Dubdogz, Fancy Inc, Öwnboss, Vegas, Victor Ruiz, Sevek e Vintage Culture.
Collabs com astros e lançamentos por gravadoras de destaque
Com cada vez mais relevância e representação global nas variadas vertentes da música eletrônica, uma tendência está virando rotineira para os artistas da nossa terrinha: o lançamento em grandes labels e colaborações com nomes internacionais de destaque.
Em meio a tantas conquistas, a seguir estão exemplos que ilustram o sucesso meteórico de alguns artistas brasileiros:
- Em 2021, a gaúcha Carola tornou-se a primeira mulher a lançar na STMPD RCRDS, gravadora da estrela holandesa Martin Garrix, além de tocar no Tomorrowland no ano seguinte, destacando o poder feminino e a força da mulher preta numa indústria musical desigual. Vale ressaltar que, em 2023, a artista se consagrará como a primeira mulher preta brasileira a subir no Mainstage do festival belga, alcançando mais um feito marcante em sua carreira.
- Pela Armada Music, label do ícone Armin van Buuren, o paulista Scorz conquistou o prêmio de ‘Tune of the Year’ (track do ano) e ganhou suportes desde o A State Of Trance até o Tomorrowland, apresentando-se na comemoração super especial do ASOT 1000. Hoje o artista é uma das maiores revelações brasileiras do Progressive/Melodic House no mundo.
- O duo Fancy Inc, após fazer parcerias de sucesso com Vintage Culture e se tornar o primeiro projeto brasileiro a chegar no topo da parada Dance Club da Billboard com “In The Dark”, lançou tracks junto à lenda David Guetta e o britânico Kryder. Com “Alive” e “Healing”, os brasileiros estrearam na lista dos produtores com mais suportes de 2022 pelo 1001 Tracklists, alcançando a 65ª posição do ranking.
- Com uma longa bagagem e se desprendendo de gêneros musicais, os irmãos do Chemical Surf têm vivido o auge da carreira, lançando em labels como Spinnin’ Records, STMPD RCRDS (de Martin Garrix), Smash The House (de Dimitri Vegas & Like Mike), Musical Freedom (do Tiësto), Solotoko (de Sonny Fodera) e a Proximity. A dupla também fez collabs com os gigantes Kaskade e Steve Aoki, provando a sua enorme versatilidade nas produções, além de também estrear no Tomorrowland Bélgica em 2022.
- Em sua melhor fase da carreira, VINNE criou uma identidade musical própria chamada ‘Safabass’, tornando-se o único artista da América Latina a integrar o time da gravadora Revealed, chefiada pelo monstro Hardwell. Para completar, o jovem de apenas 24 anos fez collabs com Dillon Francis e Hardwell, subiu no palco com Tiësto em pleno Amsterdam Dance Event (maior conferência de música eletrônica no mundo) e acumulou suportes de Alesso, Kygo e Dimitri Vegas, para citar alguns.
- Uma das maiores revelações do Techno nacional no último ano foi o paulista Acid Asian. Com seu talento e qualidade nas produções, o artista (com apenas 2 anos de carreira) conseguiu ter sua track tocada por Charlotte de Witte, no set de encerramento do palco principal no penúltimo dia de Tomorrowland 2022. A belga ainda convidou Asian para lançar um EP em sua label KNTXT e integrar o time da estreia da KNTXT no Brasil.
- A cena de Tech House brasileira vem voando alto e ganhando um absurdo prestígio internacional. A lista de novos talentos lançando em grandes labels é enorme, mas para citar alguns: Beltran, SIMAS e Brisotti pela Solid Grooves (fundada por Michael Bibi e PAWSA); Classmatic e Bruno Furlan na Hot Creations (dos gigantes Jamie Jones e Lee Foss); DJ Glen e Court T. na Dirty Bird (com Claude VonStroke liderando); bewav, ENNE, Nicolau Marinho e Duarte na Hellbent (criação de Cloonee); Volkoder e Viot na Catch & Release (de Fisher), e muito mais.
- Vale lembrar também de Binaryh, Aline Rocha e a Mila Journeé, que respectivamente integraram o time da Afterlife (maior selo de Melodic Techno do mundo), Defected (histórica gravadora de House Music) e a Diynamic (label de Solomun). É ou não é o Brasil no topo?
(Aqui estão apenas alguns exemplos, pois é claro que o alcance dos brasileiros e a quantidade de artistas que fazem parte deste movimento é incontável).
Dominação nos streamings e nos rankings globais
No ano passado, entre os 10 artistas nacionais mais escutados no mundo pelo Spotify, 5 foram da cena eletrônica (Alok, Öwnboss, Sevek, Vintage Culture e Dubdogz), ficando à frente de estrelas do Funk e Sertanejo, como Pedro Sampaio e Marília Mendonça. Na lista de músicas nacionais mais tocadas mundialmente, 5 tracks eletrônicas se destacaram e entraram no Top 10.
No Spotify, KVSH, Schillist e INNDRIVE brilharam. Com "Sicko Drop" e "Shake It", os brasileiros entraram nas playlists virais em mais de 30 países, incluindo Estados Unidos, Reino Unido, além de aparecer no chart Global da plataforma de streaming. Já na Amazon Music, a gaúcha Carola foi premiada como artista destaque na categoria Eletrônica do ano passado.
A tempestade verde-amarela também invadiu a maior plataforma de vendas de música eletrônica do planeta – o Beatport. Muitos produtores nacionais alcançaram o Top #1 dos mais variados charts do site nos últimos anos, sendo difícil elencar todos aqui. Entre as figuras que atingiram o topo do maior mercado de dance music, temos: ZAC e Mary Mesk em Progressive House; MAZ e Antdot em Afro House e Organic House; Hugo Doche, Teko e WELKER em Bass House; Volkoder e Doctor Jack em Tech House; bewav, Gabriel Evoke e GIOC em Minimal; Becker, Blazy, Phantom e Konaefiz em PsyTrance; Mila Journée e Beltran no Overall (todos os gêneros).
Além disso, Öwnboss, tido como promessa de 2022 pela rádio oficial do Tomorrowland, a One World Radio, cumpriu a profecia e chegou com sua track “Move Your Body” (collab com Sevek) na 4ª posição do ranking das músicas com mais suportes no ano e à Top #1 em Bass House, segundo a 1001 Tracklists.
Ainda de acordo com a 1001 Tracklists, 8 brasileiros entraram na lista de artistas mais tocados de 2022: Vintage Culture (2º), Alok (32º), Vinne (50°), Öwnboss (55º), Fancy Inc (65º), DEADLINE (74º), Leandro da Silva (81º) e Sevek (94º). O relatório anual da plataforma que divulga as 50 tracks mais tocadas por vertente também revelou marcos importantes: Mochakk teve a 37ª track de House Music mais tocada do ano; DEADLINE pegou um Top 10 de Future Rave, além de 3 posições no Top 50 de Progressive House; Classmatic alcançou o Top #30 no ranking de Tech House; Wehbba (24º) e Alex Stein (50º) se destacaram na lista de Techno; MAZ e Kiko Franco ocuparam, cada um, 2 colocações em Afro/Deep House; já Alok conquistou um Top #5 e #24 em Bass House.
No renomado ranking anual dos DJs mais populares do mundo, organizado pela revista britânica DJ Mag, 4 brazucas provaram novamente a nossa força. Alok manteve o retrospecto histórico, seguindo em 4º lugar; Vintage Culture subiu para a 11ª posição; o duo Cat Dealers saltou 16 colocações, indo para o 66º lugar, e os irmãos Dubdogz estrearam no ranking na 93ª posição.
As figuras de maior destaque internacional
Três dos nomes mais falados atualmente por aí, ANNA, Mochakk e Vintage, vivem entre semelhanças e diferenças, o auge de suas carreiras.
A primeira tem sido o maior nome do Techno brasileiro há vários anos, respeitada e prestigiada por toda a cena underground do planeta. Com seus mais de 20 anos de carreira, ANNA é referência no que faz, tendo na bagagem festivais como o Ultra, Tomorrowland, Rock in Rio (encerrando o palco eletrônico em 2022), sendo uma das (únicas) três artistas brasileiras confirmadas no Coachella deste ano. ANNA também foi eleita Artista Revelação no DJ Sound Awards 2016, apresentou um set na icônica rádio britânica BBC 1 e ainda virou uma das queridinhas da lenda Carl Cox, dividindo palco e sendo convidada a tocar em suas festas.
O segundo, reunindo habilidade, curadoria musical refinada e performance cativante, atraiu a atenção global e hoje tem uma agenda recheada de gigs impressionantes – Coachella, EDC México, Lollapalooza, Sónar, Time Warp, EXIT Festival, Green Valley, AME Club, D-EDGE, para mencionar algumas. As redes sociais do paulista só reforçam o sucesso por trás do talento: Mochakk foi um dos DJs que mais cresceram em números, acumulando 760 mil seguidores e 7 milhões de curtidas no TikTok e entrando no seleto grupo de DJs com 1 milhão de followers no Instagram. A repercussão foi tão grande que o paulista de Sorocaba influenciou uma gama de novos artistas a investir nessas plataformas e em equipes de audiovisual, movimentando a forma de produção de conteúdo dos artistas nacionais.
O terceiro está atingindo proporções inimagináveis, batendo recordes de suportes e viajando o mundo inteiro com sua versatilidade musical. O DJ sul-mato-grossense, Vintage Culture, emplacou inúmeros hits nos charts, conquistando uma dobradinha histórica em 2021 ao ter 2 tracks no topo das mais vendidas do mundo pelo Beatport – seu remix de “Drinkee” com John Summit & Sofi Tukker ganhou o ouro; e o single “Free” com Fancy Inc & Roland Clark ficou com a prata. Mesmo ano em que atingiu o primeiro lugar no “Top 101 Producers”, ranking feito pelo 1001 Tracklists que contabiliza os artistas com mais suportes do ano. Vintage também foi um convidado especial da turnê de retorno dos lendários Swedish House Mafia, abrindo os shows do trio em 12 países diferentes. E não podemos esquecer das residências em alguns dos clubs mais renomados no mundo, como o Space Miami, Hï Ibiza (eleito o Club nº 1 do mundo pela DJ Mag), e os nightclubs do Tao Group em Las Vegas (detendora do Hakkasan, Omnia, Marquee e outros).
Sonoridade brasileira conquistando o mundo
Mais um ponto essencial para o Brazilian Storm é o enorme reconhecimento que nossa cultura musical está conquistando dentro da cena eletrônica global.
Algumas tracks com identidades nacionais estão se destacando e rodando o mundo afora, com influências do MPB, Funk e até da música Afro-Brasileira.
O talentoso MAZ com o remix da track “Banho de Folhas” de Luedji Luna, furou a bolha da Dance Music, conquistando os corações de estrelas pop internacionais, como Drake e Anitta. Logo na sequência, o carioca uniu forças com Antdot para uma versão de “Todo Homem”, de Zeca Veloso, e alcançaram o #Top 1 de Organic House no Beatport em menos de 1 semana de lançamento.
Remetendo à ancestralidade africana, mesclando representatividade e sensibilidade musical, a DJ e musicista Curol tornou-se uma das maiores referências do Afro House nacional, sendo a primeira brasileira a apresentar um set exclusivo para o Soundsystem, programa de uma das maiores emissoras de rádio do planeta, a BBC Radio 1.
Um outro grande destaque é o catarinense Classmatic. Inspirado na sonoridade do funk carioca e latino-americana, o produtor já emplacou hits em labels gigantes do Tech House, como a Hot Creations e a Solid Grooves. Os suportes que ele acumula também impressionam: Carl Cox, Jamie Jones, Michael Bibi, Joseph Capriati, Roger Sanchez e Loco Dice são alguns artistas de renome que já tocaram suas tracks em sets.
@edmnomad Drake having a good time on @Maz RemixID: Maz, Luedji Luna - Banho de Folhas (Maz Remix)#maz #mazmusic #edmlife #edmlifestyle #edmnation #edmfamily #spinninrecords #hardwell #martingarrix #edmgirls #tomorrowland #djmag #edcorlando #dj #beatport #afrojack #marshmello #edclasvegas #edc #tomorrowland2022 #hardstyle #bigroom #ultramiami #edmnomad #thechainsmokers #tiesto #dondiablo ♬ Banho de Folhas (Maz Remix) - Luedji Luna & Maz (BR)
Consolidação de novos selos e espaços
Novas label parties nacionais e espaços voltados à música eletrônica têm descoberto a fórmula do sucesso na construção de marcas estruturadas, competentes e com enorme potencial de crescimento. Alguns ótimos exemplos são a BOMA, o Surreal Park e a ARCA.
A BOMA surgiu em 2018 como uma plataforma de conteúdo e lifestyle, sem se enquadrar em rótulos ou em uma linha de som específica. Com a missão de proporcionar experiências inéditas ao público, através de locais e atrações diferenciadas, a festa já passou pela Praça das Artes, em São Paulo, Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro e no Estádio Mineirão, em Belo Horizonte, reunindo artistas renomados, como: Kungs, Sonny Fodera, Chris Lake, Cassian, Yotto, Kölsch, Artbat, Peggy Gou e Bob Moses.
O Surreal Park, com apenas 1 ano de vida, já contou com apresentações de mais de 200 artistas icônicos do House ao Techno. Para além da música, o selo também expandir seus horizontes cada vez mais, tornando-se um complexo artístico que engloba arte, eventos sociais e corporativos e gastronomia.
Já a ARCA tornou-se um dos espaços de eventos mais consagrados de São Paulo para a indústria criativa. Focado em trazer experiências inéditas e inovação, o local tem sido palco de momentos únicos com grandes festas e apresentações históricas.
Não podemos esquecer de ressaltar a importância de festas como a ODD, Mamba Negra e Carlos Capslock, que se consolidaram como algumas das maiores protagonistas da cena underground e contracultura de São Paulo, quebrando paradigmas socioculturais, reforçando a essência da pluralidade das mais diversos tribos nas pistas de dança e valorizando a inclusão artística LGBTQIA+.
Artistas internacionais gigantes se apresentando pelo país
Os últimos dois anos foram marcados pelas apresentações de vários artistas icônicos em terras brasileiras. Espalhados pelos palcos dos maiores clubes e festivais do Brasil, como o Green Valley, Laroc, Ame, Warung, Só Track Boa, Rock In Rio e Lollapalooza, DJs de renome global contribuíram para reafirmar a força da cena nacional e abrilhantar de forma lendária o retorno dos shows ao vivo.
A lista é enorme e daria para fazer um line-up bastante eclético, já que os nomes agradaram a todos os públicos. Os fãs de EDM foram agraciados com Tiësto, Armin van Buuren, Martin Garrix, David Guetta, KSHMR, Steve Aoki, Kaskade, Deadmau5, Laidback Luke, Lost Frequencies, Alan Walker, Alesso e Hardwell.
Já os fãs de House e Techno foram presenteados com Diplo, Bob Sinclar, Claptone, Black Coffee, Jamie Jones, Lee Foss, Chris Lake, Fisher, Sonny Fodera, Solardo, Dom Dolla, James Hype, Malaa, Michael Bibi, Joris Voorn, Boris Brejcha, Dubfire, Sasha, The Martinez Brothers, Seth Troxler, Solomun, Dixon, Kevin Saunderson, Sven Väth, Joseph Capriati, Paco Osuna e outros.
E até os refinados para um som mais melódico/progressivo vibraram com RÜFÜS DU SOL, Eric Prydz (estreando no país com seu projeto Holo), WhoMadeWho, Meduza, Miss Monique, Korolova, Mind Against, Mathame, Stephan Jolk, Massano, Patrice Bäumel, Kasablanca e Tinlicker.
Chuva de festivais e labels retornando e estreando no Brasil em 2022:
Apenas no ano passado, nosso país presenciou a volta de eventos gigantes das mais variadas vertentes da música eletrônica, além de estreias incríveis que entraram para a história.
Tivemos o retorno de dois grandes selos do Techno global, o DGTL em abril (que contou com Amelie Lens, Innellea, Len Faki, Jan Blomqvist, The Blessed Madonna, I Hate Models e outras estrelas) e o Time Warp em maio (com Monolink, Bob Moses, ARTBAT, Maceo Plex, Nina Kravis, Kölsch, e muito mais). Além disso, o projeto londrino Boiler Room sediou sua 30ª edição em terras brasileiras, realizando também mais 8 festas em São Paulo.
Como se não fosse o suficiente, ainda rolou ‘debut’ de várias label parties incríveis na ARCA, como a Afterlife, de Tale of Us, em março (que além dos anfitriões, contou com Adriatique, Colyn, ANNA e Denis Horvat); a Defected, em abril (com John Summit, Gorgon City, Vintage Culture, Ashibah, Aline Rocha e Sam Divine); a Anjunadeep, liderada pelos respeitados Above & Beyond, em setembro (com Ben Böhmer, Eli & Fur, Franky Wah, Luttrell, Rigooni e Drelirium); a KNTXT, da belga Charlotte de Witte, em novembro (contando com Enrico Sangiuliano, Indira Paganotto, ONYVAA e Acid Asian); e a tradicional Drumcode, de Adam Beyer, em dezembro (tendo ainda Bart Skils, Eli Iwasa, Lilly Palmer, Wehbba e Layton Giordani).
E ainda vem muito mais por aí
Se você já achava o ano de 2022 incrível, 2023 promete superar ainda mais. Para este ano, temos a confirmação de rolês incríveis que irão mais uma vez impulsionar o Brasil para patamares extraordinários.
Apenas no primeiro semestre teremos novas edições da Afterlife, Time Warp, Warung Day Festival, XXXPerience, NAFF; a estreia do ZAMNA Festival, diretamente de Tulum, e do Navio Só Track Boa; além do retorno ao Brasil (após 6 anos) do Ultra Music Festival, um dos maiores festivais de Dance Music do planeta, que além de seus palcos tradicionais, terá um exclusivo para os talentos brazucas. Sem contar o carnaval, que com certeza irá convocar inúmeros DJs nacionais e internacionais para fazer parte das festas de rua deste ano, além, é claro, do Ame Laroc Festival e do S.O.M Festival.
Enquanto isso, no segundo semestre, o Brasil receberá o The Town (irmão do Rock In Rio que promete trazer grandes nomes da cena eletrônica), Green Valley Cruise (cruzeiro conceitual com programação pesadíssima), quarta edição do DGTL Brasil, tour da Só Track Boa por 8 cidades, em 7 estados diferentes e o Vintage Is A Festival, no qual Lukas Ruiz será o único artista no line-up. Por fim, o Tomorrowland, tido como o maior festival de música do mundo inteiro, fará um dos comebacks mais esperados de todos os tempos pelos fãs brasileiros.
O orgulho e o respeito pela música produzida por brasileiros é maior a cada dia que passa. Apesar disso, nossa cena ainda caminha a passos largos para conquistar o mesmo reconhecimento que os estrangeiros possuem. Mas se tem um momento crucial para darmos o devido valor que os DJs e produtores nacionais merecem, a hora é agora.
O ‘Brazilian Storm’ vai muito além de um movimento de artistas, envolve público, labels, promoters, managers, bookers, fotográfos, filmmarkers – toda a indústria de entretenimento ao vivo. Nós da Play BPM, como mídia especializada, nos orgulhamos de fazer parte disso e estamos ansiosos para contar diariamente a história que está sendo escrita na música eletrônica nacional.
Imagem de capa: divulgação.
Sobre o autor
Caio Pamponét
Graduando em jornalismo pela UFBA e Redator da Play BPM. Um apaixonado por música desde a infância que cultiva o sonho de viajar pelo mundo fazendo o que ama e conhecendo novas culturas. Com um desejo inerente de fomentar a cena eletrônica de sua terra - Salvador, BA, Caio Pamponét respira os mais diversos BPM's e faz da música o seu combustível diário.
Vitória Zane
Editora-chefe da Play BPM. Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música eletrônica <3