Keinemusik: muito além de um projeto musical, uma comunidade. Saiba tudo sobre os amigos que estão transformando a cena eletrônica mundial
- Por Caio Pamponét -
O Keinemusik é um projeto alemão criado em 2009, que se formou na cidade de Berlim. Muita gente pensa que se trata de um trio de DJs e produtores que lidera os charts de house/techno e roda o mundo de Ibiza a Los Angeles - mas vai MUITO além disso.
Composto por cinco membros - quatro DJs e uma designer gráfica, o grupo tem se estabelecido como um dos principais coletivos musicais da cena eletrônica global com sua gravadora e uma identidade sonora inovadora, única e extremamente refinada. Além de ser uma marca, Keinemusik é também uma crew, uma comunidade, um sentimento.
Sem se limitar a rótulos ou gêneros, seguindo um espírito relaxado e uma conexão inabalável de união, eles próprios se definem como sendo “amigos apaixonados por música que se divertem fazendo o que amam".
Para compreender a complexidade e a genialidade por trás do Keinemusik, precisamos conhecer cada uma das peças que fazem parte desse coletivo: &ME, Rampa, Adam Port, David Mayer, Reznik e Monja.
&ME (André Boadu)
No início dos anos 2000, tudo que André conhecia era o mundo do Hip Hop. Morando em Hamburgo, passando noites a fio mergulhado nos scratchs e em produções de rap, o artista percebeu que se sentia numa cena limitada e excludente. Mas foi em 2004, quando partiu em busca de terminar seus estudos como engenheiro de som em Berlim, que seu paladar musical mudou. Morar na “capital da música eletrônica” não poderia trazer um efeito diferente: André logo se envolveu em projetos de house e techno que rolavam no estúdio em que trabalhava. Foi lá que ele conheceu DJ Kaos, um veterano da cena local que o levou a desbravar a cena underground de Berlim, carregando André para os principais clubes da cidade, como Weekend, RIO e WMF.
A parceria de clubes também se estendeu para a produção musical. André agora era &ME, nome escolhido de maneira despretensiosa enquanto caminhava na rua e via um pôster com essa assinatura. Seu primeiro release foi um remix lançado com Kaos em janeiro de 2008 para a track “On The Run”, de Khan – hoje já são mais de 15 anos como produtor, tendo faixas em gravadoras como Kompact, Saved Records e Embassy One.
Além disso, &ME criou uma amizade com Fetisch, DJ local que o convidou para tocar frequentemente na boate Cookies e administrar sua pequena label tnt. A relação trouxe frutos, ajudando &ME a aprender mais sobre impressão de vinis e distribuição de discos.
Neste mesmo estúdio em que criou laços com Kaos e Fetisch, &ME conheceu Rampa.
Rampa (Gregor Sütterlin)
Conhecer a história de Rampa é entender a criação do Keinemusik.
Gregor tinha apenas 12 anos quando soube que o irmão do seu melhor amigo era DJ e tinha uma pick-up no porão da casa. Naquela idade, a sua diversão era um pouco diferente das outras crianças - ele passava horas tocando discos e andando de skate por Freiburg, Alemanha. Aprimorando seu repertório musical e suas habilidades na mixagem, Greg comprou seus primeiros vinis - de hard techno - e um mixer aos 13 anos. Aos 15, Greg já fazia alguns sons no FL Studio e adotava o nome Rampa (inspirado no escritor espiritual Lobsang Rampa).
A jornada do Keinemusik se inicia em 2004, quando Rampa vai a Berlim e começa a trabalhar no Trixx Studios, local onde &ME estagiava. A conexão foi instantânea. Ambos pegaram turnos noturnos e viravam noites fazendo música. Pouco tempo depois, eles conheceram Adam Port, Reznik e Monja, que compartilhavam do mesmo feeling musical. Foi aí que Rampa, num insight brilhante, decidiu criar o Keinemusik: um coletivo que tivesse uma identidade única.
Hoje Rampa é um mestre na produção musical. Em parceria com seu amigo Benjamin Fröhlich e inspirados pelo interesse comum à música e tecnologia, a TEILE foi lançada, sua própria empresa de equipamentos eletrônicos. A marca projeta desde ferramentas de mixagem e masterização até monitores e instrumentos, idealizados pela criatividade de Rampa e desenvolvidos à mão pela genialidade de Benjamin.
Com lançamentos em selos como Innervisions, Diynamic, Defected e Afterlife, Rampa é um integrante mais introspectivo, preferindo se jogar no estúdio do que rodar o mundo tocando em festas.
Desde antes do coletivo se unir em Berlim, Rampa tinha uma amizade próxima em Freiburg com o DJ e produtor David Mayer, outra peça fundamental do projeto.
David Mayer
Apesar de não ser mais um membro da atual crew, David Mayer é um dos fundadores do Keinemusik.
Depois de morar na Noruega durante a infância, envolto aos sons e melodias orgânicas da natureza e passar sua adolescência em Lanzarote, na Espanha, Mayer começou a escutar o Hip Hop dos anos 90 de nomes como Snoop Dogg e Ice Cube.
Desde os 14 anos, Mayer fazia música em seu quarto, mas não sabia por qual caminho seguir. Foi quando se mudou para Berlim, aos 20 anos, que sua mente abriu.
Com a liberdade artística e a diversidade cultural que a capital alemã proporcionou, o artista estreitou laços com Rampa e se entregou à cena techno berlinense. Nesse cenário, ele conheceu os outros caras do coletivo, aprendendo tudo que sabia sobre discotecagem e ganhando ainda mais experiência na produção musical.
Mayer tem uma sonoridade altamente experimental, puxada para um lado jazz, funky e soul dos anos 60 e 70, mas imersa em elementos do acid, tribal house e techno. É mais um que não se limita a rótulos.
Adam Port
Adam Port nasceu em Sopot, na Polônia, se mudando para Berlim na década de 80. Apaixonado por música deste sempre, ele ouvia de tudo quando jovem. Imerso na cena de Hip Hop, começou brincando de fazer scratchs e produzindo beats, até chegar um momento no qual não conseguia se expressar musicalmente somente com isso. Ao conhecer Rampa na vida noturna de Berlim, Adam logo se interessou por sons mais eletrônicos, e após ganhar uma versão crackeada do Cakewalk, ele se renovou. Apenas com um computador, sampleando kicks, hi-hats e outros elementos de seus vinis, ele construiu sua identidade sonora sob um aspecto essencial: ser vivo e orgânico – quanto menos soar puramente eletrônico, melhor.
Desde 2009, quando iniciou na produção musical e estreou na cena com seu single ‘Boogie Bass’, Adam vem se aperfeiçoando e fazendo um som cada vez mais singular, inspirado por músicas e gêneros que saem da sua zona de conforto, como o Dub, Dancehall, Soul e até Rock Psicodélico.
Instigado por fugir dos padrões, Adam sempre se sentiu na liberdade de produzir o que gostasse, passeando principalmente pelo house e disco music. Hoje, além de ser um excelente produtor, ele também é embaixador da Cartier, uma das joalherias mais cobiçadas do planeta, que mistura a essência francesa em luxo e artesanato. Antes mesmo de conhecer a crew completa, Adam Port já tinha uma sólida amizade com Reznik, outra figura essencial na construção do Keinemusik.
Reznik
Reznik é um ponto fora da curva dentro do Keinemusik.
Com uma infância recheada de influências variadas - do punk hardcore ao hip hop - ele só foi se interessar pela música eletrônica no fim dos anos 90, quando morou em Leipzig, cidade que preserva uma forte cena undergroud.
Certa noite, Reznik passou num clube fora do eixo eletrônico e viu um conhecido tocando discos e animando a pista, detalhe: o cara era baterista de uma banda de post-rock. Encantado com aquele desdobramento de gêneros, um interesse pela discotecagem floresceu nele.
Sua paixão pela música eletrônica chegou ao ápice em 2009, quando se mudou para Berlim, conhecendo Adam Port e posteriormente &ME, Rampa e David Mayer – parceria que resultou no keinemusik. Seu papel na crew é um pouco singular em relação aos outros: por ser um jornalista de profissão, Reznik lidera todo o trabalho editorial do projeto. Sua prioridade sempre foi com a imprensa, enquanto a discotecagem corria por trás e a produção musical nem sequer existia.
Porém, com o passar dos anos, Reznik começou a cuidar da gestão da gravadora e investir tanto na discotecagem como em produção. Sua carreira consistente como DJ o levou várias vezes ao Boiler Room, sendo um das figuras mais experientes do keinemusik nesse aspecto. Em 2019, iniciou seu projeto colaborativo com o amigo de longa data Good Guy Mikesh, mergulhando de vez na indústria musical.
Monja Gentschow
Monja é uma talentosa artista plástica de Berlim, tendo exposto seu trabalho em várias galerias de arte da capital alemã.
Em 2009, enquanto o grupo realizava uma residência no clube Picknick, Monja trabalhava de barman no mesmo local. Por coincidência do destino, a artista se tornou amiga próxima do coletivo. No momento em que ela mostrou seus desenhos para eles, a ideia de convidá-la para participar do Keinemusik foi iminente.
Desde então, Monja é responsável pelo conceito artístico do projeto, trazendo uma expressão visual especial às músicas da crew.
Para criar essa identidade única e distinta, a equipe se inspirou em algo com aspereza e abstração, mas também lúdico e imaginativo. Confira abaixo algumas artes de capas lançadas:
Experimentando diversos modelos ao longo dos anos, Monja já fez obras para discos, panfletos e merchandising, evoluindo sua arte à medida em que a discografia do coletivo também evolui.
Seu trabalho é tão impactante para o sucesso global do Keinemusik quanto as músicas que são lançadas e seus traços refletem uma contuidade estética, um mesmo espírito.
Por que 'Keinemusik'?
Um curiosidade interessante do coletivo é seu próprio nome. Para quem não sabe, 'Keine Musik', traduzido do alemão, é literalmente "sem música" - uma escolha exótica para quem trabalha justamente no cenário musical.
Segundo Rampa, a ideia surgiu do seu contexto familiar. A sua mãe costumava dizer que sons mais "barulhentos" - o techno, house, punk, hip-hop (ou seja, qualquer coisa que ela não gostasse), não era realmente música.
Brincando com a ironia, ele refletiu: "Minha mãe sempre tem razão! Então eu faço Keinemusik".
Os primeiros passos
Sem conhecer ninguém que pudesse lançar a música deles, o grupo juntou o pouco de conhecimento de mercado e os trocados que tinha para criar uma gravadora por conta própria. O início - assim como tudo na vida - foi difícil.
Distribuir e promover as músicas para que elas fossem ouvidas tornou-se o maior desafio da crew. Para financiar os primeiros discos, tiveram que tocar de graça e contar com o apoio de amigos para captar grana.
Apesar disso, tendo como vantagem uma sonoridade que a cena musical de Berlim não estava acostumada, a equipe decidiu investir com força na divulgação em redes sociais. Com o tempo, a marca ‘Keinemusik’ se destacava e uma base de fãs sólida era criada, impulsionada por um público engajado e participativo – um modelo de marketing que poucas gravadoras e DJs faziam naquele tempo (vale lembrar que tudo isso rolou no início dos anos 2010, época em que o mundo começava a conhecer o potencial da Internet).
Com o nascimento da gravadora, eles também começaram a promover suas primeira noites na cena underground de Berlim, ganhando visibilidade rapidamente e dando os primeiros passos do que viria a ser o movimento que é hoje.
A gravadora
Lá em 6 de março de 2009, David Mayer soltava o primeiro lançamento da gravadora Keinemusik - o EP Nacktenordner. Depois de lançar em formato digital, o grupo decidiu se jogar nas vendas de discos de vinil com seu segundo release, o EP "F.I.R" de &ME. Este que foi o primeiro lançamento da Keinemusik a chamar atenção e ganhar reconhecimento na cena eletrônica.
De lá para cá, já são 66 obras lançadas, sempre com originais e remixes dos fundadores da crew. Apesar de já ter 14 anos dentro do mercado musical, a label não lança tracks de artistas fora do coletivo pois, segundo eles, a intenção sempre foi ser uma plataforma de lançamento e divulgação de suas músicas, e não um selo.
Um fato muito interessante da gravadora é que, desde o princípio, eles se dedicam a fazer seus lançamentos da melhor forma possível, seja em formato digital ou vinil. Antes de chegar nas mãos dos fãs, os próprios artistas estampam, lacram e embrulham os discos lançados, tornando o processo ainda mais ‘artesanal’ e intimista - irado, não?
"De alguma forma, faz de cada disco algo pessoal. Saber que ele realmente já passou pelas nossas mãos simplesmente com amor"
Declarou Keinemusik em entrevista à revista alemã proudO espírito de união como peça-chave
Em todas as entrevistas que a galera do Keinemusik participa, um tema sempre está em destaque: o sentimento de união do grupo.
A cena eletrônica de Berlim, apesar de forte, era muito competitiva, faltava um espírito de comunidade - o Keinemusik surgiu para mudar isso.
Desde o princípio, todos estão no controle de tudo, tudo se decide em grupo. Cada membro tem voz e valor semelhante dentro do coletivo.
Não é loucura se a gente comparasse o Keinemusik a uma banda: eles produzem juntos, tocam juntos, viajam juntos, curtem rolês juntos. E mesmo com todo o sucesso individual, a atmosfera é sempre a mesma. Talvez esse seja o peça-chave para que o projeto tenha dado tão certo.
Autenticidade na música e na moda
Não podemos falar de Keinemusik sem destacar seu merchandising, que desde o início do projeto é um de seus elementos mais representativos.
Rampa sempre se envolveu num lifestyle alternativo, desde quando andava de skate pelas ruas de Freiburg até abrir uma loja para skatistas em Berlim. Essas raízes urbanas moldaram sua personalidade e trouxeram influências que estão presentes no seu projeto artístico atual.
Muito desse modo de vida foi herdado pelo Keinemusik, que explorou rotas paralelas à música e entrou no mundo da moda com um estilo streetwear marcante e criativo, bebendo também da cultura clubber alemã.
Em 2009, pouco tempo depois de criarem o coletivo, a crew conheceu os caras da Converse e da Nike, marcas gigantescas da moda. Mesmo sem ainda serem as estrelas que são hoje, o grupo colaborou com a Nike, no Nike Air Pegasus '89 "Berlin". O tênis, inspirado no aniversário de 20 anos da queda do Muro de Berlim, trouxe tonalidades acinzentadas, com toques de preto e roxo, junto com um Swoosh marmorizado que remete ao episódio histórico.
A parceria com a marca de calçados Converse rendeu mais um tênis exclusivo com a identidade Keinemusik. O One Star, feito especialmente para o lançamento do seu álbum ‘You Are Safe’ de 2017, trouxe uma camurça rosa suave, imitando a foto de capa da obra, sendo estampada com o número de lançamento da label: KM039.
Mas não foi só com calçados que Keinemusik se envolveu. A crew também trabalhou em cachecóis, camisetas, toalhas de praia e até mesmo isqueiros.
Reunindo desenhos sonhadores e psicodélicos, as roupas que Keinemusik faz collabs são de marcas que eles mesmos vestem, como a Public Possession e a Civilist, inspiradas pela pegada streetwear de Berlim e da cena noturna local.
Esse é mais um exemplo da importância de se ter identidade e autenticidade num conceito de um projeto. Um DJ pode ir muito além do fazer da música.
A experiência musical das apresentações
Fazer sets b3b foi um processo contínuo de conexão para o Keinemusik. Uma combinação que demorou um pouco para encaixar, mas que no final trouxe um resultado magnífico. A amizade íntima entre os membros e o senso estético comum ajudou o grupo a encontrar seu conceito, e hoje, seus sets são aclamados por toda a cena de música eletrônica, sendo um dos mais requisitados coletivos musicais do mundo.
"É uma vibe muito definida que tocamos e quase não importa se a música é mais pesada ou um pouco mais descontraída, elas carregam uma energia positiva semelhante"
Contou Adam Port à plataforma alemã Numéro BerlinDo Coachella ao Burning Man. Os caras do Keinemusik são ovacionados por onde passam. Uma das apresentações mais memoráveis da trajetória do projeto foi seu belíssimo long-set no art car Mayan Warrior do Burning Man, pegando um magnífico nascer do sol sob um som bem característico: melódico, orgânico, influenciado por elementos vocais e percussivos de várias culturas do planeta.
A construção e evolução sonora nos álbuns
You Are Safe (2017)
O primeiro álbum de estúdio do grupo foi resultado de uma construção sonora coletiva que durou por longos oito anos. Depois de lançar vários EPs, a crew acreditava que precisava de algo maior, que unisse a força de todo o grupo em prol de uma obra mais complexa que representasse o estilo 'Keinemusik'.
Combinando um conceito que se encaixasse tanto nas pistas de dança como num mood caseiro, "You Are Safe" chegou com inspirações bem variadas, resgatando elementos retrô e tribais, do R'n'B a música étnica africana, explorando melodias que elevaram a assinatura sonora e a expressão estilística do Keinemusik para um nível grandioso.
Send Return (2021)
Quatro anos após lançar o primeiro álbum, "Send Return" surgiu como produto da reclusão no estúdio durante a pandemia e refletiu mais uma vez a evolução criativa do Keinemusik.
Conservando sua identidade de house melódico, a obra também se aventurou por outros territórios, fruto de uma experimentação impecável. Por ser um álbum, o playground musical do formato proporcionou aos produtores um olhar expandido para além das pistas de dança, explorando outros subgêneros e ampliando sua paleta sonora tradicional. "Send Return" dissolveu fronteiras entre o Nu-Disco, Funk, synth-pop e breakbeat, e reforçou novamente a conexão do coletivo com sonoridades africanas.
Desta vez, vários artistas colaboraram no projeto, que contou com participação de nomes como Ali Love, Little Dragon, Nomi Ruiz, Sofie, Solomun, Starving Yet Full, Chiara Noriko, Bell Towers, RY X e Cubicolor.
Colaboração com o astro global Drake
Em junho de 2022, Drake lançava seu 7º álbum de estúdio, o “Honestly, Nevermind”. Com fortes influências da house music de Chicago e Detroit, a obra se tornou o disco de dance music com mais plays no dia do lançamento.
Dentre os artistas que colaboraram na produção do álbum, estão &ME e Rampa. Trazendo um deep house refinado sob os vocais de Drake, a track “Falling Back” estreou no Top #7 no chart global da Billboard, comprovando o talento dos produtores do Keinemusik em transformar tudo que tocam em ouro.
Além desse hit, ambos também se envolveram na produção de “A Keeper”, a quinta faixa do álbum.
Vinda ao Brasil e conexão com a cena nacional
Em 2020, no último carnaval pré-pandemia, nós tivemos um gostinho do que seria ver o Keinemusik em terras brasileiras. Adam Port e &ME fizeram um b2b inesquecível no Warung Beach Club e na D-Edge, conquistando o coração de uma legião de fãs e criando expectativas para a vinda do grupo completo.
A era Covid passou e a surpresa veio: &ME, Rampa e Adam anunciaram sua turnê inédita pela América do Sul no início deste ano, com datas no Warung (Itajaí) e Rio de Janeiro (no Museu do Amanhã), passando também por duas cidades da Argentina.
A crew vem apoiando bastante a cena eletrônica nacional, tocando tracks de House com uma pegada orgânica e melódica, como o remix de MAZ e Antdot para “Todo Homem”, de Zeca Veloso; a versão de MAZ que rodou o mundo para “Banho de Folhas” de Luedji Luna; além de dois suportes para o paulista Soldera.
@mazmusic_ Drake chilling backstage while Keinemusik is playing my remix of Banho de Folhas by Luedji Luna. Couldn’t ask for more! ❤️🥲 #drake #keinemusik #house #housemusic #edm #festival #dancemusic #electronicdancemusic #melodichouse #afrohouse #deephouse ♬ Banho de Folhas (Maz Remix) - Luedji Luna & Maz (BR)
Influência que reverberou no mundo gamer
Sam Houser, fundador da Rockstar Games, é um grande amante da música. Em uma de suas visitas à Ibiza, o criador do Grand Theft Auto (GTA) prestigiou uma apresentação de Keinemusik no Circoloco e se encantou pela vibe do grupo. Com o encontro, uma relação de amizade foi sendo construída.
Durante a pandemia, um convite inusitado surgiu para eles: fazer parte do game que jogavam quando eram adolescentes, o GTA.
E não estou falando só da tracklist. Além de ter suas faixas tocadas na rádio underground do jogo, em missões durante a história do game e no trailer oficial, a crew foi incluída como personagens do GTA V e GTA Online.
Na atualização de 2020 do jogo, encontramos três dos DJs (Adam Port, Rampa e &ME) sendo contratados para tocar numa festa na praia do Caribe.
Nesse mesmo ano, o coletivo começou sua residência virtual no clube Music Locker, tocando sets exclusivos apenas para os jogadores que estivessem online.
O que podemos aprender com Keinemusik
Diante de tudo isso, é possível extrair alguns ensinamentos desse projeto incomparável. Com seu instinto de diversificação sonora e sem seguir um rótulo específico, Keinemusik nos mostra que as melhores coisas vem da experimentação, da reinvenção.
Mesmo estando constantemente buscando maneiras de evoluir seu som, eles se mantém fiel a sua identidade.
Ser autêntico também é outro fator essencial para se construir uma comunidade artística como a de Keinemusik. Eles sabem exatamente como se conectar e dialogar com os fãs e outras marcas. Mesmo sendo "undergrounds", conseguem ser atrativos para qualquer público. Além disso, eles não têm medo de recusar o que não se encaixa ou foge de seu conceito, escolhendo qualidade em vez de quantidade, escolhendo fazer o que amam ao invés do que dá dinheiro.
Imagem de capa: Divulgação.
Sobre o autor
Caio Pamponét
Graduando em jornalismo pela UFBA e Redator da Play BPM. Um apaixonado por música desde a infância que cultiva o sonho de viajar pelo mundo fazendo o que ama e conhecendo novas culturas. Com um desejo inerente de fomentar a cena eletrônica de sua terra - Salvador, BA, Caio Pamponét respira os mais diversos BPM's e faz da música o seu combustível diário.