Cinco casos que mostram por que DJs sofrem mais de depressão do que artistas de outros gêneros musicais
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Como é a sua rotina de vida? Você já se imaginou vivendo a maior parte de seus dias de forma totalmente solitária? Infelizmente, a solidão é muito comum no dia-a-dia dos DJs. Isso porque além de o trabalho ser solo, ele também é solitário.E isso coloca esses profissionais como pessoas com mais tendências a depressão e sofrimentos psíquicos que artistas de outros estilos musicais. Entenda os motivos que levam ao quadro psicológico.
1. A tristeza e o vazio
Viver de forma solitária pode transformar o nosso humor, aumentando os níveis de tristeza. Esse sentimento que passeia pela angústia, tristeza, insuficiência potencializa o isolamento, gera solidão e, consequentemente, depressão. Um caso recorrente na vida dos DJs.
2. Artista solo é diferente de artista solitário
Ainda que em comparativo a outros artistas solo, como, por exemplo, o de artistas pop, a rotina de um DJ é ainda mais solitária. Isso porque artistas pop contam com toda uma equipe de apoio, que vai desde dançarinos a banda, além de maquiadores e produção. O DJ, quando muito, tem o acompanhamento de um manager, mas somente aqueles que já possuem uma carreira mais estabilizada financeiramente. O DJ não é somente solo, ele também é sozinho.
3. A vida dentro do estúdio
Veja atividades comuns na vida de DJs que eles executam de maneira solitária: Pesquisa para começar a produção de uma nova música; pensar quais elementos poderiam compor a nova criação; introduzir os elementos com ajuda de programas eletrônicos e não com a ajuda de músicos de carne e osso; turnê; apresentações. Basicamente, a rotina de um DJ ocorre dentro do estúdio. É ele e o computador. É basicamente. Ele e o Ableton. Trata-se de um trabalho de engenharia em que somente um único engenheiro é responsável pela obra.
4. Sozinho mesmo no palco
Isso me recorda de um episódio em que uma paciente estava em turnê, sem recursos financeiros para incluir um manager nas viagens. Em uma de suas apresentações, tanto o DJ que antecipou a sua apresentação quanto o que iria se apresentar na sequência eram estrangeiros, só se comunicavam em inglês. Minha paciente não fala inglês. Então, até no momento em que ela poderia ter alguma troca social, de poucos minutos, mas ainda assim uma troca, ela seguiu sozinha, sem nenhuma troca ao longo de toda a apresentação. Foi uma prática totalmente solitária.
5. A apresentação
Diferente de outros estilos musicais em que os shows costumam ser tomados por coros da plateia. Já em apresentações de músicas eletrônicas, é comum que o público fique mais introspectivo, curtindo as batidas de olhos fechados e movimentando o corpo com liberdade. Isso não quer dizer que essa maneira de aproveitar uma festa eletrônica seja um desrespeito com o artista, pelo contrário, isso mostra o poder das batidas, que faz com que as pessoas se conectem com o seu interior. No entanto, do ponto de vista do DJ no palco, isso pode ser angustiante e, novamente, solitário.
Sobre Lara Martinez
Mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, Lara Martinez é especializada em orientação analítica. Desenvolveu o Backstageminds, projeto brasileiro que oferece apoio psicológico para profissionais da música eletrônica. O Backstageminds surgiu após Lara ser convidada para palestrar na Warung School, renomada escola de DJs. A partir de então, ela começou a pesquisar mais sobre a saúde mental da área. Não encontrou muitas referências no Brasil e decidiu, então, fundar o projeto, que será objeto de estudo de seu doutorado na Universidade de Porto, em Portugal. Seu trabalho consiste em compreender o cenário da música eletrônica e, a partir do estudo, elaborar atendimentos especializados para artistas e produtores de tais eventos. Além disso, fornece workshops para funcionários de bares e clubes noturnos. Trabalha também sob o viés antiproibicionista e de redução de danos.
Imagem de capa: Reprodução.
Sobre o autor
Lara Martinez
Mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, Lara Martinez é especializada em orientação analítica. Desenvolveu o Backstageminds, primeiro projeto brasileiro a desenvolver apoio psicológico para profissionais da música eletrônica.