Anyma: Para além do duo Tale Of Us, saiba mais sobre o visionário que está transformando o futuro da indústria musical
- Por Caio Pamponét -
À medida em que a sociedade evolui, novas tendências surgem, tecnologias se desenvolvem, e as formas de se consumir arte também se transmutam. Mas mesmo que tenhamos vivenciado tantas mudanças, dificilmente encontramos criações pioneiras e inovadoras, que chegam realmente para moldar um futuro revolucionário.
Apesar de ser um episódio raro, de tempos em tempos surge uma figura para nos mostrar que não há limites que não possam ser superados através da criatividade, esforço - e um toque de genialidade.
Um novo projeto de música eletrônica, criado há pouco menos de 3 anos, tem se aproximado disso. Estou falando de ANYMA, a mais nova estrela do cenário underground do mundo.
Reunindo uma personalidade sonora própria que mistura elementos do Melodic Techno com o Progressive House em harmonia com um design visual de alto nível, ANYMA vai muito além de um "simples" DJ e produtor musical – é um conceito audiovisual vanguardista.
Com um experimentalismo brilhante, uma qualidade de produção impecável e uma sonoridade que se adapta à experiência musical do projeto, ele é hoje o maior hitmaker da cena Techno global. Ah, e você provavelmente já deve ter visto algum vídeo das projeções absurdas criadas por ANYMA que são presença confirmada nos shows de Tale Of Us.
Quer conhecer mais sobre esse artista que vem transformando o futuro da indústria musical e dos espetáculos ao vivo? Então vem com a Play BPM embarcar nessa viagem única, transitando pela trajetória do produtor, a relação com o Tale Of Us, as ideias iniciais da criação do projeto e o sucesso meteórico de ANYMA.
A figura por trás de ANYMA
Matteo Milleri. Provavelmente você já deve ter ouvido falar esse nome por aí. Isso porque Matteo é um dos integrantes da dupla Tale Of Us, que vem dominando o mundo da música eletrônica com sua label Afterlife, atraindo uma legião de fãs para a cena underground.
Com 34 anos de idade, a história de Matteo no mundo da música começou muito mais cedo do que imaginamos. Nascido nos Estados Unidos, em Nova York, mas expatriado para Itália ainda muito jovem, Matteo desde sempre manifestou sua paixão hipnotizante pela música. Apesar de iniciar seus estudos na área de Economia, o artista largou o curso para entrar na escola de engenharia de som (SAE Institute, em Milão) entre 2005 e 2006. Foi durante esse período que encontrou seu parceiro de longa data, Carmine Conte, com quem se conectou por meio do amor à música, gerando a união que resultaria em um dos maiores projetos musicais da atualidade.
A criação de Tale Of Us
Matteo cresceu ouvindo grandes influências da música eletrônica underground, como Aphex Twin, Autechre, além de mergulhar no estilo IDM (uma mistura de Ambient, Techno e Breakbeat). Aos 19 anos, o ítalo-americano tinha o costume de organizar pequenas festas chamadas ‘Just This’ em Milão, contratando artistas voltados para um “techno mais melódico” (na época não existia a definição concreta como há hoje), como Seth Troxler, para citar um exemplo. No entanto, o DJ e produtor percebeu que o lance de gerir eventos não era pra ele, Matteo queria mesmo era fazer música.
Começando pelo Logic, passando pelo Reason e depois o Cubase por cinco anos, Matteo se identificou realmente com o primeiro software. E aos 21 anos, entre 2009 e 2010, lançou suas primeiras tracks, voltadas para o House e o Minimal. Mas foi em 2011 que a virada de chave veio: a mudança para Berlim. Junto com Carmine, Matteo largou a SAE e foi para a capital da Alemanha (e também do Techno) para se dedicar 100% à música e ao seu novo projeto recém criado, que dispensa apresentações - o icônico Tale Of Us. Ambos relatam que a ideia da união foi algo realmente especial que iria muito além de simplesmente fazerem mais tracks de Dance Music. O sentimento era de que algo incrível estaria por vir, e eles não estavam errados.
Somando 13 anos de trajetória juntos, Matteo e Carmine se consolidaram como os precursores de um novo movimento dentro da cena eletrônica: o Melodic Techno. Entregando remixes memoráveis e hinos autorais icônicos ao longo da carreira, a dupla hoje também revela novos talentos através da curadoria musical minuciosa e estética experimental de sua label, Afterlife – que já não cabe mais no conceito de gravadora, sendo uma verdadeira odisseia musical.
Um novo projeto revolucionário
Destinado a explorar sua individualidade artística livremente e ter uma produção criativa em paralelo ao Tale Of Us, Matteo anunciou, em maio de 2021, que lançaria um novo projeto solo intitulado ANYMA. Muitos fãs hesitaram sobre o futuro da dupla, mas o artista deixou claro que o ANYMA viria para impulsionar ainda mais o projeto principal.
Pouco se sabia, até então, que o visionário Matteo já enxergava um futuro onde a música, a tecnologia e a arte digital se conectariam de uma forma jamais vista. Com o lançamento do ANYMA, a fusão de diferentes mundos e experiências em uma expressão criativa única estava sendo criada – muito além de um pseudônimo para lançar novas tracks, tratava-se de um conceito revolucionário.
Para definirmos melhor, nada mais ideal do que citar o próprio mentor do projeto:
‘Anyma é a minha autoexpressão criativa, misturando música, arte e realidades imersivas para explorar a próxima fase no reino da consciência. Criações físicas e digitais se fundem para tornarem-se um campo de experiência singular e esclarecedora”. - Matteo Milleri.
Versatilidade musical e coleção de hits
O ANYMA, com apenas três anos de criação, já acumula quase 2 milhões de ouvintes mensais no Spotify, sendo um dos maiores artistas do cenário underground atual, superando em números o próprio Tale Of Us (que detém 800 mil) e nomes estrelados, como Solomun, Boris Brejcha e Charlotte de Witte. Sua versatilidade sonora se prova em seu catálogo de lançamentos. O projeto já lançou em gravadoras bem distintas: além da Afterlife, também tem sonzeiras pela Rose Avenue, de Rüfüs du Sol, Little Idiot, de Moby, e Lenske, de Amelie Lens.
Um dos lançamentos mais inesperados e surpreendentes em sua discografia é o remix da faixa “Turn On The Lights again..”, do lendário trio Swedish House Mafia, em parceria com a revelação Fred again... Acompanhado de visuais estonteantes, a versão de ANYMA para a track foi mais um exemplo de que não há barreiras que não possam ser atravessadas pelo projeto, viajando entre diferentes cenários musicais e atraindo cada vez mais olhares do público geral para a música eletrônica.
A integração de NFT’s ao conceito artístico
Desde o princípio, Matteo sempre foi fascinado pelas oportunidades que o Metaverso abrange, e em como as futuras gerações experimentarão e perceberão música e arte. Convicto de que o mundo digital é um cenário em constante evolução e com um enorme potencial para os artistas promoverem uma experiência mais conectada e imersiva, o artista buscou investir nos NFT’s para agregar ao conceito artístico do ANYMA.
Para quem não sabe, os NFT’s são tokens digitais comercializados por centenas e até milhares de dólares na internet, originados lá em 2016, mas virando notícia em meio à pandemia, entre 2020 e 2021. São ativos únicos, um “registro” de um artefato digital, uma peça rara e original. Mais ainda, é um espaço muito interessante para que a arte possa ser apreciada e valorizada.
O ANYMA foi planejado justamente para usar os NFT’s como um de seus pilares essenciais. Em colaboração com o Builders Club, uma premiada empresa de produção criativa especializada em filmes, movimento 3D e narrativa interativa, a identidade visual e a experiência do projeto puderam ganhar vida.
À medida em que solta novas tracks, ANYMA também lança uma série de NFT’s no mercado digital, dando aos fãs a oportunidade de ganhar peças visuais magníficas, packs de remixes exclusivos e até mesmo parte dos royalties das músicas.
A história por trás das projeções audiovisuais
A primeira experiência de ANYMA no mundo dos NFT’s foi em sua criação "Claire". Além de lançar um EP com 3 tracks incríveis pela Rose Avenue Records, o produtor também colaborou com a artista digital, diretora de arte e cofundadora do IOR50 Studio, a italiana Giusy Amoroso, mais conhecida como Marigoldff. A união das duas talentosas mentes criativas gerou o que é considerado o primeiro videoclipe NFT em tamanho real em alta definição do mundo.
A peça rendeu o equivalente a 50 mil dólares, e não é loucura dizer que foi o marco inicial na redefinição do conceito de produção artística audiovisual e musical na indústria global.
Após isso, veio o EP “Running”, que foi transformado em um NFT chamado “Eva 0”, criado em parceria com Alessio De Vecchi, diretor visual do projeto, e Filip Hodas, diretor técnico do ANYMA.
Sua criação estreou no Printworks London, em novembro de 2021. Os visuais impressionantes e as sonzeiras de ANYMA começaram a rodar o mundo através de redes sociais como Instagram e TikTok.
O material digital foi vendido por 50 ETH, cerca de 222.500 dólares à época, além de ser exibido durante o Art Basel Miami, um dos eventos de arte moderna e contemporânea mais importantes do planeta.
Continuando com a parceria de sucesso, o NFT ‘The Pact’ foi o primeiro lançamento de 2022 de ANYMA e Alessio.
Simulando a tentativa de contato transcendental entre um ser místico (Adam) e uma androide (Eva), a arte foi vendida no mercado online SuperRare também por 50 ETH.
Para contemplar ao público uma experiência visual e sonora fantástica, e ao mesmo tempo retratar uma história, Matteo criou ainda os NFT’s “Simbiosi” e “Angel 1”, sendo o último acompanhado de uma collab com Innellea.
A arte de “Angel 1” estreou no icônico Afterlife São Paulo 2022, durante o set de Tale Of Us, e foi o desfecho de um grande projeto de 12 peças visuais diferentes.
Durante a narrativa, EVA é um androide, e cada visual produzido continha uma parte dela. “EVA 0” é a cabeça, “Simbiosi” tem o coração e “Angel 1” é onde todas as partes são combinadas e ela finalmente ganha vida.
Outra criação impressionante feita para o ANYMA foi o “Adam”, apelido carinhosamente dado em homenagem ao artista visual alemão Adam Priester, que começou a trabalhar com ANYMA e Alessio na metade de 2022.
Adam é um humanoide com superpoderes místicos e elementais. Ele tornou-se arte de 3 tracks nos sets de Tale Of Us, sendo uma delas o remix da lenda Eric Prydz para o hit "Consciousness".
Confere um pouquinho a insanidade desses visuais:
O encontro de Adam e Eva resultou no NFT chamado “The Fall”, estreado no The Ziggo Dome, em Amsterdã, ao final do ano passado. Acompanhado pela track “The Sign”, collab do duo com Camelphat, o visual mostra os dois personagens finalmente interagindo, mas logo perdendo o contato e se afastando lentamente.
Toda a grana arrecadada pelas vendas de NFT’s permite que Matteo e Alessio continuem trabalhando no projeto, além de viabilizar o financiamento de eventos futuros da Afterlife e completar os recursos visuais necessários.
O que esperar agora?
Para 2023, ANYMA apresentará um novo show audiovisual intitulado “GENESYS”, que poderá ser visto na segunda edição do Afterlife Brasil. O próprio produtor havia dito que lançaria um álbum com o mesmo nome em 2022, mas provavelmente adiou para este ano (esperamos que sim!).
Com seus mais recentes lançamentos, a collab “Eternity”, com Chris Avantgarde, e o remix para “Turn On The Lights again..”, de Swedish House Mafia e Fred again.., Matteo pegou uma dobradinha no topo do ranking principal do Beatport, a maior plataforma de música eletrônica da atualidade. Tendo duas tracks entre as mais vendidas da cena global, é de se esperar que daqui para frente venha mais uma sequência imparável de hits – há pelo menos 5 ID’s ainda não lançadas que já estão bombando nas pistas ao redor do mundo.
Ainda é incerto definir com convicção o tamanho do impacto que ANYMA provocará para as futuras gerações envolvidas na indústria musical e nos espetáculos ao vivo. Mas uma coisa é certa: ainda falaremos muuuito sobre ele.
Se você, assim como eu, foi conquistado pela experiência artística de ANYMA, não podemos esquecer que o projeto virá ao Brasil logo mais para a Afterlife São Paulo, que vai rolar no próximo fim de semana, nos dias 10 e 11 de março, na ARCA, em São Paulo, sendo uma oportunidade imperdível para apreciarmos esse espetáculo audiovisual único.
Imagem de capa: divulgação.
Sobre o autor
Caio Pamponét
Graduando em jornalismo pela UFBA e Redator da Play BPM. Um apaixonado por música desde a infância que cultiva o sonho de viajar pelo mundo fazendo o que ama e conhecendo novas culturas. Com um desejo inerente de fomentar a cena eletrônica de sua terra - Salvador, BA, Caio Pamponét respira os mais diversos BPM's e faz da música o seu combustível diário.