Afterlife São Paulo: uma experiência inenarrável e histórica para a Dance Music no Brasil
Surreal. Inenarrável. Épico. Perfeito. Indescritível. Memorável. Absurdo. Histórico. Essas são algumas palavras usadas para descrever o que foi vivido no Afterlife São Paulo, que aconteceu nos dias 11 e 12 de março de 2022, na Arca Spaces.
Antes de mais nada, voltemos um pouco para dois anos atrás. Era março de 2020, um mar de incertezas invadia o mundo. O ano havia acabado de começar para nós, afinal de contas, é só depois do carnaval que isso acontece. E o evento que mais esperávamos após a folia era justamente o Afterlife, label italiana que faria seu debut em terras tupiniquins no dia 14 daquele mês. No entanto, como sabemos, não foi bem assim que as coisas aconteceram. Muito pelo contrário, o Covid-19 chegou chegando, cancelando, adiando, mudando tudo e, então, tivemos o primeiro grande evento embargado, e o sonho de ver o homem de cabeça para baixo teve que ser colocado em banho maria.
Dali pra frente, o resto é história. Notícia vai, notícia vem e assim vivemos os últimos 730 dias, agarrados na certeza de que, quando possível, o que aconteceria seria INEXPLICÁVEL. E realmente foi.
O momento chegou, e com ele, podíamos sentir a expectativa, a saudade, a vontade e a energia que invadia cada ser presente no espaço amplo e imersivo da Arca. Do lado de fora já era possível perceber o grave ressoando em todas as moléculas do corpo, o que se maximizou uma vez dentro do espaço, onde o BPM elevado invadia o corpo antes que qualquer som pudesse ser ouvido das caixas. Era o coração acelerado, palpitando de ansiedade para viver aquilo que há tanto esperávamos.
Ao entrar no evento e ver toda a estrutura montada, especialmente a marca registrada do selo - o homem de cabeça pra baixo -, a primeira sensação foi: É REAL. CHEGAMOS, PORRA!
Denis Horvat, na sexta-feira, já estava martelando a nossa mente, sem dó nem piedade. Warm up set? Imagina! Com dois anos de espera, já havíamos tido aquecimento o bastante. O croata apresentou toda sua sonoridade melódica e profunda, guiando a nossa brisa desde o primeiro momento em que pisamos no local até quando passou a controladora para seu sucessor no primeiro dia, e antecessor no segundo, Ewout Colyn.
Em seguida, Colyn mostrou a que veio, entregando tudo e mais um pouco com um set emocionante, alinhado com o que era esperado do holandês que, na mesma semana do Afterlife, teve sua estreia no Cercle e deixou todos de queixo caído com uma apresentação impecável gravada na Índia. Nos dois dias, vale ressaltar a energia da pista quando o DJ e produtor lançou a braba: seu remix para “Hollow”, de Armin van Buuren. Era possível sentir todos em êxtase ouvindo aquela música que fez tão parte de momentos difíceis durante o ano pandêmico que vivemos em 2020. Colyn definitivamente não estava para brincadeira - e nós amamos.
Muitos esperavam por ela. Não havia certeza de que sonoridade seria apresentada. Mais melódica? Mais pesada? Essas perguntas foram respondidas a partir do primeiro kick da dona do Brasil, ANNA, que - sem risadinha - fez todo mundo entrar em um estado de expurgamento e catarse, passando o famoso rolo compressor em cima da multidão. O sorriso estampado em seu rosto era visto do front ao back, a brasileira exalava uma felicidade digna de estar, em sua terra natal, em cima daquele palco tão importante. Literalmente pulando e saltitando com seus cabelos pretos esvoaçantes, a risadinha de canto de boca refletia o que ela sabia que estava fazendo conosco: éramos marionetes de seu som. Ali ela podia fazer o que quisesse, que iríamos acatar. E assim foi até o final do set, acompanhado da certeza de que somos, realmente, “Forever Ravers”.
Após bagunçar a nossa mente - no melhor sentido possível - parecia uma missão impossível para Adriatique receber o comando da CDJ, mas os suíços mostraram que James Bond não é nada perto deles. Com um set progressivo, começando mais “tranquilo” (bem entre aspas) e terminando com maestria, os Adrians nos levaram a uma viagem para um lugar onde só existia o aqui e o agora. Era possível perceber todos em estado de choque: “o que esses caras estão fazendo?”. “Que sonzera é essa?”. “Eu não estou entendendo nada!”. Essas eram algumas expressões ouvidas na pista. Com um set recheado de IDs e emoção, não há como não falar sobre o remix absurdo de “Hey Now”, de London Grammar, que fez todo mundo entrar em um estado contemplativo de pura gratidão e alegria, e também da track unreleased de Adriatique e Marino Canal, “Sins Of My Desire”, cujo refrão expressa “TOGETHER WE GO HIGHER”. Olha, se não é sobre isso, não se sabe sobre o que é!
Quando você pensa que não há como melhorar, os donos da porra toda chegam e mostram que ÔÔÔ SE DÁ!!! Nessa hora, a pista já estava fervorosa, a madrugada chegava ao seu ápice e ali, sabíamos que era um caminho sem volta. Tale Of Us entrou elevando o estado de consciência de todos com uma intro para ninguém colocar defeito. Enquanto “Consciousness” tocava, o painel de LEDs mostrava imagens do corpo de cabeça para baixo como um convite para que embarcássemos todos para uma viagem, com destino final ao desconhecido, ao depois da vida. Era como se anjos nos recebessem no portal que abre entre as nuvens, nos envolvendo no paraíso daqueles instantes.
A cada break e a cada drop, os olhos estavam atentos à aula que Matteo e Carmine davam ao vivo e a cores. Nós, os alunos, estávamos concentrados, tomando nota em nossos cadernos mentais de tudo o que acontecia naquele galpão. Os sorrisos eram distribuídos gratuitamente, os olhares se cruzavam incrédulos com aquela experiência, e a música ressoava em nossos corações de uma forma mágica. Desde o nome do projeto, ao nome do selo, o que Tale Of Us faz é contar histórias, e assim foi feito nos dias 11 e 12 de março. As projeções, as luzes, as músicas. Tudo fazia parte de um grande conto, um conto que nos acompanhará para sempre, do mundo material ao mundo espiritual, do tangível ao intangível, nesta vida, e DEPOIS DESTA VIDA.
Tudo passa, e o que fica são as memórias e a saudade. Quando esses dois dias chegaram ao fim e pudemos assimilar o que havia acontecido naquelas 48 horas, o coração estava quentinho inundado de novas lembranças para guardar na memória. A vida é feita de momentos e viver este em específico foi um privilégio. Estamos vivos. Estamos nas pistas novamente. A música nos une e nos conecta.
Obrigado, Afterlife, pela experiência de fazer com que nos sentíssemos vivos novamente. Depois da vida, com certeza existe muita música e é para lá que nós vamos! Nos vemos em 2023!
Sobre o autor
Cissa Gayoso
Sendo fruto do encontro de uma violinista com um violonista, a música me guia desde sempre e nela encontrei a família que escolhi para chamar de minha. A partir de 2021, transformei minha paixão em profissão e, desde então, vivo imersa nas oportunidades e vivências que este universo surpreendente da arte me entrega a cada momento! De social media à editora-chefe da Play BPM, as várias facetas do meu ser estão em constante mudança, mas com algumas essências imutáveis: a minha alma que ama sorrir, a paixão por música, pela arte da comunicação, e as conexões da vida que fazem tudo valer a pena! 🚀🌈🍍