- Por Caio Pamponét -
A história da música eletrônica é enraizada pela contribuição imprescindível da comunidade LGBTQIA+. A presença dessa minoria na cena musical sempre se deu como forma de resistência aos padrões heteronomativos da sociedade - mas ela redefiniu decisivamente a indústria como um todo.
Imagine o que seria da nossa cena sem a força, criatividade e autoexpressão da comunidade LGBTQIA+? A cultura clubber, o House, a Disco Music, o lifestyle alternativo – tudo isso pavimentou a estrada para que a dance music se tornasse um dos maiores gêneros musicais do mundo.
Para além das pistas de dança, existe uma imensidão de artistas e profissionais envolvidos no cenário eletrônico global que, mesmo lidando com uma expressiva desigualdade de gênero, conseguem impor um enorme impacto cultural e levantar a bandeira da diversidade e representatividade.
Para celebrar esses símbolos de grande relevância, preparamos uma lista de 15 figuras LGBTQIA+ mais influentes da cena eletrônica mundial, de pioneiros a talentos atuais. Ah! E vale ressaltar que todas as vozes e indivíduos que impulsionam esse movimento são igualmente importantes para moldar a cena, portanto, estes são apenas alguns dos inúmeros nomes que contribuíram neste processo.
Frankie Knuckles
Considerado o "Padrinho da House Music", o lendário DJ e produtor Frankie Knuckles é um dos maiores pioneiros na história da dance music.
Desde quando iniciou sua carreira, na década de 70, Knuckles foi um das peças fundamentais a moldar a house music, gênero que se originou nos clubes gays de Chicago, EUA.
Abertamente homossexual, Frankie e sua música tornaram-se a trilha sonora da cultura clubber, com clássicos como "Your Love" e "Where Love Lives". Seu trabalho na cena eletrônica deixou um grande legado para o setor musical e sua figura é um dos símbolos mais significativos da representatividade LGBTQIA+ mundial.
The Blessed Madonna
Uma das figuras mais talentosas da nova geração da dance music. Marea Stamper, mais conhecida como The Blessed Madonna, é uma DJ, produtora e declaradamente bissexual.
Presente na cena eletrônica desde os anos 90, a artista ganhou notoriedade global ao trabalhar com Dua Lipa em 2020; comandar um programa na icônica rádio britânica BBC; ganhar um personagem no famoso game GTA; e estourar com sua collab "Marea (we've lost dancing)", com Fred again...
Além do talento artístico, Stamper também é produtora de eventos com seu coletivo Interdimensional Transmissions, que promove festas para a comunidade LGBTIA+, celebrando a diversidade e a inclusão.
Honey Dijon
A americana Honey Redmond é uma das mais influentes figuras trans da música na atualidade. Reconhecida por sua identidade musical que mistura a house music e o techno vanguardista, Honey teve como mentores nomes como Derrick Carter e Danny Tenaglia.
Seu talento na produção musical rendeu trabalhos com marcas como Louis Vuitton e Dior. Além de colaborar com Madonna, ela também produziu o álbum RENAISSANCE, da Beyoncé, ganhando um grammy e se tornando uma das únicas 8 artistas trans da história a conquistar o prêmio.
É evidente que ela utiliza de sua fama para aumentar a conscientização e defender os direitos LGBTQIA+, promovendo visibilidade e aceitação de indíduos trans na indústria musical.
Larry Levan
Larry Levan foi um dos DJs mais importantes na construção da cena de house e disco norte-americana. Residente do lendário Paradise Garage, em Nova York, o DJ era assumidamente gay e tinha uma identidade musical única, misturando gêneros como dub, soul e funk, contribuindo para redefinir o som da House Music.
Larry foi um dos artistas pioneiros a incluir drum machines e sintetizadores nos sets, sendo até hoje uma figura memorável na história da música eletrônica.
Além de ter uma enorme influência na cena club de Nova York, Larry também fazia parte da cena drag local, junto com Frankie Knuckles.
J. Worra
Jamie Sitter, mais conhecida como J. Worra, é uma emergente figura na cena eletrônica atual. Nascida e criada em Chicago, ela rapidamente foi influenciada pela essência da "capital da House Music" e hoje espalha o gênero pelo mundo afora.
Com quase 2 milhões de ouvintes mensais no Spotify, a artista abertamente lésbica já lançou por gravadoras como Higher Ground de Diplo, Dirtybird de Claude VonStroke e Realm de Gorgon City.
Seu prestígio na cena musical transborda também na luta pela igualdade de gênero, se envolvendo ativamente para inspirar e promover a comunidade LGBTQIA+ na cena eletrônica.
CloZee
A francesa Chloé Herry, conhecida por seu nome artístico CloZee, é uma figura de alto renome na cena de Bass Music mundial.
Com sua identidade experimental que transita entre o Trap, Dubstep e Future Bass, a artista já rodou o mundo com seu seu som característico, passando por festivais como Lollapalooza e Electric Forest.
Lançando sonzeiras desde 2012, CloZee também é dona da gravadora Odyzey Music e representa a comunidade LGBTQIA+ no cenário artístico.
Kaytranada
Louis Kevin Celestin é uma das figuras mais proeminentes da música eletrônica no cenário mainstream global. O super talentoso artista canadense Kaytranada une hip hop, soul, r&b, MPB e ritmos latinos para criar uma identidade sonora única - não é pra menos que ele tenha levado dois Grammys em 2021.
Assumindo-se gay em 2016, o artista simboliza hoje não só a representativade LGBQIA+ na música, como também o empoderamento negro no cenário cultural.
Com mais de 7 milhões de ouvintes mensais e quase 1 bilhão de plays no Spotify, o artista ultrapassou barreiras musicais, trabalhando com nomes como Kendrick Lamar, Chance the Rapper e Snoop Dogg.
GRiZ
Grant Kwiecinski se estabeleceu como um prodígio da Bass Music mundial com seu projeto GRiZ.
Anunciando sua homossexualidade em 2019 num artigo para o portal americano Huffington Post, ele vem conquistando os Estados Unidos com sua sonoridade singular que mistura jazz, soul funk e vertentes do Trap.
Para além do estúdio, GRiZ reflete seu talento nos live-sets, utilizando saxofone e vocais ao vivo em apresentações incríveis.
Rezz
Collabs com Deadmau5, Malaa e Zeds Dead, apresentações recorrentes no Lollapalooza, Coachella, EDC, Tomorrowland, e uma identidade extremamente autêntica. Essa é Isabelle Rezazadeh, conhecida como Rezz.
Sua linha de Bass Music única e seus icônicos óculos de LED fazem a jovem artista lotar as pistas por onde passa.
Desde 2013, Rezz vem provando ser uma das figuras LGBTQIA+ mais relevantes da cena eletrônica atual, trilhando um caminho de alta representatividade.
Moore Kismet
18 anos de idade, 4 anos de carreira, milhares de plays nas plataformas digitais. Omar Davis, ou "Moore Kismet", é um artista não-binário da Califórnia, EUA, e já pode ser considerado um dos prodígios de maior ascensão na cena eletrônica global.
A pouca idade não esconde suas conquistas: 3x consecutivas na lista da Billboard de maiores jovens astros da música; artista mais jovem da história a se apresentar no Lollapalooza e EDC Las Vegas; colaborações com a Apple Music e lançamentos pela Universal Music.
E como se não bastasse ser DJ e produtor musical, Moore também se aventura como roteirista, artista visual e dublador. É ou não é um verdadeiro talento?
Patrick Mason
Se você acompanha a cena techno, provavelmente já deve ter ouvido falar de Patrick Mason.
O vibrante artista alemão vem se destacando na cena underground com suas apresentações perfomáticas, curadoria musical refinada e uma energia surreal.
Patrick já se destacou em eventos como Tomorrowland, DGTL, Sónar, Time Warp, elrow, EXIT, Afterlife e Awakenings, para citar alguns.
Além de DJ, ele também já se aventurou como designer, influencer, cantor e diretor de criação - um verdadeiro multitarefas!
Tony De Vit
Um dos DJs ingleses mais importantes de sua geração. Tony de Vit é considerado um dos arquitetos do Hard House no Reino Unido.
Ganhando fama nos anos 80, quando virou residente do popular clube gay londrino Heaven e posteriormente do Trade, Tony tornou-se um dos nomes mais influentes da comunidade LGBTQIA+ britânica.
Conquistando vários prêmios como DJ, ele iniciou na produção musical na década de 90 e chegou a alcançar um Top#40 nas paradas musicais do Reino Unido. Dono de 2 gravadoras, Tony entrou para a lista dos "20 maiores DJs gays de todos os tempos", da renomada revista Vice.
Danny Tenaglia
Impossível falar de House Music sem citar Danny Tenaglia.
O nova-iorquino é dono dos hinos mais importantes e atemporais da dance music, como sua icônica "Music Is The Answer", que é sampleada até hoje por inúmeros DJs.
Assinando remixes para Madonna, Depeche Mode e Grace Jones, Danny já foi indicado ao grammy e carrega uma carreira lendária na cena de música eletrônica americana.
Sua influência na cultura clubber é imprescindível, sendo uma das figuras LGBTQIA+ mais importantes da história da dance music.
Offer Nissim
Hoje em dia o Tribal House é um dos gêneros musicais mais populares da comunidade LGBTQIA+ mundial. E, sem dúvidas, não temos como falar dessa vertente sem destacar Offer Nissim.
Responsável por diversos hits que ecoam pelas pistas do mundo inteiro, o Israelense acumula em seu extenso currículo parcerias com ícones pop, entre elas Madonna, Beyoncé, Donna Summer e Christina Aguilera.
Com passagens constantes pelo Brasil, Offer carrega a bandeira do orgulho gay por onde quer que vá.
&ME e Rampa
Para a surpresa de muitos, &ME e Rampa, do grupo Keinemusik, trocaram afetos recentemente e revelaram para o mundo que também fazem parte da comunidade LGTBQIA+.
Os artistas, que até então não comentaram publicamente sobre suas sexualidades, têm sido um dos nomes mais falados da cena eletrônica atual, alcançando patamares incríveis com sua identidade sonora única e extremamente inovadora.
Imagem de capa: Reprodução.
Sobre o autor
Caio Pamponét
Graduando em jornalismo pela UFBA e Redator da Play BPM. Um apaixonado por música desde a infância que cultiva o sonho de viajar pelo mundo fazendo o que ama e conhecendo novas culturas. Com um desejo inerente de fomentar a cena eletrônica de sua terra - Salvador, BA, Caio Pamponét respira os mais diversos BPM's e faz da música o seu combustível diário.