Por Cissa Gayoso
Milhares de pessoas reunidas na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro para acompanhar o show de um artista brasileiro que conquistou o mundo. Fogos de artifício, drones voando no céu. Reunião das Escolas de Samba da capital carioca. Parece a descrição de um cenário de Réveillon, não é mesmo? Mas não. Era o “Show do Século”, de Alok, em comemoração ao centenário do Belmond Copacabana Palace.
Na terra do Samba, do Carnaval e do Futebol, o que significa a música eletrônica invadindo a orla mais famosa do país, reunindo uma multidão de fãs e recebendo apoio do governo para tal? Uma mudança de paradigma? A democratização da dance music? A quebra de preconceitos diante da vertente? Tudo isso junto e misturado? Acho que sim!
Palco de artistas como Rolling Stones, Anitta, Caetano Veloso e tantos outros gigantes da música nacional e internacional, a Praia de Copacabana é um símbolo que vai muito além dos mosaicos de sua orla, e quando alguma representação artística ganha espaço em suas areias, pode-se dizer que essa “chegou lá”!
E é esse o sentimento que fica após o show gratuito de Alok para milhares de pessoas que, mesmo embaixo de uma chuva torrencial, se reuniram em frente ao tradicional hotel para curtir o show. A música eletrônica chegou lá!
Importada de países europeus como Holanda e Alemanha, e também dos Estados Unidos, a música eletrônica não exala Brasil como as músicas popularmente brasileiras, mas não é de hoje que uma mudança nesse cenário tem sido vista, com a popularização do gênero. Cada vez mais artistas nacionais são revelados, mais festas e festivais se consagram no país e a cena se fortalece como um todo.
Para aqueles que têm a dance music como gênero favorito, acompanham a cena e se consideram especialistas em vertentes x ou y, aqui vale reforçar que o que Alok faz vai muito além de explorar uma sonoridade ou outra. O artista brasiliense acessa o povo. Povo esse que está acostumado com o Funk, o Sertanejo, o Samba e a MPB. Dessa forma, o DJ e produtor apresentou um set que conversou com os presentes. Mesclando seus hits com clássicos da música eletrônica, introduzindo batidas de Techno em alguns drops, promovendo a intersecção entre a dance music e a música brasileira, apresentando seu projeto com os povos originários e homenageando o funk carioca, Alok mostrou seu amor pelo país, pela música e pelas possibilidades existentes em qualquer forma de arte.
Foram cerca de 2 horas e meia de show, sendo a primeira metade focada em mashups entre suas músicas autorais, como “Deep Down” e “Fuego” e tracks atemporais como “Reload” e “Astronomia”; a apresentação de duas tracks bem brazucas, acompanhadas de 120 ritmistas e passistas das escolas da samba do grupo especial do Rio de Janeiro, que subiram ao palco e deram um show à parte; e um final marcado por produções que exaltam o Brasil, como sua música feita ao lado de indígenas e um “manifesto” ao lado de Zeeba, além de homenagens ao funk carioca e ao funkeiro Mc Marcinho, falecido na última semana.
Assim como em qualquer outro grande evento deste porte no Brasil, o show teve seus imensos pontos de contraste: o povo humilde diante de um hotel extremamente luxuoso; os efeitos especiais de luzes e pirotecnia versus as sirenes dos camburões da polícia; episódios de confusão e arrastões; e outros problemas que aparecem quando uma grande quantidade de pessoas se reúne em um evento gratuito no coração da cidade do Rio de Janeiro.
No entanto, o foco aqui não é discutir questões de políticas públicas nacionais, mas sim marcar a importância deste momento para a música eletrônica nacional. Independente de sonoridade, o que aconteceu no último sábado (26) vai muito além de gosto pessoal de cada um, vai muito além do próprio Alok. É uma porta que se abre para um gênero tão inundado de preconceitos por parte não somente da população, como também das autoridades, que tanto embargam eventos e empacam a realização de muito daquilo referente à música eletrônica em nosso país.
Diante das adversidades climáticas, talvez esse não tenha sido, de fato, o “show do século” em números e repercussão, mas, sem dúvidas, representa o início de novas possibilidades para o futuro da música eletrônica no Brasil. A tempestade brasileira ("Brazilian Storm") - literal e figurativamente - chegou chegando, e o que nos aguarda parece cada vez mais promissor!
Das cabines dos principais palcos mundo afora às areias da Copacabana, a dance music brasileira está mais forte do que nunca. E enquanto o beat estiver ecoando das caixas de som, não vamos parar!
Imagem de capa: Filipe Miranda
Sobre o autor
Cissa Gayoso
Sendo fruto do encontro de uma violinista com um violonista, a música me guia desde sempre e nela encontrei a família que escolhi para chamar de minha. A partir de 2021, transformei minha paixão em profissão e, desde então, vivo imersa nas oportunidades e vivências que este universo surpreendente da arte me entrega a cada momento! De social media à editora-chefe da Play BPM, as várias facetas do meu ser estão em constante mudança, mas com algumas essências imutáveis: a minha alma que ama sorrir, a paixão por música, pela arte da comunicação, e as conexões da vida que fazem tudo valer a pena! 🚀🌈🍍