O dia em que chorei conhecendo o melhor clube do mundo: um review do coração sobre o Greenvalley Weekend
Quando gostamos muito de algo, alguns momentos específicos ficam marcados na memória e no coração de um jeito muito especial. Já que esse é um portal sobre música eletrônica, aqui temos como exemplos: a primeira vez vendo ao vivo seus artistas preferidos, a vivência em grandes festivais, quando uma música nos emociona na pista de dança, viagens para curtir determinados eventos e, nesse caso, a primeira vez conhecendo um dos melhores clubes do mundo, o Greenvalley, em Camboriú, Santa Catarina.
Muito além de fazer meu debut na casa eleita 5 vezes a Nº 1 do planeta, a experiência que vivi superou toda e qualquer expectativa devido a um conjunto de fatores que começam, como tudo nesta vida, pela conexão entre pessoas incríveis.
Ao lado de outras referências na música eletrônica, a Play BPM foi convidada pela equipe do GV para cobrir e curtir o Greenvalley Weekend, que aconteceu nos dias 29 e 30 de abril de 2023, com aberturas que contaram, no sábado, com a presença de Rigooni, Valdovinos, Sébastien Léger, Lee Burridge e Facundo Mohrr, em uma noite de sonhos com a label “All Day I Dream”, e no domingo, com os incríveis Antônio Oliva, Marsellie, Maga e Guy Gerber, onde testemunhamos uma grande virada de chave na dance music brasileira.
Antes de falar sobre a grandeza do que significaram esses dois dias para o público, a casa e a cena eletrônica como um todo, é preciso exaltar a hospitalidade de toda a equipe do GV para com a imprensa. A nossa experiência começou muito antes do momento de pisarmos em solo catarinense, com a atenção, valorização, cuidado, respeito e carinho com que fomos tratados desde o convite. Muito além de passagens e hospedagens, recebemos o olhar atento de cada membro da família Greenvalley para o nosso trabalho e, acima de tudo, para nós enquanto seres humanos, e isso foi só o prefácio do que se tornaria uma história inesquecível. Então antes de mais nada, nosso MUITO OBRIGADO por tudo!
Agora sem mais delongas, comecemos o review! Se você já foi ao Greenvalley, saberá exatamente do que estou falando, e se você ainda não teve essa oportunidade, vem comigo que eu vou te levar para lá com a imaginação. Entrar no GV é como entrar em uma floresta encantada, digna de contos de fadas. Já em seus primeiros centímetros quadrados, dá pra sentir que a casa possui uma energia ímpar, enquanto seus arredores são tomados por muita natureza: um verdadeiro vale verde.
Tendo sido reconstruído após um ciclone que colocou abaixo suas estruturas, o Greenvalley, como uma fênix, representa a resiliência de algo que, das cinzas, arde em fogo e se reconstrói mais forte de nunca. Cada detalhe do clube reflete o nível de atenção e amor de quem está por trás de sua concepção. E quando eu falo em detalhe, eu quero dizer desde o ícone diferenciado que identifica o banheiro enquanto feminino ou masculino até a forma como a família GV lida com tudo e com todos. E eu ainda nem comecei a falar sobre os espetáculos musicais, visuais e estruturais que o clube entrega.
Talvez seja por isso que, já impressionada com a “simples” entrada do local, quando efetivamente cheguei à pista, não contive as lágrimas. Sim, rolou uma emoção FORTE ao pisar naquele lugar tão cheio de histórias, sets memoráveis e desafios superados. Um espaço pensado aos mínimos detalhes, que representa muito para a cena eletrônica, ao lado de pessoas que eu amo, tendo o privilégio de mesclar paixão e profissão. Foi um verdadeiro mix de sentimentos olhar para aquele teto e agradecer por tantas metamorfoses vividas nos últimos tempos, simbolizadas pela borboleta, tão presente na minha vida quanto na do clube. Não à toa, é sobre metamorfoses que esse review também fala, uma vez que, em mais uma de suas grandes transmutações, o GV Weekend representou, como já mencionado, uma mudança de chave enorme na história do clube - e consequentemente na cena eletrônica regional e nacional como um todo - uma vez que o Greenvalley sempre foi conhecido por sua curadoria musical comercial e, a partir de agora, está apresentando novas - e quiçá mais "maduras" - possibilidades sonoras aos fãs.
Chegando ao seu 16º ano de existência, o Greenvalley apostou em uma curadoria musical diferente do que o acostumado nos últimos tempos, na intenção de apresentar ao público uma sonoridade distante da "comercial" comumente presente em suas aberturas. E assim o fizeram com maestria no último fim de semana.
Com uma estética bucólica acompanhada de sons orgânicos e mais “viajantes”, a label “All Day I Dream”, de Lee Burridge, realmente faz jus ao nome, trazendo a vivência de um sonho para as pistas de dança. Com o warm-up do brasileiro Rigooni, artista que, pasmem, viajou pela primeira vez de avião para a gig no GV e entregou um dos melhores sets da noite com um repertório 100% autoral, seguido de Valdovinos, o evento começou dando indícios de que realmente faríamos parte de uma viagem mais "básica" e melódica, menos “explosiva”, com foco total na música, o que casou muito bem com a decoração do clube e a vibe do fim de semana.
Ainda na crescente, Sébastien Léger apresentou uma construção incrível e foi, na minha opinião, o DJ da noite, com um set envolvente e cheio de personalidade. O nome por trás do selo, Lee Burridge entrou na cabine para fazer sua magia. Com uma presença de palco única - se você não conhece, aproveite para conhecê-lo e ver o amor com o qual ele toca, tirando como exemplo sua apresentação no Cercle - o artista abaixou o BPM em relação à Léger, mas ainda assim entregou, como de costume, toda sua alma na performance, fazendo o público sonhar seu sonho. Por último, Facundo Mohrr comandou a CDJ para finalizar a noite com chave de ouro, que logo se transformou em dia, e pude, pela primeira vez, viver o famoso “BOM DIA, GREENVALLEY”.
No domingo, ainda incrédula com a majestosidade do clube e ansiosa para viver mais uma noite mágica por lá, Antônio Oliva abriu a pista do GV com uma sonzeira que foi o prelúdio perfeito para os momentos inesquecíveis que viveríamos nas horas seguintes. O duo brasileiro composto por Júlio Torres e Sarria, Marsellie subiu à cabine dando um show de talento e presença. Com direito à vocais ao vivo de Sarria e um pulo na galera durante a apresentação, Marsellie mostrou porque é um dos projetos mais promissores do país, dado sua qualidade musical, estética única e genuinidade dentro e fora das pistas. Em seguida, o francês Maga entregou seu som melódico e intenso ao comandar a cabine, preparando, com muita qualidade e expertise, o terreno para a chegada de Guy Gerber, o cara da noite.
Como colocar em palavras as 4 horas que vivemos sob a trilha sonora do israelense? Dizem que para se tornar uma referência em algo, é preciso acumular 10 mil horas de experiência naquilo e, então, o que se segue é simplesmente um estado de “flow” no exercer de determinada habilidade. Isso é o que me vem à mente ao relembrar o set de Gerber: FLUIDEZ. Totalmente entregue, o que era perceptível não somente pelo que ressoava nas caixas de som, mas também por sua expressão corporal e facial, Guy Gerber deu uma verdadeira AULA para os presentes no Greenvalley Weekend. Com uma construção de set de quem sabe - e sabe muito - o que está fazendo (e sem dúvidas já ultrapassou as tais 10 mil horas), o artista nos fez dançar sem parar do início ao fim, com sons que trazem referências de toda sua vivência pelos quatro cantos do planeta. Para os admiradores desse tipo de sonoridade, talvez ainda incompreendida por parte do público brasileiro no geral, os comentários foram desde: “esse é o melhor set que escuto no GV há mais de 10 anos!”, até: “pelo amor de Deus, vamos fazer uma vaquinha pra ele continuar tocando porque não dá pra viver depois disso!”.
Em um momento artístico marcado por grandes efeitos, visuais cada vez mais complexos e inteligência artificial, retornar à simplicidade de “apenas” ouvir música de altíssima qualidade é um grande privilégio, e ter a honra de assim fazê-lo pela arte de um verdadeiro maestro como Guy Gerber é um daqueles momentos para se guardar com muito carinho no lado esquerdo do peito.
Nem nos meus sonhos mais mirabolantes eu imaginei conhecer o Greenvalley nas condições em que conheci, ouvindo os artistas que ouvi e fazendo parte de um momento que, sem dúvidas, ficará marcado na história do clube e da música eletrônica como um todo, sendo isso pauta até para um outro artigo! Portanto, finalizo esse review apenas agradecendo! À toda família Greenvalley, aos amigos com quem compartilhamos esses momentos, aos artistas responsáveis pela trilha sonora do fim de semana e, é claro, à música eletrônica, por proporcionar tanta conexão com seres humanos incríveis! Não temos nem palavras para tudo que vivemos! E fica a dica: se você não conhece o Greenvalley, não deixe de colocar o clube em sua lista de desejos porque o clube é realmente TUDO ISSO!
Imagem de capa: divulgação Adriel Douglas.
Sobre o autor
Cissa Gayoso
Sendo fruto do encontro de uma violinista com um violonista, a música me guia desde sempre e nela encontrei a família que escolhi para chamar de minha. A partir de 2021, transformei minha paixão em profissão e, desde então, vivo imersa nas oportunidades e vivências que este universo surpreendente da arte me entrega a cada momento! De social media à editora-chefe da Play BPM, as várias facetas do meu ser estão em constante mudança, mas com algumas essências imutáveis: a minha alma que ama sorrir, a paixão por música, pela arte da comunicação, e as conexões da vida que fazem tudo valer a pena! 🚀🌈🍍